Jesus e a mulher samaritana
A mulher samaritana quando descobriu que estava diante de um profeta,
quis saber de questões de ordem espiritual: adoração, e deixou suas
necessidades pessoais em segundo plano.
A mulher samaritana
“Disse-lhe a
mulher: Senhor, vejo que és profeta!” ( Jo 4:19 )
O evangelista João deixou registrado
que tudo o que escreveu tinha por objetivo levar os seus leitores a crerem que
Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo, e crendo, tivessem vida em
abundância “Estes, porém, foram escritos para que
creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em seu nome” ( Jo 20:31 ).
Em especial, há na história da mulher samaritana elementos que
demonstram que Cristo é o Filho do Deus vivo, o Filho de Davi prometido nas
Escrituras.
O evangelista João deixou registrado que, quando Jesus verificou que os
fariseus haviam ouvido que Ele operava muitos milagres e que batizava muito
mais que João Batista, deixou a Judeia e dirigiu-se para a Galileia ( Jo 4:
2-3), e que teve que passar por Samaria ( Lc 17:11 ).
Jesus foi a uma cidade de Samaria chamada Sicar, cujo território era uma
herdade que Jacó deu ao seu filho José ( Jo 4:5 ). O local onde Jesus foi em
Sicar possuía um poço perfurado por Jacó.
O evangelista evidencia a humanidade de Jesus ao descrever seu cansaço,
fome e sede. Ao mencionar que seus discípulos foram comprar comida, dá-nos a
entender que Jesus precisa se alimentar, que se assentou porque estava cansado
e, ao solicitar à mulher samaritana água, fica implícito que estava com sede.
Embora a tônica da abordagem do evangelista não tenha sido de demonstrar
que o Senhor Jesus estava com sede de água, pois o que ficou evidente foi a sua
necessidade de anunciar as boas novas do reino à mulher, fica explicito que Jesus
veio em carne ( 1Jo 4:2 -3 e 2Jo 1:7).
Jesus se assentou junto ao poço de
Jacó, perto da hora sexta (meio-dia) ( Jo 4:6 e 8 ), momento em que uma mulher
samaritana chega junto à fonte para tirar água (nomear alguém pelo nome da
cidade era desonroso, pois demonstrava que tal indivíduo não pertencia à
comunidade de Israel), e foi abordada pelo Mestre que lhe dirigiu a palavra
dizendo: – Dá-me de beber ( Jo 4:7 ).
A atitude do Senhor para com a samaritana (solicitar água) trouxe à tona
o que todo homem e mulher possuem de mais nobre: a razão, o raciocínio ( Jó
32:8 ).
Obrigatoriamente a mulher formulou
uma questão com base em uma gama de conhecimento prévio. Ela não formulou o
pensamento mais brilhante da humanidade, mas trouxe a lume uma questão
importante para aquela mulher e para o seu povo: – Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim,
que sou mulher samaritana? ( Jo 4:9 ).
Os samaritanos eram discriminados pelos judeus, mas Jesus, apesar de ser
Judeu, não deu importância a esta questão, antes a mulher serviu muito bem ao
propósito d’Ele naquele momento.
Na pergunta, a mulher destaca que era mulher e ao mesmo tempo
samaritana, ou seja, que havia um impedimento duplo àquele homem que,
aparentemente, deveria ser mais um judeu zeloso da sua religiosidade.
Muitos questionamentos surgiram na cabeça da samaritana, pois Jesus
ignorou práticas e regras pertinentes ao judaísmo ao solicitar água. – Será que
ele não percebeu que sou mulher e samaritana? Será que ele beberá da água que
eu lhe der sem receio de se contaminar?
O
Dom de Deus
Depois de despertar o raciocínio da
samaritana, Jesus estimula ainda mais o interesse da mulher: – Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te
diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.
A mulher samaritana não alcançou de
imediato a excelência das palavras de Cristo, pois ela não possuía experiência
na verdade “Mas o mantimento sólido é para os
perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para
discernir tanto o bem como o mal” ( Hb 5:14 ).
Se a samaritana tivesse a mente
exercitada na verdade não faria a pergunta: – Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é
fundo; onde, pois, tens a água viva? Pela argumentação, dá para
perceber que a Samaritana se foca na impossibilidade de alcançar água sem os
meios necessários, porém, não contestou o que Jesus afirmou sobre possuir água
viva.
Não considerando a argumentação
inicial de Jesus acerca do dom de Deus, ela analisou: – És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu
o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado?
Oferecer uma alternativa de água sem ser a água do poço de Jacó fez
parecer à samaritana que aquele judeu desconhecido era, no mínimo, presunçoso,
pois se colocou em uma posição superior à de Jacó, que deixou o poço como
legado aos seus filhos e, que naquele momento, provia a necessidade de muitos
samaritanos.
As questões seguintes precisavam de
respostas: – Tu não tens com que tirar
água e o poço é fundo! Onde tens água viva?
Mas Jesus estava trabalhando para que o “ouvir” daquela mulher fosse
despertado pela palavra de Deus, pois sua proposta dava a conhecer que Ele era,
de fato, superior ao próprio pai Jacó.
É neste ponto que estava a deficiência de conhecimento da samaritana,
pois se ela conhecesse quem era Jesus, concomitantemente conheceria o dom de
Deus, pois Cristo é o dom de Deus.
Se ela conhecesse quem era que
pedia: – Dá-me de beber, saberia que Ele
era maior que o pai Jacó, saberia que Cristo era o descendente prometido a
Abraão em quem todas as famílias da terra seriam bem-aventuradas ( Gn 28:14 ).
Se ela conhecesse quem era o Cristo, veria que através da água que
Cristo estava oferecendo, de fato e de direito ela se tornaria um dos filhos de
Abraão. Se ela conhecesse a Cristo, veria que os filhos segundo a carne não são
os filhos de Abraão, e sim os filhos da Fé, a descendência do último Adão
(Cristo) que estava se manifestando ao mundo ( Gl 3:26 -29; Rm 9:8 ).
Se ela conhecesse a Cristo, veria que apesar de fazer parte entre os
últimos poderia tomar parte entre os primeiros, pois através do Descendente é
possível a todos os povos serem bem-aventurada como o crente Abraão ( Mt 19:30
).
Se ela conhecesse Aquele que pedia de
beber e que estava lhe oferecendo água viva, veria que Ele é o dom de Deus,
pois é Cristo que dá vida ao mundo ( Jo 1:4 ). Ela veria que Ele é o sumo
sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, por quem todos os homens, de
qualquer tribo ou língua, podem oferecer dons e serem aceitos por Deus “Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro,
recebeste dons para os homens, e até para os rebeldes, para que o SENHOR Deus
habitasse entre eles” ( Sl 68:18 ).
Deus deu testemunho da oferta (dons) que Abel oferecera por causa
daquele que subiria ao alto levando cativo o cativeiro, o sumo sacerdote
constituído por Deus sem principio e fim (eterno) de dias ( Hb 7:3), que
ofereceu-se a si mesmo como Cordeiro imaculado a Deus, e só através d’Ele os
homens são aceitos por Deus ( Hb 7:25 ).
As
necessidades diárias
A pergunta da mulher: – És tu maior que o nosso pai Jacó?, foi
pertinente, porém, ainda não lhe permitia identificar quem era aquele homem que
lhe pedia água da fonte de Jacó e, ao mesmo tempo, ofereceu água viva “Qualquer que beber desta água tornará a ter sede;
Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que
eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna” ( Jo 4:14 ).
É de se estranhar que a mulher samaritana, que teve um pensamento
elaborado ao perceber que Jesus estava dando a entender ser maior que o pai
Jacó, tenha aceitado a proposta d’Ele, que possuía uma água que impediria de
ter sede, no entanto pedir-lhe água junto ao poço de Jacó.
A proposta de Jesus era clara: ‘Aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá
sede’, e para que ele queria água, se tinha água superior?
A mulher se interessou pela oferta de Jesus, porém o seu entendimento
estava turvado.
O que levou a mulher a querer da água que Jesus lhe oferecera, mesmo
estando o Mestre com sede?
A resposta encontra-se no pedido da
samaritana: – SENHOR, dá-me dessa água, para que
não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la. Em nossos dias é quase inimaginável
o trabalho que aquela mulher tinha para adquirir um pouco de água. Era a hora
sexta quando a mulher fora buscar água para suprir as suas necessidades
básicas.
Enquanto em nossos dias o que muitos entendem por básico, essencial, é
diferente do que aquela mulher necessitava, é possível dimensionar o quanto
aquilo que o homem entende por essencial turva o raciocínio. Se o que é
essencial compromete o entendimento quanto ao proposto no evangelho, que se
dirá dos negócios desta vida?
Um homem que a mulher samaritana não conhecia pediu água e, agora
oferecia uma água com propriedades inimagináveis: saciaria sua sede de modo a
não mais necessitar beber água novamente.
Quando a mulher demonstrou interesse
pela ‘água viva’, Jesus lhe disse: –
Vai, chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu: – Não tenho marido. Jesus
respondeu: – Disseste bem: Não tenho marido;
Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto
disseste com verdade.
Observe que Jesus não emitiu um juízo de valores sobre a condição da
mulher, pois Ele mesmo disse que a ninguém julga segundo a carne, pois Ele não
veio julgar o mundo, mas salvar ( Jo 8:15 ; Jo 12:47 ).
Neste momento a mulher reconheceu
Jesus como profeta: – Senhor, vejo que és profeta! É interessante a mulher
samaritana ter reconhecido aquele judeu como profeta de pronto e, ao mesmo
tempo, surpreendentemente, formular a pergunta que vem a seguir: – Nossos pais adoraram neste monte, e vós
dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.
Quando a mulher samaritana descobriu que Cristo era profeta, deixou as
suas necessidades básicas de lado, e passou a indagar qual o local de adoração.
Como samaritana, ela conhecia muito bem a história que levou os judeus a
não se comunicarem com os samaritanos. No livro de Esdras consta um dos
desentendimentos que houve entre judeus e samaritanos em virtude dos judeus não
permitirem que os samaritanos ajudassem a construir o segundo templo sob ordem
de Ciro ( Ed 4:1 -24), sendo que a sedição teve início porque o rei da Assíria
instalou nas cidades de Samaria povos oriundos da Babilônia que passaram a
habitar a região, substituindo o povo de Israel que anteriormente foram levados
cativos e, que adotaram a religião judaica ( 2Rs 17:24 comp. Ed 4:2 e 9-10).
A questão quanto ao local da adoração era milenar
e, diante de um profeta, suas pendengas diárias deixaram de ter importância,
pois a oportunidade era única: descobrir o local de adoração e como adorar.
É curioso saber qual seria a reação, em nossos dias, caso um cristão
descobrisse que estava perante um profeta? Quais seriam as indagações para
alguém que se apresentasse como profeta?
Imagino que se os cristãos dos nossos dias encontrassem um profeta, as
perguntas seriam: – Quando vou adquirir minha casa? Quando terei meu carro?
Quando vou casar? Com quem vou casar? Meu filho será homem ou mulher? Quando
quitarei minhas dividas? Vou ficar rico? Etc.
Mas a samaritana, ao descobrir que estava perante um profeta, quis saber
de questões de ordem espiritual, deixando suas necessidades terrenas em segundo
plano. Não era importante saber se teria um marido, ou se iria deixar de
caminhar até o poço de Jacó para tirar água. Ora, a questão do lugar da
adoração arrastava-se por gerações e aquela era uma oportunidade que não
poderia perder.
Com a declaração: – Vejo que és profeta!, podemos considerar que a mulher
compreendeu o que realmente estava acontecendo.
Diferente dos outros judeus que se fixavam na sua religiosidade,
legalismo e ritualismo, os profetas de Israel não eram judeus presos a tais
amarras.
Foi o mesmo que dizer: – Ah, agora
compreendi! O senhor é como Elias e Eliseu, profetas que não se fizeram de
rogados perante os outros povos, visto que ambos foram a outras nações e,
inclusive entraram na casa de órfãos, viúvas, etc. Somente sendo um profeta
para se comunicar com uma mulher samaritana, pois Elias foi à casa de uma viúva
que habitava em Sarepta, nas terras de Sidon e lhe pediu água a beber: “Traze-me, peço-te, num vaso um pouco de água que
beba” ( 1Rs 17:10 ). Eliseu, por sua vez, servia-se do que lhe era
oferecido por uma mulher rica que habitava na cidade de Suném, que
semelhantemente era nomeada a partir do nome da cidade como era o caso da
samaritana ( 2Rs 4:8 ).
É de extrema importância analisar a história de Nicodemos comparando com
a da samaritana, pois diante de Deus um homem com todas as qualidades morais e
intelectuais como era o caso de Nicodemos é igual a alguém sem mérito algum,
como era o caso da mulher samaritana.
A
adoração
Foi quando Jesus respondeu: – Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste
monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Jesus ensinou à samaritana que
havia chegado o tempo previsto, pois a adoração não mais estava vinculado a um
monte, seja o monte de Jerusalém ou o de Samaria.
Jesus solicitou à mulher samaritana
que cresse n’Ele e que acatasse o seu ensinamento “Mulher, crê-me…” (v. 21). Em seguida aborda uma
questão comum aos judeus e samaritanos: “Vós
adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos
judeus”. Embora os samaritanos entendessem que adoravam a Deus, contudo
adoravam-No sem conhecê-Lo. A condição dos samaritanos é a que o apóstolo Paulo
retratou aos cristãos em Éfeso:
“Portanto,
lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados
incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos
homens; Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de
Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no
mundo” ( Ef 2:11 -12).
Ter disposição para adorar a Deus não
confere ao homem a condição de verdadeiro adorador, pois igualmente os judeus
adoravam, e adoravam o que conheciam, pois a salvação vem dos judeus ( Jo 4:22
), porém, tal adoração não era em espirito e em verdade (v. 23). Sobre este
fato, protestava os profetas: “Porque
o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com
os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu
temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” ( Is 29:13 ).
A declaração de Jesus iguala judeus e
samaritanos, pois ambos acreditavam que adoravam a Deus, porém, a adoração
deles era algo proveniente somente da boca, mas longe dos ‘rins’ “Plantaste-os, e eles se arraigaram; crescem, dão também
fruto; chegado estás à sua boca, porém longe dos seus rins” ( Jr 12:2 ).
Jesus apresenta a concepção
verdadeira de adoração, quando diz: “Mas
a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (v. 23 ). A
adoração a Deus só é possível em espírito e em verdade, diferente da adoração
com os lábios, que se refere a uma ‘aproximação’ de Deus somente com os lábios,
possui aparência, porém, o coração continua alienado de Deus.
O que o Pai procura? Verdadeiros
adoradores, ou seja, os que adoram em espirito e em verdade. Segundo as
Escrituras, os olhos de Deus procuram os justos, os fiéis sobre a face da
terra, pois somente os que trilham o caminho reto podem servi-lo “Os meus olhos estarão sobre os fiéis da terra,
para que se assentem comigo; o que anda num caminho
reto, esse me servirá” ( Sl 101:6 ), o que contrasta
com a condição do povo de Israel: “Todavia
me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos, como um povo que
pratica justiça, e não deixa o direito do seu Deus; perguntam-me pelos direitos
da justiça, e têm prazer em se chegarem a Deus” ( Is 58:2 ).
Ou seja, Deus está próximo dos que O
invocam, porém, dos que O invocam em verdade “Perto
está o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade” ( Sl 145:18
). Somente invocando a Deus ‘em verdade’ a inimizade é desfeita e a comunhão é
restabelecida a ponto de o homem se assentar com
Deus “E nos ressuscitou juntamente com ele e
nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” ( Ef 2:6 ).
Como invocar a Deus em verdade? Entrando pela porta da retidão. Somente
aqueles que entram pela porta da retidão rende verdadeiro louvor a Deus ( Sl
118:19 ). Só os que entram pela porta do Senhor são fiéis e justos ( Sl 118:20
), e tão somente sobre estes, os olhos do Senhor está.
Jesus deixa claro que: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o
adorem em espírito e em verdade”, ora, Deus é Espírito, e Jesus
complementa que as palavras que Ele disse são espírito e vida ( Jo 7:63 ),
portanto, para adorar em espírito e em verdade é necessário ao homem nascer da
água e do Espírito ( Jo 3:5 ), nascer das palavras ditas por Cristo.
A
certeza da mulher samaritana
Apesar da necessidade diária de ter
que buscar água, o que indicava a condição humilde daquela mulher, pois não
dispunha de um escravo, ela possuía uma esperança. Apesar de não pertencer à
comunidade de Israel, ela tinha um certeza: – Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem;
quando ele vier, nos anunciará tudo.
De onde veio tamanha certeza? Ora, tal certeza era proveniente das
Escrituras. A confiança dela era firme, pois ela não esperava ter um poço
particular, ou um marido só seu. As Escrituras não prometiam melhora financeira
ou familiar, mas indicava que haveria de vir o Cristo, o mediador entre Deus e
os homens, e que Ele daria a conhecer aos homens tudo o que é pertinente ao
reino de Deus.
Diante da confiança da mulher nas
Escrituras, Jesus se revela: – Eu
o sou, eu que falo contigo! Por que Jesus se revelou àquela mulher, se em
outras passagens bíblicas ele orienta os seus discípulos a não revelarem a
ninguém que Ele era o Cristo? ( Mt 16:20 ) Porque a verdadeira confissão é aquela
que decorre do testemunho que as Escrituras dá acerca do Cristo ( Jo 5:32 e 39
), e não de sinais miraculosos ( Jo 1:50 ; Jo 6:30 ).
Naquele instante os discípulos
chegaram e ficaram perplexos com o fato de Cristo estar falando com uma
mulher “E nisto vieram os seus discípulos, e
maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe
disse: Que perguntas? ou: Por que falas com ela?” (v. 27).
A mulher samaritana abandonou o seu
intento e correu à cidade e convocou os homens para que investigassem se o
judeu junto à fonte de Jacó era o Cristo “Deixou,
pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens: Vinde,
vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o
Cristo?” (v. 28 e 29)
Como à época uma mulher era uma
cidadã de segunda classe, ela não impôs a sua crença, antes incita os homens a
irem até Jesus e que analisassem as palavras d’Ele. Os moradores da cidade
saíram e foram ter com Cristo “Saíram, pois, da cidade, e foram
ter com ele” (v. 30).
Novamente as marcas de um verdadeiro
profeta tornaram-se evidente: “E
escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, a
não ser na sua pátria e na sua casa” ( Mt 13:57 ). Entre os
estrangeiros Jesus foi honrado como profeta, diferente de sua pátria e casa (
Mt 13:54 ).
Os discípulos rogaram ao
Mestre: – Rabí, come. Jesus
respondeu-lhes: – Uma comida tenho a comer que vós não
conheceis.
A concepção deles ainda estava focada
em necessidades humanas. Foi quando Jesus lhes declarou que estava ‘faminto’
para fazer a vontade do seu Pai, e realizar a sua obra. Que obra seria? A
resposta está em João 6, verso 29: “A
obra de Deus é esta: crede naquele que ele enviou”.
Enquanto os seus discípulos sabiam ler os tempos em que se dava o
plantio e a sega deste mundo ( Jo 4:34 ), Jesus estava ‘vendo’ os campos
brancos para a ceifa do Pai. Desde aquele momento em que Cristo estava se
manifestando ao mundo os ceifeiros já recebiam o seu salário, e a colheita para
a vida eterna já havia iniciado, e ambos, o semeador e ceifeiro, estavam
regozijados pela obra realizada (v. 36).
Jesus cita um ditado: “Um é o semeador, e outro o ceifeiro” (v. 37), e
alerta os seus discípulos que estavam sendo comissionados a ceifar em campos
que não trabalharam (v. 38). Que campos são estes? Ora, os campos que Jesus viu
como prontos para a colheita eram os gentios. Eles nunca haviam trabalhado
entre os gentios, agora foram comissionados a trabalhar entre os gentios, pois
outros já haviam feito este mister, ou seja, alguns profetas como Elias e
Eliseu haviam ido aos gentios prefigurando a missão que haveriam de desempenhar
(v. 38).
Por causa do testemunho da mulher,
que disse: – Disse-me tudo o que tenho feito,
muitos dos samaritanos creram em Cristo. Como? Por ela ter dito: – Disse-me tudo o que tenho feito, Jesus foi ter com os
samaritanos e permaneceu dois dias com eles, e creram nele por causa das suas
palavras ( Jo 4:41 ).
Eles não creram em Cristo somente pelo testemunho da mulher, antes
creram porque, ouvindo Cristo anunciar-lhes o reino dos céus, creram que Ele
verdadeiramente era o Salvador do mundo ( Jo 4:42 ).
Distorções
Enquanto a proposta das Escrituras e de Cristo era que os homens cressem
que Ele é o Salvador do mundo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo,
etc., em nossos dias há diversos tipos de evangelhos que não promovem a
verdadeira obra de Deus, que é: que os homens creiam em Cristo como o enviado
de Deus.
A esperança deles não é quanto ao mundo vindouro, em que Cristo virá e
levará os que creem para junto d’Ele ( Jo 14:1 -4), antes fixam se nas coisas e
anseios deste mundo.
Muitos falsos mestres chamam a atenção dos incautos apontando-lhes
necessidades diárias. Por quê? Porque as necessidades dos homens turvam o
raciocínio e não os deixa analisar questões lógicas essenciais. O discurso dos
falsos mestres sempre aponta para as necessidades do dia a dia para confundir
os incautos, pois os seus discursos são vãos.
Há aqueles que se cercarão de mestres segundo os seus interesses e que
se voltam às fábulas ( 2Tm 4:4 ). Outros consideram que Cristo é fonte de
lucro, e cooptam aqueles que querem ficar ricos ( 1Tm 6:5 -9).
Mas, há também aqueles que possuem aparência de piedade, que não passa
de mais uma religião, pois a mensagem deles tem por alvo os órfãos e as viúvas,
lutam pela causa dos pobres e necessitados de bens materiais, porém, negam a
eficácia do evangelho, pois contrariam verdades essências como a ressurreição
futura dentre os mortos e a volta de Jesus ( 2Tm 2:18 e 3:5; “Porque, qual é a nossa esperança, ou gozo, ou
coroa de glória? Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus
Cristo em sua vinda?”
( 1Ts 2:19 ).