A Pessoa de Cristo
O
Cristianismo bíblico afirma que Cristo possui duas naturezas, que ele é tanto
divino quanto humano. Ele existe com Deus o Pai na eternidade como a segunda
pessoa da trindade, mas tomou a natureza humana na ENCARNAÇÃO. O que resulta
disso não compromete ou confunde a natureza divina com a humana, de modo que
Cristo é totalmente Deus e totalmente homem, e permanecerá nessa condição
eternamente. Às duas naturezas de Cristo subsistindo em uma pessoa dá-se o nome
de UNIÃO HIPOSTÁTICA.
Algumas pessoas
alegam que essa doutrina gera uma contradição; contudo, antes de
providenciarmos respaldo bíblico para essa doutrina, vamos primeiro defender
sua consistência lógica.
Recordemos nossas
primeiras discussões sobre a Trindade. A formulação doutrinária histórica da
Trindade diz: “Deus é um em essência e três em pessoa”. Essa proposição não é
contraditória. Para haver uma contradição nós precisamos afirmar que “A é
não-A”.
Em nosso caso, isso se traduz assim: “Deus é um em essência e três em
essência”, ou “Deus é um em pessoa e três em pessoa”. Afirmar que Deus é um e
três (não um) ao mesmo tempo e num mesmo sentido é contradizer-se. Porém, nossa
formulação doutrinária diz que Deus é um em um sentido e três em um sentido
diferente: “Deus é um em essência e três em pessoa”. Além disso, embora cada
uma das três pessoas componha de forma completa um único Deus, a doutrina não
se torna um triteísmo desde que ainda haja um único Deus e não três.
A “essência” na
formulação acima se refere aos atributos divinos ou a cada definição de Deus,
tanto que todas as três pessoas de Deus preenchem completamente a definição de
deidade. Mas isso não implica em um triteísmo porque cada definição de deidade
inclui o atributo ontológico da Trindade, de modo que cada membro não é um Deus
independente.
O Pai, o Filho, e o Espírito são “pessoas” distintas porque
representam três centros de consciência dentro da Divindade. Portanto, embora
os três participem completamente da essência divina de modo a formarem um
[único] Deus, esses três centros de consciência resultam em três pessoas dentro
desse único ser Divino.
De modo similar, a
formulação doutrinária da pessoalidade e encarnação de Cristo diz que ele é um
em um sentido e dois em um sentido diferente. Que ele é um em pessoa, mas
dois em natureza.
Para esclarecer
essa formulação doutrinária, nós precisamos definir os termos e compará-los à
formulação doutrinária da Trindade. Do mesmo modo que “natureza” é usada na
formulação doutrinária da encarnação, “essência” é usado na formulação
doutrinária da Trindade.
Eles se referem à definição de algo, e a definição de
algo muda de acordo com os atributos ou propriedades desse algo. Pessoalidade é
novamente definido pela consciência ou intelecto. Agora, a definição de Deus
inclui o atributo ontológico da Trindade, e embora exista um só Deus, existem
três pessoas divinas ocupando completa e igualmente os mesmo atributos que
definem a deidade.
Na encarnação, Deus
o Filho tomou para si a natureza humana; isto é, ele adicionou à sua pessoa a
parte dos atributos que definem o homem. Ele fez isso sem sobrepor uma natureza
a outra, de maneira que ambos os atributos permanecem independentes. Assim, sua
natureza divina não se misturou à sua natureza humana, e sua natureza humana
não foi divinizada por sua natureza divina. Essa formulação também protege a
imutabilidade de Deus o Filho, uma vez que a natureza humana não modifica em
nada sua natureza divina.
A objeção de que os
atributos divino e humano necessariamente se contraditam quando possuídos por
uma mesma pessoa falha em não perceber que esses dois atributos são
independentes no Deus o Filho. Por exemplo, Cristo não era onisciente em
relação a seus atributos humanos, mas era onisciente em relação a seus
atributos divinos, e isso é verdade ainda hoje. Seus atributos divinos não
divinizaram seus atributos humanos.
Essa formulação
doutrinária da encarnação é imune à contradição, desde que nós não afirmemos
que Cristo é um e dois ao mesmo tempo e num mesmo sentido. O que afirmamos é
que Cristo é uma pessoa com dois tipos de atributos. Visto que essa formulação
não degenera em uma contradição lógica, isto é estabelecido como verdade se
pudermos demonstrar que Cristo é tanto Deus quanto homem através de exegese
bíblica.
Iremos primeiro
considerar algumas passagens que indicam a DEIDADE de Cristo. No início de seu
Evangelho, o apóstolo João refere-se a Jesus Cristo como o logos , ou a Palavra
:
“No princípio era
aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no
princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do
que existe teria sido feito.” (João 1:1-3, NVI)
O verso 1 começa
afirmando a pré-existência de Cristo, dizendo que ele existia antes do evento
da criação. O próprio Cristo confessou sua pré-existência em João 8, dizendo,
“Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou” (v.58) A palavra Deus (grego:
theos) nesse verso se refere ao Pai, e “a Palavra estava com Deus”
indica que Cristo não é idêntico ao Pai em termos de sua pessoalidade. Contudo,
ele não é menos que Deus em termos de seus atributos, pois o verso continua a
dizer, “a Palavra era Deus.” Essa é uma indicação explícita da atribuição de
deidade a Jesus Cristo. As palavras, “Ele estava com Deus no princípio”, no
verso 2, novamente afirmam sua pré-existência e o fato de que ele é
distinguível do Pai.
O verso 3 fala de
Cristo como o agente da criação, dizendo, ‘Todas as coisas foram feitas por
intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito”. Isso concorda
com a cristologia de Paulo, que escreveu em Colossenses 1:16, “Pois nele foram
criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis,sejam
tronos ou soberanias, poderes ou autoridades;todas as coisas foram criadas por
ele e para ele”. Cristo não somente é o criador do universo, mas ele agora
sustenta sua própria existência. Paulo diz que “nele tudo subsiste” (v.17). Foi
através de Cristo que Deus “fez o universo” e é também Cristo que “sustenta
todas as coisas por sua palavra poderosa” (Hebreus 1:2-3).
Colossenses 2:9
diz, “Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Tito
2;13 diz, “aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso
grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. Em Hebreus 1:3 lemos, “O Filho é o
resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser”. Hebreus 1:8 faz
uma aplicação messiânica do Salmo 45:6-7, quando Deus diz a Cristo, “O teu
trono, ó Deus, subsiste para todo o sempre; cetro de eqüidade é o cetro do teu
Reino”. Assim, o próprio Deus o Pai declara que Jesus é Deus, e diz que seu
domínio é “para todo o sempre”. Finalmente, Paulo escreve em Filipenses 2:6 que
Cristo, “embora existindo na forma de Deus,” tomou sobre si atributos humanos.
Agora nós veremos
algumas passagens que indicam a HUMANIDADE de Cristo. Após afirmar fortemente a
deidade de Cristo, o apóstolo João escreve em seu Evangelho , “Palavra
tornou-se carne e viveu entre nós” (João 1:14). Hebreus 2:14 diz, “Portanto,
visto que os filhos são pessoas de carne e sangue, ele também participou dessa
condição humana, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da
morte...”. Paulo é muito explícito a respeito da humanidade de Cristo quando
escreve em 1 Timóteo 2:5, “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os
homens: o homem Cristo Jesus”.
Várias passagens na
Bíblia indicam que, em sua natureza humana , Jesus tinha verdadeiras
limitações. Por exemplo, ele esteve “cansado da viagem” em João 4:6, faminto em
Mateus 21:18, e sedento em João 19:28. E o mais significante, “ele sofreu a
morte” (Hebreus 2:9) para comprar a salvação para seus eleitos.
Algumas passagens
na Bíblia afirmam ou implicam tanto a divindade quanto a humanidade de Cristo.
Por exemplo, João 5:18 diz que os Judeus procuravam matar a Jesus porque ele
“estava dizendo que Deus era seu próprio Pai, igualando-se a Deus.” Eles o
viram como um homem, mas ele reivindicava ser Deus. João 8:56-59 descreve outro
conflito semelhante a este:
‘Abraão, pai de
vocês, regozijou-se porque veria o meu dia; ele o viu e alegrou-se'.
Disseram-lhe os judeus: ‘Você ainda não tem cinqüenta anos, e viu Abraão?'.
Respondeu Jesus: ‘Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!'. Então
eles apanharam pedras para apedrejá-lo, mas Jesus escondeu-se e saiu do templo.
As pessoas
reconheceram que em sua vida humana, Jesus não tinha ainda cinqüenta anos de
idade e afirmava conhecer pessoalmente a Abraão. Aqueles que o ouviram não
contestaram sua humanidade, mas entenderam que suas palavras continham uma
reivindicação de divindade.
Mateus 22:41-45
também afirma que Jesus é tanto Deus quanto homem:
Estando os fariseus
reunidos, Jesus lhes perguntou: “O que vocês pensam a respeito do Cristo? De
quem ele é filho?”. “É filho de Davi”, responderam eles. Ele lhes disse:
“Então, como é que Davi, falando pelo Espírito, o chama ‘Senhor'? Pois ele
afirma: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu
ponha os teus inimigos debaixo de teus pés'. Se, pois, Davi o chama ‘Senhor',
como pode ser ele seu filho”.
Os fariseus
reconheceram que o Cristo deveria ser o filho de Davi, e como filho de Davi,
Cristo deveria ser humano. Contudo, enquanto estava “falando pelo Espírito”, de
modo que não poderia estar errado, Davi chamou Cristo de “Senhor”, como uma
designação de divindade. Portanto, o Cristo deveria ser o descendente humano e
o divino Senhor de Davi – Cristo deveria ser Deus e homem.
Vincent Cheung