Gideão
Homem Valente ou Homem
Tímido?
Os midianitas oprimiam os
israelitas, ao longo de 7 longos anos. A cada ano que passava, os habitantes de
Midiã tinham por hábito invadir a terra dos hebreus e apossar-se dos seus
produtos alimentares, assim como de todos os seus animais. Para sobreviver, os
israelitas habituaram-se a esconder os alimentos do inimigo, antes que o mesmo
atacasse.
Gideão estava a preparar comida para
escondê-la, quando o Anjo de Senhor apareceu. Imagine este homem, a trabalhar
com medo do inimigo, quando, de súbito, ouviu as palavras do Anjo: “O Senhor é contigo, homem valente”
(Juízes 6.12). Pela resposta de Gideão, percebemos que ele nem sequer pensou no
significado da expressão”homem valente”,
pois entrou directamente em discussão com o Anjo sobre a presença de Deus. Ele
não entendia como é que Deus, estando com o povo, poderia deixar Israel sofrer.
Deus continuou a conversa, desafiando Gideão a resolver o problema. Já que ele
duvidara da presença de Deus, deveria ir na sua própria força (Juízes 6.14).
Isso não! Gideão, agora, sentia-se de tal forma incapaz, que procurava
esquivar-se à missão dada por Deus. Ele explicou que era uma pessoa
insignificante, de uma família sem importância, de uma tribo sem destaque.
Gideão não se apresentou ao Senhor como homem valente, porem Deus iria fazer
dele um líder corajoso.
A verdadeira força do servo do
Senhor não vem de si mesmo, e sim de Deus. Ninguém é forte o bastante para
resolver os seus próprios problemas sozinho, especialmente quando falamos sobre
o nosso problema principal: o pecado.
Dependemos de Deus e da Sua Graça
(Efésios 2.8-9). Paulo disse: “tudo posso
naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13).
Os homens valentes, hoje em dia, são
aqueles que confiam no Senhor.
O Clamor
Como já vimos, o estado espiritual
de Israel estava deteriorado. Como consequência, também o estado económico e
politico decaiu, tornando a vida naquele pais um desespero. Os filhos de Israel
semearam rebeldia, prostituição e idolatria e colheram os seus frutos. Diante
de tamanha debilidade com a presença maciça e destruidora dos midianitas, os
filhos de Israel, então, clamaram ao Senhor.
O clamor é diferente da oração. Na
oração, as palavras soam como súplicas ou até mesmo em forma de gemidos. Mas o
clamor não! O clamor só é expresso perante uma situaçãode extremo desespero. É
preciso chegar ao fundo do poço ou no limite da dor e aflição para se estar
habilitado ao clamor.
Quando os autores sagrados registam
o clamor dos filhos de Israel, trata-se realmente da expressão mais profunda de
angústia, dor e desespero. Porque enquanto se conta com o fio de esperança nos
próprios recursos, não é possível manifestar o verdadeiro clamor.
O Chamamento de Gideão
Já vimos que Deus fez surgir lideres
em Israel em diferentes ocasiões, perante diferentes situações. Assim foi com
Otniel, Eúde, Sangar, Débora e Baraque. Mas o chamamento de Gideão foi um caso
à parte, tendo em consideração que o próprio Anjo do Senhor, provavelmente o
Senhor Jesus, veio, pessoalmente, à sua presença. A aparição do Senhor no seu
chamamento mostra que Gideão tinha algo que o diferenciava dos seus
antecessores. Deus não apareceu, pessoalmente, a todos os Seus escolhidos,
apenas alguns foram especiais. Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e Josué foram dos
poucos privilegiados até aquela época. E Gideão faz parte dessa lista especial.
Mas, porquê?
Porque o coração de Gideão “pulsava”
de acordo com o de Deus! A sua profunda expressão de revolta e indignação, na
realidade, era a de Deus!
O sofrimento e a dor de um povo
reflecte o sentimento de Deus pela humanidade. E quando alguém sente essa mesma
dor de Deus, é sinal de que está a ser chamado. No diálogo com o Anjo, Gideão
manifestou o que Deus tinha no coração: revolta e indignação pela calamidade
imposta pelos inimigos ao Seu povo. Por isso, Deus veio pessoalmente até ele!
Aos olhos de Gideão não era
admissível aceitar a crença num Deustão poderoso e viver oprimido pelos
inimigos. Como seria possível crer num Deus Todo-Poderoso e viver nos limites
do desespero, da opressão e da dor?
Só mesmo uma fé destituída de
inteligência pode combinar a crença em Deus com a fome, miséria, dividas,
doenças, lares destruídos, enfim, com a desgraça total!
A Força de Gideão
A força de Gideão, obviamente, não
estava no seu exterior, mas sim no mais profundo de si, isto é, tinha a firme
convicção que não podia aceitar a situação imposta pelos inimigos em razão da
existência do Deus de Abraão. O maior problema das pessoas até nem é em si a
situação difícil, mas o que elas pensam a respeito da mesma. Se alguém está a
enfrentar um determinado mal e não crê numa saída, como irá então lutar contra
ele? Entende-se agora por que razão o Senhor Jesus perguntou ao cego: “Que
queres que Eu te faça?” (Mc. 10:51).
O Senhor conhecia perfeitamente a
necessidade do cego, sobretudo porque era algo evidente aos olhos humanos! Mas
o Senhor queria a confissão da crença! Ou seja, a manifestação da crença na
solução do seu problema. Claro! Se o cego não acreditasse na sua cura, jamais
iria recorrer ao Senhor Jesus. Para a pessoa se ver livre das suas mazelas, em
primeiro lugar tem de crer que isso é possível. E essa crença é, justamente, a
sua força!
Essa foi exactamente a força de
Gideão: energia interior capaz de conduzir a pessoa à luta e à conquista da
vitória. E tudo o que o Anjo deu a Gideão foi uma única palavra: VAI! Aliás, a mesma que o Senhor Jesus
deu ao cego: Vai!
O combustível capaz de mover um motor é a gasolina, querosene, álcool,
oxigénio, gás, electricidade. O combustível da vida é o oxigénio, mas o
combustível que conduz o ser humano à vitória é a fé de Deus. E para quem
quiser conquistar os benefícios da fé, há que seguir os seus impulsos e tomar
uma atitude. A mulher ou o homem de Deus tem o seu “tanque” repleto de combustível.
Mas, se não ligar o motor, isto é, se não colocar em acção a sua crença, de
nada adianta estar cheio de combustível, ou cheio do Espírito Santo. A fé
sobrenatural é a energia de Deus no nosso interior. No entanto, Ele não nos
pode obrigar a agir! Nós é que temos de agir por conta própria!
O anjo de Deus escolheu Gideão no
meio de milhões de pessoas entre o seu povo, porque ele “tinha o tanque cheio”. No entanto, desconhecia o seu potencial, o
poder existente no seu interior. Porquê? Porque os seus olhos espirituais
estavam fechados. Enquanto dava atenção apenas às informações dos olhos
físicos, só conseguia ver dificuldades: miséria, fome, medo, humilhação, poder
dos inimigos, debilidade de Israel, etc. Mas uma voz gritava dentro de si: Não!
Não é possível esta situação continuar! O meu Deus é o mesmo do passado, é o
Deus de meus pais, Abraão, Isaque e Israel! Se Ele os livrou no passado, tem de
nos livrar no presente! Quer dizer: ao mesmo tempo que os seus olhos físicos
que chamavam a atenção para a situação vigente, pelo contrário, os seus olhos
espirituais reclamavam dentro de si...
Havia um conflito intimo: por um
lado a voz dos sentimentos impostos pela visão física; por outro, a voz da fé
imposta pelo conhecimento do Deus vivo.
E, quando o Anjo lhe apareceu, fez
apenas acender a chama da sua força, dizendo: que esperas? Vai... e salva Israel! Não te mando Eu? Vai, agora! ...
Já!...
Alguma vez pensou que a fé está
intimamente ligada à acção! Pois é... Fé é acção! É atitude!...