sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

APRENDENDO COM DAVI (PARTE 30)




O SENSO DE PERTENCER
O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.
(
Salmos 23:1)
Davi encontrou um lugar ao qual pertencer. Davi era rejeitado na sua própria família. Ele pertencia a família de Jessé, mas, não tinha moral com o pai, nem com os irmãos, vivia no anonimato, cuidando de ovelhas, sozinho, esquecido, na solidão
Este Salmo 23, a gente observa que Davi se alegra e se orgulha de pertencer a alguém. No caso aqui em questão, ele se coloca na posição de uma ovelha que tem um dono
No papel desta ovelha feliz, Davi se alegra em dizer: “O Senhor é meu pastor, então, nada do que preciso me faltará”
Este Salmo é muito profundo, em outras palavras Davi está dizendo ou querendo dizer de uma outra maneira mais expressiva: “Eu pertenço ao Senhor, Ele é meu proprietário, meu pai, meu provedor, meu criador”
Todo mundo tem um senso de pertencer a alguma família, a um grupo. Nós, os seres humanos em geral, nos identificamos e as pessoas também nos identificam numa família, num grupo especifico
Existe este senso de pertencer. Quando vamos procurar emprego, por exemplo, as pessoas nos perguntam: “você é filho de quem?” , “de que família você é?”  
Quando alguém tem a sensação que nos conhece de algum lugar, até pergunta: “eu te conheço?” “Você não é estranho, é filho, irmão, parente de fulano de tal, que trabalha em tal lugar?”
Até com Jesus, ele era conhecido como filho de Maria e José, o carpinteiro
E geralmente nas famílias, pode não haver amor, união, comunicação, bons diálogos, boa estrutura, bons relacionamentos, paz. Também numa família pode haver frieza, brigas, inimizades, ciúmes.
Enfim, não existe família perfeita, e também não escolhemos a família ao qual pertencer. Parece que tudo já estava pronto quando chegamos ao mundo
Ninguém pediu para nascer e ninguém nasce para a solidão. Desde que estamos no mundo ansiamos por contato com outras pessoas, e elas formam o lugar ao qual pertencemos
Quando criança, adolescente e jovem, também queremos fazer parte de um grupo, um lugar fora da nossa família, que também nos dá um senso de pertencer, um grupo a qual a gente se identifica, queremos ser felizes ali e pertence a este grupo
Por isso que existem vários grupos sociais, entre eles o grupo dos rockeiros, dos pagodeiros, das patricinhas, dos fumantes de maconha, da cocaína, dos que gostam de baralho, futebol e politica, do rodeio, da roda de bar, dos motoqueiros, etc, etc
São tantos rótulos! Mas estes grupos nos dão UMA CERTA direção para nossa vida, nem todo lugar ou grupo é saudável para se pertencer
No decorrer da vida, trocamos de lugares, e de grupos conforme nossas decisões
MAS TEM UM LUGAR E UM GRUPO QUE É DE EXTREMA IMPORTÂNCIA 
Um lugar que vai nos dar sentido para a vida, é exatamente o melhor lugar do mundo, a qual pertencer, é o povo de Deus, a família cristã, espalhada pelo mundo, onde teremos refúgio, abrigo, provisão, direção e proteção do PAI ETERNO, do TODO PODEROSO, SENHOR DOS EXÉRCITOS, que cuida de cada um de nós, nos mínimos detalhes
Enfim, se acharmos este lugar em DEUS, estamos no melhor lugar do mundo a qual pertencer, e seremso amados como filhos
Deus preparou este lugar, ele preparou a IGREJA, o ajuntamento do SEU POVO, para nós termos este senso de pertencer ao POVO DE DEUS
Pertencemos a Deus! A pergunta que fica é: “Quem nos trouxe para a família de Deus?”
Se você é cristão, já sabe!













  

APRENDENDO COM PAULO (PARTE 35)




A Perspectiva Missionária de Paulo 


Dentre algumas dicotomias que a igreja evangélica brasileira enfrenta atualmente, uma delas é a polarização entre teologia e missões. Este reducionismo evangélico foi detectado pelo Dr. Augustus Nicodemus Lopes (Paulo,Plantador de Igrejas,1997, p. 5), ao dizer que a separação entre teologia e missões tem penetrado nas igrejas e organizações missionárias no período moderno, e tem produzido efeitos perniciosos até o dia de hoje. Isto é verdade. E a causa dessa divergência teológica, com sua conseqüência danosa para a igreja, foi acertadamente observado pelo Dr. Michael Green (Evangelização na Igreja Primitiva, 1989, p. 7) quando disse: A maior parte dos evangelistas não se interessa muito por teologia; e a maioria dos teólogos não se interessa muito por evangelização.
Alguns teólogos, como o renomado Dr. Nicodemus, e missiólogos, como o igualmente ilustre Dr. Timóteo carriker, são concordes quanto a importância da teologia e missões na vida da igreja. No entanto, será que a ênfase que eles dão às motivações missionárias de Paulo está correta? É o que procuraremos mostrar a seguir.
a. As motivações missionárias de Paulo
O conceito do Dr. Augustus Nicodemus Lopes
De acordo com o Dr. Nicodemus, a atividade missionária de Paulo era resultado direto da sua teologia.
Ele pergunta:
O que motivava o apóstolo Paulo a sair plantando igrejas, organizando comunidades ao longo da bacia do Mediterrâneo, apesar da rejeição dos seus patrícios e das implacáveis perseguições que sofria? (p. 7)
E responde:
O que o movia não eram arroubos de piedade, espírito proselitista, amor ao lucro, popularidade ou qualquer outra motivação similar. Essas motivações não teriam suportado as angústias do campo missionário por muito tempo. Paulo estava movido por suas convicções teológicas. (p. 7, grifo do autor).
Segundo ele, a ação missionária de Paulo era resultado dessas convicções teológicas.
Um ponto que esclarece bem o que o Dr. Nicodemus entende por "convicções teológicas" de Paulo é a exemplificação que ele faz com a teologia de missões de William Carey, missionário batista que viveu no século XIX. 

Carey era um calvinista ardoroso, que tinha um coração inflamado por missões e não podia compreender a obra missionária como outra coisa senão a extensão das suas convicções como crente no Senhor Jesus (pp. 5,6). 

E prossegue:
É interessante observar que no livrete Enquiry, onde estabelece os motivos da sua atividade missionária, Carey segue uma seqüência similar à obra Theory of Missions, escrita pelo teólogo e missiólogo alemão Gustav Warneck (1834-1910). Isso mostra que Carey, mesmo sem ter tido o treinamento teológico de Warneck, esboça a sua missiologia teologicamente. Carey nunca usa o argumento das "almas que estão se perdendo" nem justifica-se a partir de suas convicções batistas. Sua preocupação é com a promoção do Reino de Cristo (p. 6, nota 2).
O Dr. Nicodemus salienta, ainda, que toda reflexão teológica deveria desembocar em subsídios para o esforço expansionista da Igreja de Cristo. Esses esforços, segundo ele, nada mais podem ser do que teologia em ação. Entende que quando a nossa prática missionária não é fertilizada e controlada por uma reflexão teológica correta, ela acaba se tornando em ativismo, desempenho estilizado ou simplesmente uma aplicação frenética de métodos.
E quais eram, segundo o Dr. Nicodemus, as convicções teológicas que motivavam a obra missionária de Paulo? Eram basicamente três. A primeira dessas convicções é que os últimos dias já começaram. Paulo estava vivendo nos últimos dias, dias de cumprimento, em que os fins dos séculos haviam chegado para ele. A segunda convicção do apóstolo Paulo era que as antigas promessas de Deus encontravam concretização histórica na Igreja de Cristo. Era na Igreja que a restauração de Israel se consumava e a plenitude dos gentios estava entrando. A terceira convicção de Paulo era que Deus o havia chamado para edificar essa Igreja (1).
.O conceito do Dr. C. Timóteo Carriker
O Dr. Carriker é pastor da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (P. C. – U.S.A.). Trabalha no Brasil desde 1977. Cursou o bacharelado na Universidade da Carolina do Norte, em Charlote, o mestrado em teologia no Seminário Teológico Gordon-Conwell, e o mestrado em missiologia e doutorado em estudos interculturais do Seminário Teológico Fuller. É professor e diretor acadêmico do Centro Evangélico de Missões, em Viçosa, MG. Dos seus escritos destacamos, para este propósito, o livro Missão Integral: Uma teologia bíblica (São Paulo: Editora Sepal, 1992) e o artigo A missiologia apocalíptica da carta aos Romanos (Fides Reformata. São Paulo: JMC, Vol. III, Nº 1, 1998).
Enquanto o Dr. Nicodemus parte da teologia para a missão, o Dr. Carriker claramente inverte a ordem. Segundo ele, as profundas convicções teológicas de Paulo brotaram de intenso envolvimento missionário e pastoral. Segue-se, de acordo com o Dr. Carriker, que a teologia consiste primariamente de reflexão acerca da missão, não sendo esta mera aplicação conseqüente daquela, mas missão está no âmago da teologia. (Missão Integral, p. 7). E ainda:
Como Martin Kahler reconheceu em 1908, missão, de fato,é a mãe da teologia (Bosch 1980:24) e não uma subdivisão menor e dispensável da teologia prática. De modo inverso, Pedro Savage observa que "a teologia é, em essência, missiológica" (1984:56). Isto é, a missiologia é fundamental à teologia porque é o lugar aonde a fé e a estratégia se encontram no caminho para o mundo num dado momento específico. Entendendo a missiologia na sua devida relação teológica, se torna patente a necessidade de seu enraizamento sólido na Bíblia. (pp. 7,8)
Em sua exposição de Romanos, o Dr. Carriker observa que esta carta se caracteriza por uma extensa elaboração teológica e é a teologia que melhor indica o contexto ou os contextos da carta, inclusive o apelo feito pelo apóstolo para que os cristãos romanos apóiem a sua missão espanhola. Mas, segundo ele, não é uma teologia abstrata e desconectada da situação missionária de Paulo. É uma teologia de missão. Citando Krister Stendahl, assevera que este é um dos poucos biblistas que percebeu isso, quando iniciou um dos seus últimos livros com a seguinte afirmação:
Romanos é a última declaração de Paulo acerca da sua teologia de missão. Não é um tratado teológico sobre a justificação pela fé... Quando falo de Romanos como a declaração, feita por Paulo, da sua teologia de missão, estou convencido de que a teologia paulina tem o seu centro norteador na percepção apostólica de Paulo sobre a sua missão aos gentios. Conseqüentemente, Romanos é central à nossa compreensão de Paulo, não por causa da sua doutrina da justificação, mas porque a doutrina da justificação está aqui no seu contexto original e autêntico: como um argumento a favor da posição dos gentios baseada no modelo de Abraão (Romanos 4). (pp. 132,3). (2)
Quais eram, portanto, segundo o Dr. Carriker, as convicções que levaram um "fariseu dos fariseus" a se tornar apóstolo dos gentios? De acordo com ele, devemos qualificar que Paulo não desenvolveu seu ministério de fundamentos exclusivamente dogmáticos. Nem podemos afirmar que Paulo era um "teólogo" no sentido que muitos o fazem hoje em dia, como se fosse um pensador sistemático. Em vez de considerá-lo como um teólogo sistemático, devemos encará-lo como um teólogo pastoral, que desenvolveu sua perspectiva não de reflexão acadêmica divorciada das situações concretas e problemas eclesiásticos em que se envolvia.
Paulo seria uma sorte de teólogo peregrino (ou missionário!) que, na estrada da experiência da vida e do ministério, procurava teologar a partir da sua realidade. Assim, Paulo seria melhor descrito como um teólogo de práxis que, partindo da sua experiência, refletia nela a base das escrituras hebraicas e do seu encontro com Jesus crucificado e ressurreto.
.Avaliando os dois conceitos
Mesmo numa análise ligeira dos conceitos de nossos teólogos (Nicodemus e Carriker), é possível observar que ambos enfatizam, de maneira positiva, a importância do valor conjunto da teologia e missões no ministério de Paulo e da igreja, e também o prejuízo que a igreja experimenta quando divorcia uma da outra. Nenhum dos dois desmerece a teologia ou a missão. À despeito de tanto um quanto o outro procurar rever os conceitos de "teologia" e "missões" à luz de suas convicções teológicas.
Mas isto também é positivo, pois como o Dr. Nicodemus bem observa, quando a nossa prática missionária não é conduzida por uma reflexão teológica correta, ela acaba se tornando em mero ativismo. Por outro lado, o Dr. Carriker salienta, com muita propriedade, que não podemos afirmar que Paulo era um "teólogo" no sentido que muitos o fazem hoje em dia, como se fosse um pensador sistemático. Em vez de considerarmos Paulo como um teólogo sistemático, devemos encará-lo como um teólogo pastoral, que não desenvolvia sua perspectiva teológica academicamente, mas no contexto da missão.
Entretanto, a questão fundamental é se a teologia de Paulo era motivada por sua missiologia e vice-versa. A tese que defendemos é pelo "sim". Paulo foi um grande missionário porque era um grande teólogo, e que, por sua vez, era um grande teólogo porque foi um grande missionário. Infelizmente esta tese não é defendida pelo Dr. Nicodemus e muito menos pelo Dr. Carriker. Um teólogo geralmente não admite que a teologia (principalmente a sua própria) é fruto de uma missiologia bem definida e um missiólogo, por sua vez, não costuma afirmar que a missão por ele defendida é o resultado de uma teologia bíblica coerente (3).
Mas em Paulo a missão é teológica e a teologia é missiológica. Ele não apenas não separava uma da outra, mas também subordinava uma a outra. Um bom exemplo disso é sua carta aos Romanos. Tomemos como exemplo o capítulo 15 dessa carta. Para Samuel Escobar, fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana,
A missiologia de Paulo muitas vezes é expressa como exposição teológica, entrelaçada com referências de sua prática missionária. Penso que Romanos 15.11-33 é um texto ilustrativo da metodologia de Paulo, especialmente relevante para a reflexão missiológica na América Latina. Esta passagem apresenta uma interação entre a teoria e a prática, entre os fatos da vida em obediência a Deus e a reflexão sobre esses fatos (Desafios da Igreja na América Latina, 1997, p. 89).
E resume:
Uma leitura cuidadosa de Romanos 15.11-33 evidencia uma estrutura de quatro partes da missiologia de Paulo. Em cada seção encontraremos um "fato" central ligado à Prática de Paulo, seguido da reflexão pastoral e missiológica que é estimulada por esse fato e que gira em torno dele. O primeiro é proclamação: "Proclamarei plenamente o evangelho de Cristo" (v. 17-22); o segundo é previsão: "Planejo [vê-los] quando for à Espanha" (v. 23-24); o terceiro é conclusão: "Agora, porém, estou de partida para Jerusalém" (v. 25-29); e o quarto é luta: "Recomendo-lhes, irmãos [...] que se unam a mim em minha luta" (v. 30-33). (Idem) (4).
Ademais, a motivação missionária de Paulo não era determinada somente por convicções teológicas e escatológicas, como sugere o Dr. Nicodemus (1997, pp. 5-21), ou apocalípticas, como pretende o Dr. Carriker (1998, pp. 124-148), mas que, além disso, o apóstolo possuía o coração inflamado de paixão e amor pelos perdidos (5).
Como resultado do amor de e a Cristo, Paulo amava os perdidos (Cf. 2 Co 5.14; Rm 1.5; 9.3; Ef 3.1; Fp 3.7; 1 Ts 1.5; 2 Tm 2.10). O amor tornava Paulo afetuoso e caloroso em sua evangelização (PACKER, Evangelização e Soberania de Deus, 1990, p. 38). Escrevendo aos tessalonicenses o apóstolo dizia que "... nos tornamos dóceis entre vós...". E ainda, "assim, querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a nossa própria vida, por isso que vos tornastes muito amados de nós" (1 Ts 2.7,8).
O amor também fazia Paulo ter sensibilidade, sendo capaz de adaptar-se às circunstâncias em sua evangelização; embora se recusasse terminantemente a alterar sua mensagem para agradar as pessoas (cf. 2 Co 2.17; Gl 1.10; 1 Ts 2.4), ele se esforçava ao máximo, em sua apresentação da mesma, para evitar escândalo e não dificultar desnecessariamente o caminho para aceitação e resposta positivas (cf. 1 Co 9.16-27; 10.33). Segundo Packer,
Paulo procurava salvar os homens e, visto que procurava salvá-los, não se contentava apenas em informá-los sobre a verdade; mas empenhava-se em se pôr ao lado deles, começando a pensar juntamente com eles, a partir de onde se encontravam, falando-lhes em termos que podiam compreender e, acima de tudo, evitando tudo quanto pudesse fazê-los adquirir preconceitos contra o evangelho ou pôr pedras de tropeço em seu caminho. Em seu zelo por manter a verdade, nunca perdeu de vista as necessidades e reivindicações das pessoas. Seu alvo e objetivo, em todas as suas atividades no evangelho, até mesmo no calor da polêmica evocada por pontos de vista contrários, nunca deixou de ser conquistar almas, convertendo aqueles que considerava seus próximos à fé no Senhor Jesus Cristo.
Tal era a evangelização, de acordo com Paulo: sair em amor, como agente de Cristo no mundo, a fim de ensinar aos pecadores a verdade do evangelho, tendo em vista a conversão e a salvação dos mesmos (Evangelização, 1990, p. 38).
b. As estratégias missionárias de Paulo
As estratégias missionárias de Paulo eram o resultado direto e natural de suas motivações. Dentre os vários meios utilizados por Paulo para divulgar o evangelho (6), destaquemos os mais utilizados pelo apóstolo; a saber, a escolha de centros estratégicos e as sinagogas.
Paulo percorria as estradas romanas anunciando o evangelho e fazendo discípulos nas principais cidades das províncias imperiais, verdadeiros centros estratégicos. Ele concentrava suas atividades nesses locais, tornando o que outrora eram campos missionários em bases de sua missão. Tessalônica, por exemplo, tornou-se a base missionária para a província da Macedônia; Corinto a base para a província da Acaia; Éfeso a sua base para a Ásia proconsular. A igreja de Roma também seria uma possível base para a evangelização na Espanha (cf. Rm 15.24).
Quando voltamos nossos olhos para o livro de Atos (7), percebemos que os missionários daquela época, de modo geral, e Paulo, em especial, concentravam seus esforços geralmente naqueles centros estratégicos do ponto de vista cultural, econômico, religioso, político e geográfico até. Embora no caso deste último a estratégia de trabalho de Paulo não era tanto geográfica quanto humana ou cultural, no sentido de etnias (8).
O Dr. Timóteo Carriker faz uma importante observação acerca dos centros estratégicos de Paulo. Diz ele:
Paulo procurava atingir primeiro os centros provinciais que não eram evangelizados na sua missão. Isto era uma estratégia do "quadro geral" e não dos detalhes, isto é, não de todo e qualquer lugar. Ele não tentava evangelizar o mundo gentílico totalmente, mas contava com a obra evangelizadora das comunidades que ele estabeleceu para continuar a missão. Ele mesmo se apressava para a tarefa urgente de pregar o evangelho para aqueles que não o ouviam (Romanos 10.14). Sua perspectiva era de "preencher" ou "completar" os principais lugares que faltavam no mundo gentílico e prosseguir em frente [veja peplérókenai em Romanos 15.19] (Missão Integral, 1992, pp. 235,6).
As sinagogas judaicas também faziam parte das estratégias missionárias de Paulo. Roland Allen (9) reconheceu quatro características da pregação de Paulo nas sinagogas.
Em primeiro lugar, é possível ver em Paulo a simpatia e a conciliação com as sensibilidades dos ouvintes: a apresentação é clara, ele está disposto a aceitar o que há de bom na posição deles, simpatiza com suas dificuldades, mostrando que ele os aborda com sabedoria e tato.
Em segundo lugar, ele tem coragem de reconhecer abertamente as dificuldades, de proclamar verdades não muito fáceis de engolir, e de recusar-se inapelavelmente a fazer coisas difíceis parecerem fáceis.
Em terceiro lugar, vem o respeito por seus ouvintes, suas capacidades intelectuais e suas necessidades espirituais.
Em quarto lugar, há uma confiança inabalável na verdade e no poder do evangelho. Não estaremos longe da verdade ao supormos que estas eram características típicas da pregação na sinagoga, nos primeiros tempos da missão, em que as oportunidades ainda estavam abertas. Os missionários cristãos aceitavam com gratidão esta oportunidade de falar a Israel, nas três primeiras décadas decisivas antes que a porta das sinagogas lhes fossem fechadas (GREEN, Evangelização, 1989, p. 240).
Mas por que será que o apóstolo Paulo priorizava as sinagogas judaicas como parte de sua estratégia? Antes de tudo é preciso lembrar que Paulo era essencialmente um apóstolo enviado por Cristo aos gentios. Na época de sua conversão no caminho de Damasco, o Senhor Jesus disse que o livraria "dos gentios, para os quais eu te envio" (At 26.17). Entre os apóstolos ficou acertado que Tiago, Pedro e João iriam para a circuncisão (judeus) e ele, Paulo, "para os gentios" (Gl 2.9). Entre Pedro e Paulo, por exemplo, havia uma consciência marcante da missão deles aos judeus e gentios, respectivamente (Gl 2.7,8).
Em quase toda sinagoga judaica existiam, além de judeus é claro, dois grupos distintos de gentios. O primeiro grupo era formado pelos denominados "prosélitos", isto é, gentios convertidos ao judaísmo. Os homens eram circuncidados, concordavam em obedecer a lei e guardar o sábado, faziam peregrinações a Jerusalém, e daí em diante não eram mais gentios, e sim judeus.
O segundo grupo de gentios que normalmente freqüentava a sinagoga era formado pelos "tementes a Deus". Eram apreciadores da lei e do ensinamento judaicos, mas por uma série de razões pessoais achavam por bem não se desvincular de suas raízes gentílicas, como os prosélitos, para se tornarem judeus. Todavia, eles freqüentavam a sinagoga regularmente, ainda que tivessem que ficar na parte que lhes era reservada, não lhes sendo permitido a participação completa dos cerimoniais litúrgicos. Em suma, enquanto os "prosélitos" eram ex-gentios, os "tementes a Deus" ainda eram gentios. E embora Paulo tivesse o que dizer aos três grupos que freqüentavam a sinagoga, seu objetivo principal era converter os gentios que lá estavam, os tementes a Deus (10).
A estratégia de um homem como Paulo era basicamente simples: ele só tinha uma vida, e estava decidido a usá-la o máximo possível, tirando dela o melhor proveito no serviço de Jesus Cristo. Sua visão era ao mesmo tempo pessoal, urbana, provincial e global (GREEN, Evangelização, 1989, p. 318).
1.2. As missões de Paulo
A obra missionária de Paulo é vastíssima, quer seja compreendida no tanto de trabalho que ele realizou, quer seja no aspecto do próprio conceito de missões que o apóstolo tinha. Para Paulo missões não era proclamação fria, automática e desencarnada. Era, antes de tudo, proclamação compromissada, significando a manutenção daqueles aos quais ele alcançou mediante a pregação e ensino do evangelho. Missões em Paulo não era mero espiritualismo, mas pura encarnação. Ele se preocupava com o ser humano em sua totalidade. Um bom exemplo disso está em ele não se esquecer dos pobres (cf. 2 Co 8; Gl 2.10). Sua missão era fazer "missão integral", no sentido em que essa expressão é usada na missiologia contemporânea.
Neste tópico nos limitaremos às missões pelas quais Paulo é mais conhecido e através das quais ele deu forma ao seu ministério e de onde produziu suas epístolas inspiradoras, isto é, suas viagens missionárias, conforme registradas em Atos (11) e em seu testemunho de Romanos 15.
a. A primeira viagem missionária de Paulo
Obedecendo à direção divina e sob os auspícios da igreja de Antioquia, o apóstolo iniciou sua primeira viagem missionaria entre 45 e 50 A.D. Com Paulo estavam Barnabé e João Marcos. Partiram de Antioquia para Selêucia, situada na foz do Orontes e dali para Chipre, terra de Barnabé. Desembarcando em Salamina, na costa de Chipre, começaram a trabalhar, como de costume, nas sinagogas. Percorreram toda a ilha até chegarem a Pafos, na costa sudoeste. Neste lugar despertaram a atenção de Sérgio Paulo, procônsul romano. Saiu-lhes ao encontro um feiticeiro chamado Barjesus, também conhecido por Elimas o mago, que opondo-se a Paulo procurava Desviar a atenção do procônsul (At 13.6, 7).
Paulo resistiu-lhe indignado e repreendeu-o severamente, ferindo-o temporariamente com cegueira. Resultou disto a conversão de Sérgio Paulo (At 13.12). Partindo de Chipre navegaram para a Ásia Menor e chegaram a Perge na Panfília. Ali Marcos, por motivos ignorados, deixou seus companheiros e regressou a Jerusalém. Os dois, Paulo e Barnabé, saíram de Perge, rumo ao norte, passando por Frígia e indo até Antioquia da Pisídia. Ali o povo da cidade, incitados pelos judeus, levantou-se contra Paulo e Barnabé e os expulsaram (At 13.50). De Antioquia passaram a Icônio, outra cidade da Frígia, onde uma copiosa multidão de judeus e gregos foram convertidos (At l3.51).
Por causa da perseguição dos judeus, partiram de Icônio para Listra e Derbe, cidades da Licaônica (At 14.1-7). Em Listra Paulo curou um coxo, foi adorado juntamente com Barnabé, pregou o evangelho, foi apedrejado e lançado fora da cidade como morto (At 14.8-19). Restabelecido vão a Derbe, de Derbe a Listra, de Listra a Icônio, de Icônio a Antioquia da Pisídia, fortalecendo os discípulos e elegendo presbíteros. Atravessando a Pisídia, passam pela Panfília e Perge. Tendo anunciado a Palavra em Perge, desceram a Átalia e dali navegaram para Antioquia da Síria (At 14.20-26).
b. A segunda viagem missionária de Paulo
Tempos depois, por volta do ano 50, Paulo propôs a Barnabé uma segunda viagem missionária (At 15.16). Mas o apóstolo não queria que João Marcos fosse com eles, o que provocou a separação dos dois grandes missionários da Igreja Primitiva. Silas foi o companheiro de Paulo nessa segunda viagem. Primeiro visitaram as igrejas da Síria e da Cilícia; depois passaram para os lados do norte, atravessaram as montanhas do Tauro e passaram às igrejas que Paulo havia fundado na sua primeira viagem. Foram a Derbe e a Listra. Nesta última cidade Timóteo se juntou a eles. De Listra foram para Icônio e Antioquia da Pisídia. Após alguns "impedimentos" do Espírito Santo (At 16.6,7), desceram a Trôade, onde Paulo teve a visão do varão macedônio.
Obedecendo a este chamado, os missionários vão, juntamente com Lucas, para a Europa. Desembarcando em Neápolis, seguem logo para a importante cidade de Filipos. Vale lembrar que Atos 16 e a carta de Paulo aos filipenses formam um dos mais belos retratos de sua missiologia. De Filipos, onde Lucas ficou, Paulo, Silas e Timóteo foram para Tessalônica, lugar em que alcançaram grandes resultados entre os gentios, fundando ali uma igreja (At 17.1-9). Por causa da perseguição dos judeus, os irmãos enviaram Paulo para a Beréia; deste lugar, após valiosos resultados até mesmo dentro da sinagoga, seguiu para Atenas (At 17.10-15), cidade onde Paulo proferiu seu famoso discurso, mas com poucos resultados (At 17.16-31).
Depois partiu para Corinto, onde ficou dezoito meses e, ao contrário de Atenas, os resultados foram admiráveis (At 18.1-11). A missão de Paulo em Corinto foi uma das mais frutíferas da história da Igreja Primitiva. De Corinto foi para Éfeso, ficando pouco tempo, seguiu para Cesaréia, indo apressadamente para Jerusalém. Havendo saudado a igreja desta cidade, voltou a Antioquia, de onde havia partido (At 18.22).
c. A terceira viagem missionária de Paulo
Depois de algum tempo em Antioquia, o apóstolo Paulo, talvez no ano 54 A.D., deu início à sua terceira viagem missionária. Primeiro atravessou a região da Galácia e da Frígia, afim de fortalecer os discípulos (At 18.23); depois vai a Éfeso, capital da Ásia e uma das cidades de maior influência no oriente. Paulo permaneceu três anos em Éfeso (At 20.31).
Durante três meses ensinou na sinagoga e, depois, durante dois anos na escola de Tirano (At l9.8-10). Seu trabalho nesta cidade notabilizou-se pela riqueza de instrução (At 20.18-31), pela realização de milagres (At 19.11,12), pelos resultados obtidos, porque todos os que habitavam na Ásia ouviram o evangelho (At 19.10) e pelas constantes perseguições (At 19.23-40). De Éfeso partiu para a Macedônia, e depois de fortalecer os discípulos com muitas exortações, viajou para a Grécia, onde permaneceu três meses (At 20.12).
Agora iniciaria sua última viagem a Jerusalém, acompanhado de amigos, representantes das várias igrejas dos gentios (At 20.4). Seu plano inicial era navegar diretamente para a Síria, mas uma conspiração dos judeus o obrigou a voltar pela Macedônia (At 20.3). Demorou-se em Filipos enquanto seus companheiros foram para Trôade. Depois da festa da páscoa Paulo foi com Lucas para Trôade (At 20.5), onde os companheiros os esperavam e ali ficaram uma semana (At 20.6). De Trôade Paulo viajou para Assôs (At 20.13). Depois de uma rápida passagem por Mitilene e Samos, Paulo e mais alguns amigos chegaram a Mileto (At 20.14, 15).
De Mileto mandou chamar os presbíteros de Éfeso, e naquele local é registrado um dos episódios mais emocionantes da Bíblia (At 20.17-38). Partindo de Mileto o navio seguiu diretamente para a ilha de Cós e no dia seguinte chegaram a Rodes. De Rodes passaram a Pátara, nas costas da Lícia (At 21.1). Achando um navio que ia para a Fenícia embarcaram, e seguindo viagem passaram por Chipre, desembarcando em Tiro (At 21.2, 3) ficando durante sete dias nesta cidade. De Tiro partiram para Ptolemaida (At 21.5,6) e no dia seguinte, após afetuosa despedida, chegaram em Cesaréia. A despeito de alarmantes predições e das lágrimas dos irmãos para que não fosse a Jerusalém (At 21.4, 10-12), Paulo seguiu em frente e assim, acompanhado dos irmãos, terminou a terceira viagem missionária (At 21.12-15).
d. As "viagens" à Roma e à Espanha
Escrevendo aos crentes de Roma, Paulo observa que durante anos se esforçou em pregar o evangelho "desde Jerusalém e circunvizinhanças, até o Ilírico" (Rm15.19).
Mas agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões, e desejando há muito visitar-vos, penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que de passagem estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia (Rm 15.23,24).
Carlos Del Pino (In Missões e a igreja brasileira, 1993, p. 58) comenta que em Romanos 15.22-24 todo esforço, a visão e o investimento de vida do apóstolo durante anos naquelas regiões o levaram a duas atitudes específicas em relação aos romanos. Segue-se abaixo um esboço de Del Pino dessas atitudes de Paulo:
1. Não visitar os romanos (15.22). E o próprio Paulo nos dá suas razões para isso:

a) O evangelho já havia se estabelecido em Roma, já havia igreja lá. E, de acordo com o que ele mesmo disse no v. 20, não seria conveniente que ele, Paulo, exercesse seu ministério ali;
b) Muitos outros povos ainda careciam de receber o evangelho e Paulo via-se impulsionado por força do ministério recebido de Deus, para trabalhar em regiões ainda não atingidas.
2. Visitar os romanos (15.23,24). Agora Paulo tinha razões para visitar os romanos.

São elas:

a) Término das atividades naquelas regiões; novos lugares precisam ser alcançados (15.23);
b) Desejo antigo de conhecer a igreja romana (15.23);
c) Devido a sua visão de alcançar novos povos, esta visita não seria para lazer, mas para estabelecer na igreja em Roma uma base missionária para o Ocidente até a Espanha – "para lá ser por vós encaminhado" (15.24,28).
Mas por que Paulo não tinha mais campo de atividades naquelas regiões? O que ele fazia lá para que tenha terminado o seu trabalho? Del Pino lembra que
Paulo proclamava o evangelho naquelas regiões. O que ele está dizendo no v. 23 é que houve o cumprimento de um ministério específico por uma pessoa específica (Paulo). Não significa que ninguém mais teria nada para fazer ali; ao contrário, muito trabalho ainda havia para ser feito, tanto de evangelismo quanto de ensino, exortação etc. Outros poderiam e deveriam continuar ali exercendo seus ministérios, mas aquilo para o que Paulo havia sido chamado por Deus já havia se completado naquelas regiões. Isso também não significa que o ministério de Paulo em si houvesse terminado por completo, tanto que ele buscava uma nova região onde pudesse desenvolvê-lo. O que o apóstolo fez "desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico", que foi "pregar o evangelho" (15.20), era exatamente o que ele pretendia continuar fazendo, em seguida, na Espanha. Para isso, ele precisava de uma nova base de missões: a igreja em Roma! (1993, p. 59).
E mais:
Para tratarmos sobre esta nova base de missões, precisamos entrar no v. 24. Aqui Paulo revela claramente seus propósitos e seus meios. Veja bem, o propósito final de Paulo, seu objetivo real, não era apenas conhecer a igreja de Roma. Isso ele poderia ter feito em outras circunstâncias. Seu objetivo final era chegar à Espanha. Este objetivo reflete o esforço de Paulo (15.20) e sua vocação (15.21), conforme já temos enfatizado. Ele pretendia chegar à Espanha para ali continuar desenvolvendo o seu ministério; "de passagem" por Roma (15.24), ele esperava ir à Espanha, enviado pela igreja de Roma. Quando Paulo diz no v. 24 "para lá seja por vós encaminhado", ele não apenas tinha em mente, mas estava claramente dizendo as coisas necessárias para a sua viagem e subsistência lá (1993, p. 59).
Paulo chegou em Roma por volta do ano 60 A.D. como prisioneiro (cf. At 27 e 28). Lucas relata que "por dois anos permaneceu Paulo na sua própria casa que alugara" (At 28.30) com toda liberdade de receber a todos que o procuravam e de pregar o evangelho (At 28.30,31). Para quem pretendia apenas passar por Roma, e livre, dois anos, e preso, era tempo de mais. Após esta sua primeira prisão (domiciliar), o apóstolo, entre outras viagens, provavelmente tenha chegado à Espanha (DEL PINO, 1993, p. 59). II - RELEVÂNCIA PARA O NOSSO POVO E IMPLICAÇÕES PARA A MISSÃO DA IGREJA
A sociedade brasileira carece de uma mensagem evangélica confrontadora. Não que ela queira ser tocada em suas feridas, mas à luz da Bíblia não podemos oferecer às pessoas um evangelho paliativo e barateado. O cristianismo puro e simples (para usar o título em português do livro de C. S. Lewis) precisa ser a mensagem e o estilo de vida de todo homem e de toda mulher salvos em Cristo.
Em se tratando de evangelho para o povo brasileiro, a igreja evangélica, não raramente, tem ido ou para o extremo da mensagem desencarnada, distante da realidade cotidiana do povo, mediante a apresentação de um evangelho transcendente que alcança as estrelas mas esquece da terra; ou tem, por outro lado, oferecido Jesus Cristo às pessoas como se Ele fosse um produto de consumo a disposição nas prateleiras do mercado eclesiástico. Apresenta-se Cristo no melhor dos estilos "fada madrinha".
Em nome de Cristo promete-se ao povo casa, carro, dinheiro; enfim, toda sorte de prosperidade, sem contar a confusão que se faz entre as fraquezas e tristezas sentidas por alguém em relação aos objetivos não alcançados por ele e a verdadeira convicção de pecados. As pessoas não devem ser confrontadas em termos de "você não conseguiu? Venha para Jesus que você consegue", mas sim encaradas como pecadoras que precisam urgentemente da graça redentora.
Cremos sinceramente que Cristo pode dar tudo e até mais do que é prometido às pessoas em termos de prosperidade; porém, não podemos perder de vista as implicações e exigências do evangelho autêntico.
Além disso, a sociedade brasileira carece do evangelho que seja encarnado na vida dos crentes. Um cristianismo integral que seja a expressão de uma vida santificada e consagrada ao Senhor. Em outras palavras, a manifestação viva daquilo que dizemos acreditar.
Hoje em dia parece que virou moda e status ser crente. No meio artístico, por exemplo, ouve-se falar daquele e daquela como os mais novos irmãos na fé; entretanto, aqui e ali ficamos sabendo dos escândalos que esses "irmãos" cometem. Não negamos que haja conversões de verdade entre os artistas, porém, é preciso que o quanto antes a pureza do evangelho, com todas as suas implicações para a igreja e a sociedade, seja resgatada em nosso meio. É necessário que "o sal da terra" e "a luz do mundo", a Igreja de Jesus Cristo, seja a verdadeira opção de vida, ou mais que isso, seja, de certo modo, o sentido da vida para todo aquele que perece em seus próprios pecados; a verdadeira diferença na vida de tantos que permanecem indiferentes.
Que Deus nos ajude a começar em nós, nos impulsionando a pregar o evangelho como o fez com Paulo. O apóstolo Paulo fazia do evangelho a razão de seu viver e de outras pessoas. Paulo é um exemplo fabuloso de compromisso com a verdade do evangelho. Ele nunca a comprometia. Podia como poucos ser imitado como imitador de Cristo (1 Co 11.1). Acredito que não seria exagero de minha parte dizer que Paulo alcançou mais pessoas para Cristo por sua vida de dedicação e seriedade ao reino de Deus do que em suas pregações propriamente ditas. Semelhantemente o povo brasileiro precisa ver na igreja de hoje pessoas que vivam o que dizem crer. A prática é a expressão do que acreditamos. Se não praticamos o que falamos, então a nossa pregação não passará de retórica evangélica desqualificada.
III - CONCLUSÃO
A perspectiva missionária de Paulo era "preencher" ou "completar" os principais lugares que faltavam no mundo gentílico e continuar seguindo em frente, motivado por uma teologia pastoral de vida, pela esperança escatológica do retorno imediato de Cristo e por seu amor aos perdidos como resultado do seu amor por Jesus, com estratégias missionárias bem definidas. Valeria a pena seguirmos o apóstolo com essa mesma perspectiva missionária? Certamente que sim. Pois é nesse contexto de missão que o intrépido sede meus imitadores como eu sou de Cristo encontraria, aqui, a sua melhor e mais completa aplicação. Se a igreja hoje imitasse Paulo como ele imitava Cristo, missões seriam o nosso maior projeto de vida.
Entendemos que para uma melhor compreensão da perspectiva missionária de Paulo era indispensável uma análise do conceito "apóstolo", visto que é o título que melhor designa a missão de Paulo, e por ele preferido. 
Achamos necessário também, ainda que tratado rapidamente, um apanhado de sua vida e do contexto de sua época para situarmos e entendermos melhor a missão dele. Mesmo em termos das viagens missionárias de Paulo em Atos dos Apóstolos, muita coisa os eruditos disseram e têm a dizer. Nosso propósito foi dar apenas um resumo dessas viagens conforme registradas em Atos.


APRENDENDO COM JESUS




Os amigos do Noivo 

Jesus certamente viveu mais cônscio do mundo no qual ele andava do que qualquer outro homem antes dele. E de tudo que o rodeava ele tirou ricas metáforas, que fizeram dele um tão irresistível ilustrador e mestre.
 
                    O Senhor começou cedo, nos seus discursos públicos, a falar com conhecimento de pescadores, agricultores, pastores e comerciantes.

Ele tirou expressivas comparações do mundo dos reis e dos príncipes, dos servos e dos pobres, sacerdotes e publicanos, juízes e ladrões.

Ele encontrou lições na relva e nas flores, no vento e na rocha. Ele falou muito de vinhas e trigais, de joio, de espinhos e de cardos.

Ele conhecia bem o lugar da raposa e o caminho dos lobos e das ovelhas. E falou especialmente do lar, de sal e de lâmpadas, de cozinha e de limpeza, de festas e de casamentos, de pais e de filhos.

E suas palavras eram maravilhosas, pelo modo como tornavam a vontade do céu tão real e clara.
 
                    Muito do que Jesus disse tão expressivamente não estava nas parábolas clássicas, mas em dizeres e ilustrações que eram semelhantes a elas.

Muitas são simples metáforas passageiras que acrescentam clareza a um pensamento, um ensinamento. A primeira aparece no chamado do Senhor a quatro galileus para se tornarem "pescadores de homens" (Mateus 4:19).

O Sermão do Monte está literalmente cheio destas ricas analogias, comparações que fazem o pensamento virtualmente saltar da página.

É esta "parábola" de Jesus que queremos dar nossa atenção.

                    Os amigos do noivo (Mateus 9:15)

Subitamente, no meio da crescente popularidade do segundo ano de pregação do Senhor, de sucesso do grande ministério galileu, os sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) interrompem sua história para nos dizerem que nem tudo vai bem. Em Mateus 9, Marcos 2 e Lucas 5, cada um começa pela primeira vez a falar da crescente oposição a Jesus nos meios judaicos influentes. Ele não se ajustava confortavelmente ao mundo tradicional deles. Seu ambiente e comportamento completamente não ortodoxos deixavam os líderes judeus muito desconfortáveis, mas sua proposta para .perdoar os pecados de um paralítico em Cafarnaum deixou a equipe de observadores enviados de Jerusalém quase apoplécticos! Aquilo era blasfêmia! (Mateus 9:1-8; Marcos 2:1-12: Lucas 5:17-26). Eles não podiam dizer mais nada, mas Jesus tinha curado completamente o homem diante dos próprios olhos deles!
 
                    As coisas não melhoram mais tarde, quando ele selecionou Mateus, o publicano, como um dos seus associados e então passou a tarde festejando alegremente com outros tipos também de má reputação (Mateus 9:27-32).
 
                    Foi ali, talvez perto da porta da casa de Mateus, que os fariseus, numa e estranha ligação com discípulos de João, perguntaram-lhe porque eles e os discípulos de João jejuavam enquanto seus próprios seguidores estavam festejando e regozijando (Mateus 9:14; Marcos 2:18; Lucas 5:33). Jesus respondeu que não era certo que os amigos do noivo lamentassem na festa do casamento enquanto o noivo estava com eles. Haveria tempo bastante para jejuar e ficar triste, ele disse, quando seu amigo fosse tirado deles.
 
                    Os fariseus e os discípulos de João tinham tentado julgar Jesus pelos seus próprios padrões. Quem deu a ele o direito de quebrar as conveniências? Que tipo de homem santo era este, que passava seus dias festejando? Precisa-se entender os discípulos do Batista. Com João definhando na prisão de Herodes, eles sem dúvida achavam jejuar mais apropriado do que festejar e talvez tivessem sido levados a admirarem-se da aparente despreocupação de Jesus. Os fariseus, por outro lado, eram apenas ritualistas despreocupados que tinham um hábito de procurar crédito com Deus duas vezes por semana (Lucas 18:9-12; a tradição dizia que Moisés subiu ao Sinai na segunda-feira e desceu na quinta-feira). Isso nada tinha a ver com seus corações ou as realidades espirituais de suas vidas. Seus jejuns, como aqueles dos antigos israelitas (Isaías 58:1-9), não tinham nenhuma ansiedade para com Deus.

                   Jejuar fazia algum sentido para os discípulos de João. A mensagem do seu mestre tinha sido um chamado ao arrependimento. Havia conforto nela, mas um conforto moderado. O reino do céu estava próximo, mas quem estava preparado para encontrá-lo? Era uma mensagem necessária, mas não era tudo o que o céu tinha a dizer.
 
                    E era inteiramente adequado que os fariseus jejuassem, pois o caminho do Senhor era para eles uma pesada carga a suportar. Eles certamente nada sabiam do que Jesus descrevia como "uma fonte a jorrar para a vida eterna" (João 4:14).
 
                    Mas estarem tristes não era direito para os amigos do Noivo. Jesus havia vindo para trazer plenitude de alegria (João 15:11). E era a alegria do maior casamento de todos, o casamento da terra e do céu! Chegaria o dia quando haveria necessidade de dizer aos seus discípulos que jejuassem; a tempestade que tiraria o Noivo deles já estava se formando. Mas até mesmo isso não seria capaz de afastar a profunda paz, a alegria exultante que ele lhes tinha dado (João 14:27-28; 15:11; 16:21-22). A festa de casamento recomeçaria finalmente numa explosão de triunfo, começando com um túmulo vazio e terminando com um esplendor de glória eterna (Apocalipse 19:6-9; 21:1-4). Cristãos, regozijem!
   


APRENDENDO COM ELI (PARTE 1)




ELI E SEUS FILHOS

Eli era sacerdote e juiz em Israel. Ocupava as posições mais elevadas e de maior responsabilidade que havia entre o povo de Deus. Como homem divinamente escolhido para os sagrados deveres do sacerdócio, e posto no país como a autoridade judiciária mais elevada, era ele olhado como um exemplo, e exercia grande influência sobre as tribos de Israel. Mas, embora tivesse sido designado para governar o povo, não governava a sua própria casa. 

Eli era um pai transigente. Amando a paz e a comodidade, não exercia a sua autoridade para corrigir os maus hábitos e paixões de seus filhos. Em vez de contender com eles ou castigá-los, submetia-se à sua vontade e os deixava seguir seu próprio caminho. 

Em vez de considerar a educação de seus filhos como uma das mais importantes de suas responsabilidades, tratou desta questão como se fosse de pequena relevância. O sacerdote e juiz de Israel não foi deixado em trevas quanto ao dever de restringir e governar os filhos que Deus dera aos seus cuidados. 

Mas Eli recuou deste dever, porque o mesmo implicava contrariar a vontade de seus filhos, e tornaria necessário puni-los e repudiá-los. Sem pesar as terríveis conseqüências que se seguiriam à sua conduta, condescendeu com seus filhos no que quer que desejassem, e negligenciou a obra de os habilitar para o serviço de Deus e para os deveres da vida.

De Abraão disse Deus: "Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo." Gên. 18:19. Eli, porém, permitiu que seus filhos o governassem. O pai se tornou sujeito aos seus filhos. 

A maldição da transgressão foi visível nas corrupções e males que assinalaram a conduta de seus filhos. Estes não tinham a devida apreciação do caráter de Deus nem da santidade de Sua lei. Para eles o Seu serviço era uma coisa comum. Desde a infância se haviam acostumado ao santuário e aos seus serviços; mas em vez de se tornarem mais reverentes perderam toda a intuição da santidade e significação do mesmo. 

O pai não lhes corrigira a falta de reverência para com a sua autoridade; não impedira ao desrespeito deles pelos serviços solenes do santuário; e, quando chegaram à maioridade, estavam cheios dos frutos mortíferos do ceticismo e da rebelião.

Se bem que totalmente incapazes para o ofício, foram postos como sacerdotes no santuário para ministrarem perante Deus. O Senhor dera as instruções mais específicas com relação à oferta de sacrifícios; mas estes homens ímpios levaram ao serviço de Deus o seu desrespeito à autoridade, e não deram atenção à lei das ofertas, que deveriam ser feitas da maneira mais solene. 

Os sacrifícios, que apontavam à morte de Cristo, no futuro, estavam destinados a conservar no coração do povo a fé no Redentor vindouro; daí o ser da máxima importância que as determinações do Senhor com relação aos mesmos fossem estritamente atendidas. 

As ofertas pacíficas eram especialmente uma expressão de ações de graças a Deus. Nestas ofertas apenas a gordura devia ser queimada no altar; certa porção especificada era reservada aos sacerdotes, mas a maior parte era devolvida ao ofertante, para ser por ele e seus amigos comida em uma festa sacrifical. Assim todos os corações deveriam ser com gratidão e fé encaminhados ao grande Sacrifício que deveria tirar o pecado do mundo.

Os filhos de Eli, em vez de se compenetrarem da solenidade deste serviço simbólico, apenas pensavam como poderiam dele fazer o meio para a satisfação própria. Não contentes com a parte que lhes tocava das ofertas pacíficas, exigiam uma porção adicional; e o grande número desses sacrifícios apresentados nas festas anuais dava aos sacerdotes oportunidade de se enriquecerem, à custa do povo. 

Não somente reclamavam mais daquilo a que tinham direito, mas recusavam-se mesmo a esperar até que a gordura estivesse queimada como oferta a Deus. Persistiam em reclamar qualquer porção que lhes agradasse, e, sendo-lhes negada, ameaçavam tomá-la pela violência.

A irreverência por parte dos sacerdotes logo despojou o serviço de sua significação santa e solene, e o povo "desprezava a oferta do Senhor". I Sam. 2:12-36. O grande sacrifício antitípico para o qual deveriam olhar em antecipação, não mais era reconhecido. "Era pois muito grande o pecado destes mancebos perante o Senhor."

Esses sacerdotes infiéis também transgrediam a lei de Deus e desonravam o ofício sagrado pelas suas práticas vis e degradantes; todavia, continuavam a poluir com sua presença o tabernáculo de Deus. Muitos dentre o povo, cheios de indignação ante o corrupto procedimento de Hofni e Finéias, deixaram de subir ao lugar designado para o culto. 

Assim o serviço que Deus ordenara era desprezado e negligenciado porque se achava ligado com os pecados de homens ímpios, ao mesmo tempo em que aqueles cujo coração era inclinado ao mal se tornavam audazes no pecado. A impiedade, a dissolução, e mesmo a idolatria, prevaleciam em terrível extensão.

Eli tinha errado grandemente em permitir que seus filhos ministrassem no ofício santo. Desculpando a sua conduta, sob um pretexto ou outro, tornou-se cego aos seus pecados; mas chegaram afinal a um ponto em que não mais ele podia cerrar os olhos aos crimes dos filhos. O povo se queixava das suas ações violentas, e o sumo sacerdote ficou pesaroso e angustiado. Não ousou permanecer em silêncio por mais tempo. Mas seus filhos haviam crescido sem a idéia de consideração para com qualquer pessoa a não ser para consigo mesmos; e agora não se preocupavam com quem quer que fosse. 

Viam a mágoa do pai, mas seus duros corações não se comoviam. Ouviam-lhe as brandas admoestações, mas não se impressionavam, tampouco modificavam sua má conduta, embora advertidos das conseqüências de seu pecado. Se Eli houvesse tratado com justiça seus ímpios filhos, teriam sido rejeitados do ofício sacerdotal, e punidos de morte. Temendo assim trazer a ignomínia e a condenação pública a seus filhos, manteve-os nos mais sagrados cargos de confiança. Permitiu também que misturassem sua corrupção com o santo serviço de Deus, e infligissem à causa da verdade um dano que os anos não poderiam apagar. Quando, porém, o juiz de Israel negligenciou sua obra, Deus tomou a questão em Suas mãos.

"Veio um homem de Deus a Eli, e disse-lhe: Assim diz o Senhor: Não Me manifestei, na verdade, à casa de teu pai, estando eles ainda no Egito, na casa de Faraó? E Eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para sacerdote, para oferecer sobre o Meu altar, para acender o incenso, e para trazer o éfode perante Mim; e dei à casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel. Por que dais coices contra o sacrifício e contra a Minha oferta de manjares, que ordenei na Minha morada, e honras a teus filhos mais do que a Mim, para vos engordardes do principal de todas as ofertas do Meu povo de Israel? Portanto, diz o Senhor Deus de Israel: Na verdade tinha dito Eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de Mim perpetuamente; porém agora diz o Senhor: Longe de Mim tal coisa, porque aos que Me honram honrarei, porém os que Me desprezam serão envilecidos. … E Eu suscitarei para Mim um sacerdote fiel que obrará segundo o Meu coração e a Minha alma, e Eu lhe edificarei uma casa firme, e andará sempre diante do Meu ungido." I Sam. 2:27-30 e 35.

Deus acusou Eli de honrar seus filhos mais do que ao Senhor. Eli permitira que a oferta designada por Deus como uma bênção a Israel se tornasse coisa desprezível, e isto em vez de levar seus filhos a envergonhar-se por suas práticas ímpias e abomináveis. Aqueles que seguem suas próprias inclinações, com uma afeição cega para com seus filhos, condescendendo com eles na satisfação de seus desejos egoístas, e não fazem uso da autoridade de Deus para repreender o pecado e corrigir o mal, tornam manifesto que estão honrado seus ímpios filhos mais do que a Deus. 

Estão mais ansiosos por defender a reputação deles do que glorificar a Deus; mais desejosos de agradar a seus filhos do que comprazer ao Senhor e guardar o Seu serviço de toda a aparência do mal.

Deus responsabilizou Eli, como sacerdote e juiz de Israel, pela condição moral e religiosa de Seu povo, e, em sentido especial, pelo caráter de seus filhos. Ele devia a princípio ter tentado restringir o mal por meio de medidas brandas; mas, se estas não dessem resultado, devê-lo-ia ter subjugado pelos meios mais severos. Incorreu no desagrado do Senhor por não reprovar o pecado e executar a justiça no pecador. Não se pôde contar com ele para que Israel fosse conservado puro. 

Aqueles que têm muito pouca coragem para reprovar o mal, ou que pela indolência ou falta de interesse não fazem um esforço ardoroso para purificar a família ou a igreja de Deus, são responsáveis pelos males que possam resultar de sua negligência ao dever. Somos precisamente tão responsáveis pelos males que poderíamos ter impedido nos outros pelo exercício da autoridade paterna ou pastoral, como se esses atos tivessem sido nossos.

Eli não dirigiu sua casa segundo as regras de Deus para o governo da família. Seguiu seu próprio juízo. O extremoso pai deixou de tomar em consideração as faltas e pecados dos filhos, em sua meninice, comprazendo-se com o pensamento de que após algum tempo eles perderiam suas más tendências. Muitos estão hoje a cometer erro semelhante. Julgam que conhecem um meio melhor para educar os filhos do que aquele que Deus deu em Sua Palavra. Alimentam neles más tendências, insistindo nesta desculpa: "São muito novos para serem castigados. 

Esperemos que fiquem mais velhos, e possamos entender-nos com eles." Assim os maus hábitos são deixados a se fortalecerem até que se tornam uma segunda natureza. Os filhos crescem sem sujeição, com traços de caráter que são para eles uma maldição por toda a vida, e que podem reproduzir-se em outros.

Não há maior desgraça para os lares do que permitir que os jovens sigam o seu próprio caminho. Quando os pais tomam em consideração todo desejo dos filhos, e com estes condescendem no que sabem não ser para o seu bem, os filhos logo perdem todo o respeito para com os pais, toda a consideração pela autoridade de Deus e do homem e são levados cativos à vontade de Satanás. A influência de uma família mal dirigida é dilatada, e desastrosa a toda a sociedade. Acumula uma onda de males que afeta famílias, comunidades e governos.

Por causa da posição de Eli, sua influência era mais vasta do que se ele fora homem comum. Sua vida familiar era imitada em todo o Israel. Os funestos resultados de seu proceder negligente e amante da comodidade, eram vistos em milhares de lares que se modelaram pelo seu exemplo. Se se condescende com os filhos em práticas ruins, ao mesmo tempo em que os pais fazem profissão de religião, a verdade de Deus é levada ao opróbrio. 

A melhor prova de cristianismo de uma casa é o tipo de caráter gerado pela sua influência. As ações falam mais alto do que a mais positiva profissão de piedade. Se os que professam a religião, em vez de aplicarem esforços ardorosos, persistentes e diligentes para manter um lar bem dirigido em testemunho dos benefícios da fé em Deus, forem frouxos em seu governo, e condescendentes com os maus desejos de seus filhos, estarão a fazer como Eli, e trarão injúria à causa de Cristo e ruína sobre si e suas casas. 

Mas, por maiores que sejam os males da infidelidade paterna sob qualquer circunstância, são eles dez vezes maiores quando existentes nas famílias daqueles que são designados para ensinadores do povo. Quando estes deixam de governar sua casa, estão, pelo seu mau exemplo, transviando a muitos. Sua culpa é tanto maior do que a dos outros quanto sua posição é de maior responsabilidade.

Fora feita a promessa de que a casa de Arão andaria diante de Deus para sempre; mas esta promessa fora dada sob a condição de que se dedicassem eles à obra do santuário com singeleza de coração, e honrassem a Deus em todos os seus caminhos, não servindo ao eu, nem seguindo suas próprias inclinações perversas. Eli e seus filhos tinham sido provados, e o Senhor os encontrara inteiramente indignos da exaltada posição de sacerdotes ao Seu serviço. E Deus declarou: "Longe de Mim." I Sam. 2:30. Ele não pôde cumprir o bem que tencionara fazer-lhes, porque deixaram de desempenhar a sua parte.

O exemplo dos que administram em coisas santas deve ser de maneira que incuta no povo a reverência para com Deus, e o receio de O ofender. Quando os homens, servindo de embaixadores "da parte de Cristo" (II Cor. 5:20) para falar ao povo acerca da mensagem de misericórdia e reconciliação, enviada por Deus, fazem uso de sua vocação sagrada qual manto para encobrir a satisfação egoísta ou sensual, constituem-se eles os agentes mais eficazes de Satanás. 

Como Hofni e Finéias, fazem com que os homens desdenhem a oferta do Senhor. Podem prosseguir com sua má conduta, em segredo, por algum tempo; mas, quando finalmente é apresentado seu verdadeiro caráter, a fé do povo recebe um abalo de que muitas vezes resulta a destruição de sua confiança na religião. Fica na mente uma desconfiança contra todos os que professam ensinar a Palavra de Deus. 

A mensagem do verdadeiro servo de Cristo é recebida com dúvida. Surge constantemente a pergunta: "Não se mostrará este homem ser como aquele que julgávamos tão santo, e achamos tão corrupto?" Assim a Palavra de Deus perde o seu poder sobre a alma dos homens.

Na reprovação de Eli a seus filhos acham-se palavras de uma significação solene e terrível – palavras que todos os que ministram em coisas sagradas bem fariam em ponderar: "Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando, porém, o homem contra o Senhor, quem rogará por ele?" I Sam. 2:25. 

Houvessem seus crimes lesado unicamente seus semelhantes, e poderia o juiz ter feito a reconciliação, indicando uma pena, e exigindo a devida restituição; e assim os transgressores poderiam ter sido perdoados. 

Ou, se não tivessem eles sido culpados de um pecado de presunção, uma oferta para o pecado poderia ter sido apresentada por eles. Mas seus pecados estavam de tal maneira entretecidos com seu ministério de, na qualidade de sacerdotes do Altíssimo, oferecerem sacrifício pelo pecado, e a obra de Deus foi de tal maneira profanada e desonrada perante o povo, que nenhuma expiação por eles poderia ser aceita. Seu próprio pai, embora fosse sumo sacerdote, não ousou interceder em favor deles; não os podia defender da ira de um Deus santo. 

De todos os pecadores, são os mais culpados os que lançam o desdém aos meios que o Céu proveu para a redenção do homem – pecadores estes que "de novo crucificam o Filho de Deus, e O expõem ao vitupério". Heb. 6:6.

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