quarta-feira, 30 de maio de 2018

APRENDENDO COM GIDEÃO (PARTE 04)




Gideão

Homem Valente ou Homem Tímido?


            Os midianitas oprimiam os israelitas, ao longo de 7 longos anos. A cada ano que passava, os habitantes de Midiã tinham por hábito invadir a terra dos hebreus e apossar-se dos seus produtos alimentares, assim como de todos os seus animais. Para sobreviver, os israelitas habituaram-se a esconder os alimentos do inimigo, antes que o mesmo atacasse.
            Gideão estava a preparar comida para escondê-la, quando o Anjo de Senhor apareceu. Imagine este homem, a trabalhar com medo do inimigo, quando, de súbito, ouviu as palavras do Anjo: “O Senhor é contigo, homem valente” (Juízes 6.12). Pela resposta de Gideão, percebemos que ele nem sequer pensou no significado da expressão”homem valente”, pois entrou directamente em discussão com o Anjo sobre a presença de Deus. Ele não entendia como é que Deus, estando com o povo, poderia deixar Israel sofrer. Deus continuou a conversa, desafiando Gideão a resolver o problema. Já que ele duvidara da presença de Deus, deveria ir na sua própria força (Juízes 6.14). Isso não! Gideão, agora, sentia-se de tal forma incapaz, que procurava esquivar-se à missão dada por Deus. Ele explicou que era uma pessoa insignificante, de uma família sem importância, de uma tribo sem destaque. Gideão não se apresentou ao Senhor como homem valente, porem Deus iria fazer dele um líder corajoso.
            A verdadeira força do servo do Senhor não vem de si mesmo, e sim de Deus. Ninguém é forte o bastante para resolver os seus próprios problemas sozinho, especialmente quando falamos sobre o nosso problema principal: o pecado.
            Dependemos de Deus e da Sua Graça (Efésios 2.8-9). Paulo disse: “tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13).
            Os homens valentes, hoje em dia, são aqueles que confiam no Senhor.


O Clamor


            Como já vimos, o estado espiritual de Israel estava deteriorado. Como consequência, também o estado económico e politico decaiu, tornando a vida naquele pais um desespero. Os filhos de Israel semearam rebeldia, prostituição e idolatria e colheram os seus frutos. Diante de tamanha debilidade com a presença maciça e destruidora dos midianitas, os filhos de Israel, então, clamaram ao Senhor.
            O clamor é diferente da oração. Na oração, as palavras soam como súplicas ou até mesmo em forma de gemidos. Mas o clamor não! O clamor só é expresso perante uma situaçãode extremo desespero. É preciso chegar ao fundo do poço ou no limite da dor e aflição para se estar habilitado ao clamor.
            Quando os autores sagrados registam o clamor dos filhos de Israel, trata-se realmente da expressão mais profunda de angústia, dor e desespero. Porque enquanto se conta com o fio de esperança nos próprios recursos, não é possível manifestar o verdadeiro clamor.


O Chamamento de Gideão


            Já vimos que Deus fez surgir lideres em Israel em diferentes ocasiões, perante diferentes situações. Assim foi com Otniel, Eúde, Sangar, Débora e Baraque. Mas o chamamento de Gideão foi um caso à parte, tendo em consideração que o próprio Anjo do Senhor, provavelmente o Senhor Jesus, veio, pessoalmente, à sua presença. A aparição do Senhor no seu chamamento mostra que Gideão tinha algo que o diferenciava dos seus antecessores. Deus não apareceu, pessoalmente, a todos os Seus escolhidos, apenas alguns foram especiais. Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e Josué foram dos poucos privilegiados até aquela época. E Gideão faz parte dessa lista especial. Mas, porquê?
            Porque o coração de Gideão “pulsava” de acordo com o de Deus! A sua profunda expressão de revolta e indignação, na realidade, era a de Deus!
            O sofrimento e a dor de um povo reflecte o sentimento de Deus pela humanidade. E quando alguém sente essa mesma dor de Deus, é sinal de que está a ser chamado. No diálogo com o Anjo, Gideão manifestou o que Deus tinha no coração: revolta e indignação pela calamidade imposta pelos inimigos ao Seu povo. Por isso, Deus veio pessoalmente até ele!
            Aos olhos de Gideão não era admissível aceitar a crença num Deustão poderoso e viver oprimido pelos inimigos. Como seria possível crer num Deus Todo-Poderoso e viver nos limites do desespero, da opressão e da dor?
            Só mesmo uma fé destituída de inteligência pode combinar a crença em Deus com a fome, miséria, dividas, doenças, lares destruídos, enfim, com a desgraça total!

A Força de Gideão


            A força de Gideão, obviamente, não estava no seu exterior, mas sim no mais profundo de si, isto é, tinha a firme convicção que não podia aceitar a situação imposta pelos inimigos em razão da existência do Deus de Abraão. O maior problema das pessoas até nem é em si a situação difícil, mas o que elas pensam a respeito da mesma. Se alguém está a enfrentar um determinado mal e não crê numa saída, como irá então lutar contra ele? Entende-se agora por que razão o Senhor Jesus perguntou ao cego: “Que queres que Eu te faça?” (Mc. 10:51).
            O Senhor conhecia perfeitamente a necessidade do cego, sobretudo porque era algo evidente aos olhos humanos! Mas o Senhor queria a confissão da crença! Ou seja, a manifestação da crença na solução do seu problema. Claro! Se o cego não acreditasse na sua cura, jamais iria recorrer ao Senhor Jesus. Para a pessoa se ver livre das suas mazelas, em primeiro lugar tem de crer que isso é possível. E essa crença é, justamente, a sua força!
            Essa foi exactamente a força de Gideão: energia interior capaz de conduzir a pessoa à luta e à conquista da vitória. E tudo o que o Anjo deu a Gideão foi uma única palavra: VAI! Aliás, a mesma que o Senhor Jesus deu ao cego: Vai!
            O combustível capaz de mover um motor é a gasolina, querosene, álcool, oxigénio, gás, electricidade. O combustível da vida é o oxigénio, mas o combustível que conduz o ser humano à vitória é a fé de Deus. E para quem quiser conquistar os benefícios da fé, há que seguir os seus impulsos e tomar uma atitude. A mulher ou o homem de Deus tem o seu “tanque” repleto de combustível. Mas, se não ligar o motor, isto é, se não colocar em acção a sua crença, de nada adianta estar cheio de combustível, ou cheio do Espírito Santo. A fé sobrenatural é a energia de Deus no nosso interior. No entanto, Ele não nos pode obrigar a agir! Nós é que temos de agir por conta própria!
            O anjo de Deus escolheu Gideão no meio de milhões de pessoas entre o seu povo, porque ele “tinha o tanque cheio”. No entanto, desconhecia o seu potencial, o poder existente no seu interior. Porquê? Porque os seus olhos espirituais estavam fechados. Enquanto dava atenção apenas às informações dos olhos físicos, só conseguia ver dificuldades: miséria, fome, medo, humilhação, poder dos inimigos, debilidade de Israel, etc. Mas uma voz gritava dentro de si: Não! Não é possível esta situação continuar! O meu Deus é o mesmo do passado, é o Deus de meus pais, Abraão, Isaque e Israel! Se Ele os livrou no passado, tem de nos livrar no presente! Quer dizer: ao mesmo tempo que os seus olhos físicos que chamavam a atenção para a situação vigente, pelo contrário, os seus olhos espirituais reclamavam dentro de si...
            Havia um conflito intimo: por um lado a voz dos sentimentos impostos pela visão física; por outro, a voz da fé imposta pelo conhecimento do Deus vivo.
            E, quando o Anjo lhe apareceu, fez apenas acender a chama da sua força, dizendo: que esperas? Vai... e salva Israel! Não te mando Eu? Vai, agora! ... Já!...
            Alguma vez pensou que a fé está intimamente ligada à acção! Pois é... Fé é acção! É atitude!...

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