O Reino Milenar
de Jesus Cristo
|
|
LIÇÕES DE VIDA E ENSINAMENTOS - TUDO SOBRE OS PERSONAGENS MAIS MARCANTES DA BÍBLIA SAGRADA - OS VILÕES E HERÓIS DA BÍBLIA SAGRADA E SUAS EXPERIÊNCIAS
O Reino Milenar
de Jesus Cristo
|
|
ASAFE - Uma Exposição do Salmo 73
Nos últimos anos, mais do que em qualquer outro tempo, as pessoas tem vivido difíceis momentos econômicos e sociais. Esses problemas atingem todos os homens em todos os contextos da vida. Isso inclui também o povo de Deus. Em nossas Igrejas há muitos desempregados e não poucos os que vivem de um salário irrisório e humilhante.
Diante de tudo isso, como é natural, algumas questões têm vindo à mente de muitos
crentes: Por que eu sou servo de Deus e passo por esse tipo de problemas? Por
que Deus não estabelece uma nítida distinção
entre o seu povo e os incrédulos também nessa crise econômica?
e ainda: Por que há homens maus e
irreverentes que estão vivendo bem,
financeiramente, mesmo em meio à essa crise, enquanto
há tantos crentes sofrendo?
Na realidade essas questões não são novas e também não são peculiares apenas a
esses nossos dias tumultuados e repletos de insegurança.
Asafe foi um dos principais cantores de Israel. É muito provável que ele tenha até mesmo fundado uma escola particular de composição de salmos. Sua idade devia oscilar entre os 60 e os 70 anos quando escreveu o Salmo 73 e, por isso, as experiências que ele narra nessa texto, em linguagem teológica filosófica e poética, se revestem de profunda significação; elas são a aglutinação de uma profunda experiência humana como a irretorquível inspiração do Espírito Santo retratando os fatos da alma.
"Com efeito Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo. Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos. Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos. Para eles não há preocupações, o seu corpo é sadio e nédio. Não partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros homens. Daí a soberba que os cinge como um colar, e a violência que os envolve como manto. Os olhos saltam-lhes da gordura; do coração brotam-lhes fantasias. Motejam e falam maliciosamente; da opressão falam com altivez. Contra os céus desandam a boca, e a sua língua percorre a terra. Por isso o seu povo se volta para eles, e os tem por fonte de que bebe a largos sorvos. E diz: Como sabe Deus? Acaso há conhecimento no Altíssimo? Eis que são estes os ímpios; e sempre tranqüilos aumentam suas riquezas.
Com efeito, inutilmente
conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência. Pois de contínuo sou
afligido, e cada manhã castigado. Se eu pensara em falar tais
palavras, já aí teria traído a geração de teus filhos.
Em só refletir para
compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário
de Deus e atinei com o fim deles. Tu certamente os pões em lugares
escorregadios, e os fazes cair na destruição. Como ficam de súbito assolados
totalmente aniquilados de terror] Como ao sonho, quando se acorda, assim, ó
Senhor, ao despertares, desprezarás a imagem deles.
Quando o coração se me amargou
e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um
irracional à tua presença. Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela
minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho, e depois me recebes na
glória.
Quem mais tenho eu no céu? Não
há outro em quem eu me compraz a na terra. Ainda que a minha carne e o meu
coração desfalecem. Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para
sempre. Os que se afastam de ti, eis que perecem; tu destróis todos os que são
infiéis para contigo.
Quanto a mim, bom é estar
junto a Deus; no Senhor Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus
feitos.
Imagine-se com 60 anos e, de repente, perdendo a fé. Se, um dia, você, depois de séria e profunda reflexão, chegasse à conclusão de que toda a sua vida até àquele momento poderia nada mais ter sido do que um terrível desperdício. Pois bem, foi exatamente assim que Asafe se sentiu. Durante toda a sua vida ele crera na bondade de Deus para com o seu povo, e especialmente, para com os homens de coração puro: "Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo," (v.1).
Subitamente, ele começa a colocar em dúvida
essa bondade de Deus. Apesar de ter crido na justiça e misericórdia
do Senhor durante toda a existência, houve um dia no
qual pressentiu estar pisando o limiar da apostasia. "Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés" (v.2).
Asafe percebeu que seus
pensamentos o estavam guiando a um caminho escorregadio. Na realidade, ele
descobriu que faltou muito pouco para que abandonasse a fé. A lição que daí obtemos é a
de que os homens mais firmes e ortodoxos desse mundo podem passar por terríveis momentos de conflito filosófico e teológico.
Por inferência, o salmista nos ensina ainda
mais duas coisas: a primeira delas é não nos desesperarmos quando, porventura, virmo-nos
assolados por esse tipo de sentimento em relação à justiça e à bondade de Deus no mundo presente. A outra é que devemos ser mais amorosos e compreensivos com
aqueles que, ao nosso lado, encontram-se na dúvida.
No verso 3, Asafe nos dá a razão da sua "quase
queda": "Pois eu invejava os
arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos."
Sempre que um crente começa a cobiçar o estilo de vida
nababesco de homens sem absolutos morais e espirituais, ele acaba na mesma
situação conflituosa de Asafe e a
pergunta que, normalmente, desencadeia tal processo de perturbação filosófica é a seguinte: Por que aquele homem prospera apesar da
sua maldade? ou: Por que Deus não distribui as coisas
equanimente manifestando assim a sua justiça no
tempo presente?
Vejamos quais os elementos específicos que motivaram tal perturbação em Asafe. Um deles é o perfeito estado de saúde dos homens maus. "Para eles não há preocupações, seu corpo é sadio e nédio" (v.4).
Se fosse no século XX, as questões de Asafe provavelmente se desenvolveriam da seguinte maneira: "Por que alguns conhecidos play-boys gozam de perfeita saúde durante toda a vida ao passo que muitos homens de Deus estão morrendo de câncer no auge do ministério sagrado?"
Por outro lado, o salmista concluiu que os maus ganhavam a vida apenas na base do emprego sem necessidade real de trabalho: "Não partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros homens" (v.5).
A mesma pergunta poderia ser colocada a
partir de várias situações diferentes. Talvez alguém dentro de um ônibus
superlotado que vê o magnata explorador
passar no seu "mercedão". É o proletário
crente que tem de ir para o trabalho no sufoco de um trem da Central do Brasil,
ou ainda um operário do ABC paulista,
ou em qualquer outro lugar onde haja homens de Deus que não usam black-tie.
Diante do confronto, surge a possibilidade de se levantara questão.
Asafe se atordoou ainda com a
constatação de que a vida dos perversos é normalmente um sucesso. Não têm duplicatas vencidas,
nem filhos com fome. Nenhum aperto financeiro lhes impossibilita a gozo das férias: "Não são afligidos como os
outros homens" (v.5b). Aliás, além de serem economicamente
tranqüilos, eles nem mesmo precisam lutar
para ganhar dinheiro pois "sempre
tranqüilos,
aumentam suas riquezas" (v.12).
Esta comparação levou o velho Asafe a discernir algumas conseqüências deformadoras do caráter que essas facilidades provocam no espírito dos homens distantes de Deus. Não foi difícil
verificar a sua soberba: "Daí a soberba que os
cinge como um colar" (v.6a). Aí está uma redundância: a vaidade de ser soberbo ou a soberba de ser
soberbo. É sempre assim. A soberba gera
soberba. Por isso, Asafe concluiu que os homens sem Deus exibem a sua soberba
"como um colar". Quando o
homem não tem o temor de Deus no coração, dá status ser soberbo e falar de
grandes realizações com a boca cheia
de arrogância. Somente quando o temor de
Deus está no coração é que a soberba não é o sentimento natural
de uma pessoa "bem-sucedida."
Outra característica que observamos nos homens maus e, ao mesmo tempo
prósperos, é a violência: "A violência os envolve como
manto (v.6b). Estamos outra vez
diante de um processo: a violência. É por isso que o primeiro passo agressivo tende a ser
acompanhado por uma interminável seqüência. 0 violento se veste de violência, ou seja, a violência
é o seu "manto", a sua proteção.
A glutonaria também faz parte do caráter
de tais pessoas. "Os olhos
saltam-lhes da gordura" (v.7). O texto, evidentemente, não está dizendo que uma
pessoa gorda não é de Deus mas faz uma associação entre os ideais dos maus e a comida. Tudo quanto são e planejam começa
ou, pelo menos, acaba numa mesa farta. Nesses encontros, a comida, além de ser assunto das conversas, ocupa boa parte do
tempo. Seu modelo de vida sempre vai do prato à
boca. Sua filosofia não passa de "comamos e bebemos porque amanhã morreremos."
Mas há ainda uma quarta característica que poderíamos
chamar de fantasia. "Do coração brotam-lhes fantasias" (v.7b) Esses homens sem Deus, normalmente, têm tudo quanto desejam e, por isso inventam novas
formas de pecar. São os ricos distantes
de Deus que criam as "novas fantasias" do pecado. Todas as perversões começam nos palácios e mansões.
As favelas se limitam a importar esses "novos modelos".
O verso 8 diz: "Motejam e falam maliciosamente". A
malícia no falar tão comum nas rodas dos
arrogantes e escarnecedores também marca o caráter deles. Há
sempre um toque de maldade no que dizem e a dubiedade faz parte do seu
linguajar. A palavra motejar significa escarnecer, criticar, censurar e lançar em rosto. Pois bem, essa também, muitas vezes é uma
característica de um homem sem absolutos
que se torna "bem-sucedido".
Tais homens ainda se alegram
e se distraem com a maneira rude e opressora como tratam os outros.
"Da opressão falam com altivez" (v.8).
A essa altura da descrição do empresário sem critérios morais, ou do comerciante ambicioso, ou do "gatão" filhinho de papai, sua mente já deve ter sintonizado muitas imagens perfeitamente compatíveis com a descrição dos caracteres acima.
E o surpreendente é percebermos que, em
muitas ocasiões, já nos vimos invejando a posição dessas pessoas. Ao falar em inveja, acho justo
esclarecer o berço no qual ela nasce: a
inveja é sempre uma manifestação de admiração
que se dissimulou. Se ela existe no coração
do homem, antes de ter-se degenerado no sentimento mesquinho que a caracteriza,
houve uma admiração que ameaçou sua segurança e,
daí, surgiu a inveja.
Mas a irreverência também faz parte do caráter
deles. O verso 9 diz: "Contra os céus desandam a boca". Quando vejo as brincadeiras e piadas que
alguns comediantes ricos e artistas famosos fazem com o nome de Deus, só posso pensar que eles se contam entre esses aos quais
Asafe se referiu e dos quais invejou a prosperidade.
E, por fim, descubro ainda
neste salmo uma referência ao gosto pela difamação. "A sua língua percorre a terra" (v.9b). Eles assentam-se para falar dos seus
casos amorosos ou das situações de humilhação e vexame na qual deixaram a mulher do próximo. Em certas rodadas de cerveja, mais vitoriosos
dos que os bem-sucedidos nos negócios são os conquistadores de secretárias de empresas e agências
de publicidade, por exemplo.
Em razão de todo este luxo e prosperidade, o povo simples das
ruas deduz que Deus não está preocupado com as particularidades da vida moral dos
homens, já que permite o sucesso dos arrogantes.
O nome filosófico que se dá a este tipo de raciocínio é deísmo. "Por isso o seu povo se volta para eles, e os
tem por fonte de que bebe a largos sorvos. E diz: Como sabe Deus? Acaso há conhecimento no Altíssimo?" (v. 10-11).
Asafe declara que a filosofia
dos ímpios estava sendo absorvida como
um copo d'água por um homem
sedento. Aliás, é isso que diz Jó
15:16: "O homem ... bebe a iniqüidade como água".
Ao acreditar, por um momento,
que Deus não se preocupa com a
vida moral dos homens, Asafe lamentou o tempo que tinha perdido, pois sua vida
tinha sido pura, digna e honesta até
aquele dia. Pensou que todo o "esforço"
tinha sido em vão. Observemos o verso
13: "Com efeito, inutilmente
conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência."
Sua luta em conservar puro o
coração implicava em não pensar no pecado que o atraia, em evitar olhar com
cobiça para objetos sexuais cobiçáveis e fazer tudo para não
sentir prazer e gosto pela idéia do pecado.
Infelizmente, pensava Asafe, tudo tinha sido inútil,
pois Deus não estava preocupado
com esse tipo de abstenção, já que aqueles que praticam o mal não são impedidos por Deus
de prosperar.
As boas ações de Asafe, sempre que ele "lavara as mãos na inocência",
também não se
revestiam de nenhum significado, do ponto de vista de Deus, de acordo com a
"teologia" que os fatos demonstravam ao desolado salmista. Suas
tentativas para ser justo, imparcial e criterioso perderam toda razão de ser, pois Deus não
estaria atento a essas minúcias comportamentais
dos homens. E, no verso 14, o salmista dá aparentes justificativas para suas
conclusões até àquele momento: "Pois de contínuo sou afligido e cada manhã castigado."
Faltava à mente do salmista a teologia do sofrimento diante da
qual o Novo Testamento nos coloca em muitos textos. Vejamos um exemplo disso
em II Coríntios 4:8,9, 10 e 16 a 18.
"Em tudo somos atribulados, porém, não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo.
Por isso não desanimamos: pelo
contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo o nosso
homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea
tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não
atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se
vêem são temporais e as que se não vêem são eternas."
Asafe não conhecia Romanos 8:18, texto que também nos traz alentadora promessa: "Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós".
Tiago também nos ensina uma sucessão
maravilhosa de virtudes que o sofrimento produz:
Há muita gente vivendo o drama de Asafe. Nossas igrejas
estão cheias de pessoas conflitadas e,
literalmente, suando frio as suas dúvidas
teológicas. Não são poucos os que temem
trair o povo que acha que vale a pena viver da maneira pura e justa dizendo-lhe
que Deus não se preocupa com o
comportamento moral dos homens. Basicamente, todos os teologicamente liberais
que não se manifestam publicamente vivem
o medo de Asafe, o temor de trair o povo de Deus, por isso é que continuam calados sobre o seu liberalismo filosófico baseado na inocuidade de atos morais como, por
exemplo, a castidade.
Como esses, pode ser que alguém que esteja lendo este opúsculo se encontre na mesma situação: não acredita que Deus dê atenção a coisas como
pureza, moral, etc..., entretanto, mantém-se
calado para não escandalizar ninguém ou apenas pela questão
meramente romântica de viver no sério padrão que norteou durante
muito tempo a sociedade.
Asafe estava preso à fé por "um
fio". Todavia, não deixou de freqüentar o templo. E foi numa das suas idas ao santuário de Deus que o seu ponto de vista sobre a
prosperidade dos maus mudou completamente. Observe atentamente os versos 16 e
17: "Em só refletir para
compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim: até que entrei no santuário de Deus e atinei
com o fim deles."
Realmente, há certos questionamentos na vida que são imensamente maiores do que a capacidade humana de
carregá-los durante toda a existência, e muitos são
completamente esmagados pelo conflito existencial que se trava em suas almas.
Pensar nas questões da existência é "tarefa
pesada" para um homem em dúvidas.
Houve, porém, um dia quando a carga filosófica de Asafe foi retirada. Naquela manhã, ao se dirigir para o Templo, não poderia imaginar que Deus o visitaria dando-lhe um
profundo espírito de discernimento.
A palavra mais significativa do verso 17 é "atinei".
Está ligada à percepção, à capacidade de vislumbre da existência e de suas verdadeiras leis e caminhos.
Vejamos o que Asafe discerniu
quando foi meditar no Templo:
Primeiramente entendeu que
Deus é soberano, e que coloca soberbos no
caminho da queda e da destruição repentinas:
"Tu certamente os pões em lugares
escorregadios, e os fazes cair na destruição. Como
ficam de súbito assolados!
Totalmente aniquilados de terror!" (v. 18-19). A vereda de um homem sem
Deus é lodocenta e escorregadia. Seus negócios, fama e glória
estão construídos sobre bases "lisas". Seus pés podem desusar a qualquer momento.
Ah! se pudéssemos participar dos últimos
momentos de uma pessoa que viveu longe de Deus e que "usufruiu" dos
prazeres e das facilidades do pecado durante toda a sua vida! A morte lhes vem
como um laço. Podemos mesmo
chegar em casa e avisar: "Eu não
estou para ninguém. Nem para
Deus". E morrer em seguida. Repentinamente. É drástico imaginar, mas pense no fim dessa pessoa. A morte
chegou de súbito. Ela sente que
está morrendo... escorregando da
estrada da vida para o desfiladeiro da morte. É o
fim. Resta-lhe somente o terror.
Em segundo lugar, Asafe
captou a idéia de que a vida do
soberbo é tão
desprezível e irreal diante de Deus quanto
um sonho para quem acaba de acordar e diz: "Foi somente um sonho".
"Como ao sonho, quando se acorda,
assim, ó
Senhor, ao despertar, desprezarás a imagem deles" (v. 20).
"Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente os males, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormento" (Lc 16:25).
O inimigo sempre tenciona fazer-nos crer que será o evento mais frio e pouco emocionante que se pode imaginar. Algo como promoção em mosteiro. E assim, consegue nos estimular à intensidade de uma conquista temporal, ainda que, do ponto de vista de Deus, tal "realidade" não passe de um sonho; algo que depois de ser vivido por nós será lembrado por Deus como uma "imagem de ser desprezada". Como a memória de seres e entidades que não existem no Seu verdadeiro mundo.
Asafe entendeu ainda que as
conclusões a que chegou sobre a
prosperidade dos maus não passavam de raciocínios resultantes de uma atitude de amargura, pois o
azedume espiritual embota os sentidos e a percepção
da alma: "Quando o coração se me amargou e as
entranhas se me comoveram eu estava embrutecido e ignorante; era como um
irracional à tua presença" (v.
21-22).
Há três palavras nesses versículos que bem explicam a confusão de Asafe: embrutecido, ignorante e irracional.
Quando o homem fica
amargurado de inveja, seu espírito perde a
sensibilidade e, por isso, pode conduzi-lo a conclusões falsas. Por outro lado, a ignorância é a total ausência
de conhecimento do caminho e da vontade de Deus. A amargura promovida pela
inveja pode apagar todos os princípios de sabedoria e
de discernimento amealhados durante anos. Assim, é
possível o homem se tornar ignorante da
vontade de Deus. E, finalmente, a palavra irracional que, no hebraico é behemoth, equivale
a ficar "sem comunhão com Deus como um
animal".
São trágicas as conseqüências imediatas de se sentir inveja dos maus mas, graças a Deus, Asafe discerniu isso a tempo e entendeu que
a maior intervenção de Deus em sua vida
esteve no fato de que, apesar de todas as suas dúvidas
e conflitos, o Senhor o segurou no caminho dos justos: "Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras
pela minha mão direita"
(v.23).
Na realidade, nenhuma
intervenção de Deus pode ser mais forte e
significativa do que manter no caminho um crente divergente, duvidoso e revoltado.
É sutilmente majestosa a ação de Deus que faz permanecer na fé um homem totalmente em dúvida sobre a verdade de seus pressupostos.
Asafe compreendeu também que a verdadeira riqueza e prosperidade não é a dos soberbos, mas daqueles que têm a Deus como sua herança: "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfalecem, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre" (v. 25-26).
Estes versos nos apresentam três maravilhosas perspectivas através das quais Deus deve ser visto. Uma delas é que "Deus é único no céu" (v. 25). Só os
que podem concentrar toda a fé no Senhor é que são verdadeiramente felizes.
A vida eterna consiste nisso: "em
conhecer ao Pai como o único Deus e a Jesus Cristo como seu enviado" (João
17:3). A ênfase deste texto recai sobre a
palavra "conhecer" que, no original, equivale
a "conhecimento profundo ou experimental". Trata-se não apenas de um monoteísmo teórico mas de uma profunda experiência com o Único
do céu.
A segunda perspectiva que o
verso 25 nos indica é a seguinte: Deus deve
ser o nosso maior prazer na vida. Ele é Aquele em quem eu devo ter minha mais intensa satisfação. Quem tem este sentimento em relação a Deus não
olhará para os bens materiais como a
recompensa do viver. E, por fim, o verso 26 declara que Deus é a nossa herança perpétua. Quem tomou posse de Deus como sua riqueza é que é o homem
verdadeiramente próspero na vida.
Finalmente, foi meditando no
Templo que Asafe entendeu que a infidelidade provoca afastamento de Deus e
sofrerá a penalidade da destruição eterna: "Os
que se afastam de ti, eis que perecem: tu destrói todos os que são infiéis para contigo" (v. 27). Bom é que todos saibamos
que Deus é paciente e misericordioso com
todos os que estão na dúvida, mas que não
justificará a infidelidade daqueles
que, tendo estado no conflito, optaram pelo caminho dos maus e soberanos.
Diante de tudo isso, Asafe
resolveu assumir posições bem definidas. A
primeira delas foi a de estar junto de Deus com prosperidade ou não: "Quanto
ao mais, bom é estar junto a Deus" (v. 28a). E; a segunda, a de refugiar-se em Deus sempre que fosse
assolado por qualquer dúvida: "No Senhor Deus ponho o meu refúgio" (v. 28b).
A grande finalidade da pureza
e da santidade dos crentes é não nos deixarmos levar pelo pecado e pelo espírito competitivo que os soberbos e maus, às vezes, infundem em nós, e
é sermos para o louvor da glória de Deus, "proclamando
todos os seus feitos" (v.28c).
Consideremos que o maior
"feito de Deus" é manter-nos de pé e salvos. Na realidade, nossa salvação é uma das coisas "impossíveis para os homens e possíveis para Deus". (Mc 10:23 a 31). Tremendamente mais
significativo do que uma ação de juízo de Deus esmagando os maus é aquela que me mantém de
pé.
Sim, eu me refugiarei em
Deus, para que eu mesmo seja a mais veemente pregação de que ele é
real e intervém na vida dos homens.
Apesar de mim, Deus me tem feito permanecer em pé,
sem deslizes ou quedas. Glória ao seu nome.
Caso você tenha lido essa mensagem tendo na alma a dor e angústia de Asafe, abra o
coração e a mente para as singelas
verdades por ele discernidas. Se você
fizer isso, certamente o Espírito Santo lhe trará sabedoria e discernimento para compreender qual é o ponto de vista de Deus sobre questões semelhantes as de Asafe e que estão perturbando a sua vida.
Para isso, ouça a voz de Jesus quando diz:
Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou
há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao
outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.
Por isso vos digo: Não andeis
ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer e beber; nem pelo vosso
corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais que o alimento, e o
corpo mais que as vestes?
Portanto, não vos inquieteis
dizendo: que comeremos? que beberemos? ou: com que nos vestiremos? Porque os
gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que
necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua
justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos
inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao
dia o seu próprio mal."
(Mt 6:19-21,24,25,31-34).
Que Deus nos ajude a não ambicionarmos a prosperidade dos maus, substituindo
tal perspectiva pelo saudável desejo de sermos
fiéis a Deus no tempo presente a fim de recebermos no céu a coroa da vida. Deus o abençoe!
APRENDENDO COM JABES O m enino p rodígio da g enealogia! Alguém já disse certa vez que existe muito pouca diferença entre as pessoas –...