Com Deus, sempre haverá um final feliz
Afirmou um
inditoso crítico literário, certa vez, que dois são os defeitos do Livro de Jó.
O primeiro é que o antagonista da história - Satanás - sai de cena ainda no
prólogo. E o segundo é que, diferentemente dos dramas gregos, romanos e
ingleses, a história de Jó tem um final feliz. Não obstante, acrescenta o
crítico, o Livro de Jó é o mais belo poema de todos os tempos.
O que os
críticos seculares classificam de defeito, nós chamamos de perfeição. Pois, de
uma forma magistral, o autor sagrado pôde conduzir o drama de Jó sem a presença
do adversário. E se ele o concluiu com final feliz, é porque se manteve com
absoluta fidelidade aos fatos. Se os gregos, romanos e ingleses não se afeitam
aos finais felizes, os que servimos a Deus sabemos que, apesar das intempéries,
sempre haverá um final surpreendentemente feliz àqueles que confiam nas
promessas do Pai Celeste.
I. A PROFUNDA
HUMILHAÇÃO DE JÓ
Com profunda e
singular humilhação, o melhor dos homens daquela época, ouviu dois
pronunciamentos que, judiciosamente, apontaram-lhe as falhas: o discurso de
Eliú e o monólogo do Todo-Poderoso. Jó, em momento algum, se exaspera. Agora
tem ele certeza de estar sendo provado; na economia divina sempre é possível
melhorar o que já é perfeito (Dt 18.13; Pv 4.18; Mt 5.48; Ef 4.13).
Que diria você
ao ouvir tal confissão de um homem cuja integridade era reconhecida e avalizada
até pelo próprio Senhor? Sim, era Jó um homem perfeito. Mas, diante de Deus,
quão imperfeitas são as nossas perfeições. Diante daquele que é infinito em
suas perfeições, o perfeito sempre poderá se aperfeiçoar; o bom sempre poderá
melhorar (Fp 3.12; Cl 1.28). Jó o sabia muito bem.
2. Ouvindo e
vendo a Deus. Jó teve de se calar para compreender a natureza de seu
sofrimento; e, perfeitamente, compreendeu-a. Infelizmente, muitos não logram o
mesmo entendimento, pois ainda não aprenderam a ouvir a Deus (Hb 3.7,8). Oram,
mas não lhe ouvem a resposta (Is 42.20). Com os seus murmúrios, acabam por
encobrir a voz de Deus (Sl 106.25).
Primeiro,
ouviu Jó a voz de Deus; depois, seus olhos passaram a vê-lo (Jó 42.6). Até este
momento, a fé que o patriarca professava em Deus, conquanto sublime e
singularíssima, era apenas intelectual. Mas, agora, que os seus olhos vêem o
Todo-Poderoso, começa a ter um conhecimento experimental do Senhor.
Como é a sua
fé? Intelectual? Ou experimental? O Senhor deseja que você o conheça
integralmente (Os 6.1-3).
II.
INTERCESSÃO E RESTAURAÇÃO
O Senhor
dirige-se, neste momento, aos três amigos de Jó, e gravemente os repreende:
"A minha
ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de
mim o que era reto, como o meu servo Jó. Tomai, pois, sete bezerros e sete carneiros,
e ide ao meu servo Jó, e oferecei holocaustos por vós, e o meu servo Jó orará
por vós; porque deveras a ele aceitarei, para que eu vos não trate conforme a
vossa loucura; porque vós não falastes de mim o que era reto como o meu servo
Jó" (42.7,8).
Desta
advertência de Deus, podemos ver alguns fatos bastante interessantes quanto à
atuação de Jó. Em primeiro lugar, teria ele de agir como sacerdote.
1. O
sacerdócio de Jó. Mesmo em frangalhos, e mesmo não passando de ruínas, deveria
Jó, naquele momento, atuar como sacerdote daqueles que muito o feriram com suas
palavras. Que incrível semelhança com o Senhor Jesus Cristo! Nosso Salvador,
embora tenha sido retratado pelo profeta como alguém desprovido de parecer e
formosura, intercedeu por nós pecadores (Is 53.2, 3,12). Se este retrato que o
profeta revela do Senhor parece forte, o que diremos da pintura que do mesmo
Salvador faz Davi: "Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e
desprezado do povo" (Sl 22.6)?
No auge da
angústia, Jó fez-se mui semelhante ao Senhor Jesus. Mas quão distante achava-se
ele da glória exterior do sacerdócio araônico! Caber-lhe-ia pois orar por seus
amigos, e por eles oferecer os sacrifícios prescritos pelo Senhor.
Tem você orado
por seus amigos? Tem jejuado por eles? Mesmos se estes o ferirem, não deixe de
apresentá-los diante do Senhor, a fim de que sejam salvos.
Mesmo em
dificuldades, e ainda que no mais ardente crisol, ore por seus parentes, amigos
e por quantos o cercam. Pois o seu cativeiro começará a ser virado exatamente
neste momento. Não podemos subestimar a força da oração intercessória. Enquanto
você ora por seus amigos, haverá milhares de irmãos intercedendo por você.
III. A
RESTAURAÇÃO DE JÓ
Eis que o
Senhor põe-se a virar o cativeiro de Jó; restaura-o integralmente. Se tudo ele
perdera por completo, e de uma só vez, de forma duplicada o Senhor lhe
retribui.
1. Restauração
espiritual. Jó se humilha, reconhece a sua pequenez, e mostra haver
experimentado um grande conhecimento espiritual: "Então, respondeu Jó ao
SENHOR e disse: Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode
ser impedido. Quem é aquele, dizes tu, que sem conhecimento encobre o conselho?
Por isso, falei do que não entendia; coisas que para mim eram
maravilhosíssimas, e que eu não compreendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu
te perguntarei, e tu ensina-me. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te
vêem os meus olhos. Por isso, me abomino de me arrependo no pó e na cinza"
(Jó 42.1-6).
2. Restauração
material. O Senhor acrescentou duplicadamente a Jó em relação a tudo quanto
dantes possuía (Jó 42.10).
3. Restauração
social de Jó. Os que desprezaram a Jó, estando este na angústia, agora
presenteiam-no como se fora ele um príncipe: "Então, vieram a ele todos os
seus irmãos e todas as suas irmãs e todos quantos dantes o conheceram, e
comeram com ele pão em sua casa, e se condoeram dele, e o consolaram de todo o
mal que o SENHOR lhe havia enviado; e cada um deles lhe deu uma peça de
dinheiro, e cada um, um pendente de ouro" (Jó 42.11).
4. Restauração
doméstica de Jó. Embora a Bíblia não o revele, a esposa de Jó veio,
evidentemente, a se converter ao Senhor, fazendo-se partícipe de toda a ventura
do esposo. Eis os filhos que ela lhe deu à luz: "Também teve sete filhos e
três filhas. E chamou o nome da primeira, Jemima, e o nome da outra, Quezia, e o
nome da terceira, Quéren-Hapuque" (Jó 42.13,14). Informa o autor sagrado
terem sido estas filhas de Jó as mulheres mais formosas de toda a terra.
5. Restauração
histórica de Jó. O homem que fora tão caluniado por Satanás, tão incompreendido
pela esposa e tão acusado pelos amigos, entra agora para uma exclusivíssima
galeria; é posto entre os três mais piedosos homens de todos os tempos:
"Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor
JEOVÁ, que nem filho nem filha eles livrariam, mas só livrariam a sua própria
alma pela sua justiça" (Ez 14.20). Pode haver maior honra do que esta?
CONCLUSÃO
Conforte-se na
história de Jó! Se as suas angústias são grandes, maiores ser-lhe-ão as
consolações. De toda essa provação, sairá alguém bem melhor. Sua história
também terá um final feliz.
Não nos esqueça em suas orações: "Orando também juntamente por nós, para
que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de
Cristo" (Cl 4.3).
A Deus toda a
glória! Aleluia!
Sacrifício
levítico que consistia na queima completa da vítima sobre
o altar.
Sacerdócio
araônico
Divina
investidura conferida a Arão e a seus filhos com o objetivo de: interceder por
Israel diante de Deus; presidir o ministério levítico; e, entrar no Santo dos
Santos, uma vez por ano, para fazer a expiação pelos pecados
do povo. (Êx 28; Hb 5.4).
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