Num 22:2 - 25:18. Os capítulos anteriores do Livro de Números nos  
mostram os israelitas atacados, mas sempre vitoriosos. Todavia, agora,  
surge da parte dos inimigos uma nova tática como a precaver o crente das
  ciladas que o inimigo lhe pode também armar, muitas vezes através de 
um  outro crente para esse fim industriado. 
 
Aqueles que durante certo   
tempo pareciam seguir o Senhor e até dele dar testemunho são  
frequentemente procurados por Satanás para agirem no mesmo sentido.  
Reparem na responsabilidade, que cabe aos que se dizem filhos de Deus,  
de nunca deixar que a sua influência seja usada contra um testemunho  
fiel à verdade!
No presente caso, a tentativa falhou, evidentemente,  pois foi manifesta
 a intervenção sobrenatural do Senhor. Vacilou a  princípio Balaão, e 
estava pronto para entregar-se, mas Deus estava com  ele para o guardar e
 assim provar que nada impediria os Filhos de Israel  de entrarem na 
Terra Prometida.
Conhecedor das derrotas infligidas  pelos israelitas a quantos os 
atacaram, procurou o rei de Moabe um  processo indireto de os destruir. 
Começou por chamar os anciãos dos  midianitas, pois  Moabe e Mídia eram 
aliados, nesse período. Moabe era  possuidor do território ao sul dos 
acampamentos dos israelitas bem como  era uma nação estável.
Como os midianitas eram um povo nômade, talvez o próprio Balaque fosse também midianita, embora fosse o rei dos moabitas.
Não  se conhecem alusões anteriores à figura de Balaão, a quem a Bíblia 
 daqui em diante apresenta como prestan¬do culto ao Senhor, apesar de 
não  per-tencer à família de Israel. Contudo, no dizer de Pedro a 
Cornélio  (At. 10:35), Deus não distingue os homens pelo país a que 
pertencem,  ouvindo todo aquele que O teme e fazendo o que é justo. 
Deve-se notar  ainda que, se por vezes Balaão se refere a Deus 
servindo-se deste mesmo  vocábulo "Deus", o qual podia aplicar-se a 
qualquer divindade, não raro  ele recorre ao nome especial e 
característico do Deus da Aliança de  Israel, conhecido simplesmente por
 "Senhor".
Muito se tem discutido a  propósito da aplicação a Balaão da designação 
de verdadeiro "profeta".  Diga-se, antes de mais nada, que tudo depende 
do sentido que atribuirmos  a este termo. Assim, a Bíblia não indica uma
 ocupação ou missão  permanente, mas apenas um indivíduo através do qual
 é concedida uma  mensagem. Deus pode, na realidade, servir-se de um 
profeta apenas  temporariamente, substituindo-o mais tarde por outro, de
 tal sorte que  nem todas as suas palavras são inspiradas. 
 
Quando Davi 
disse ao profeta  Natã ser do seu agrado construir um templo em honra ao
 Senhor,  respondeu-lhe este: "Vai e faze tudo quanto está no teu 
coração, porque o  Senhor é contigo" (II Sam. 7: 1-3). No dia seguinte, 
todavia, numa nova  mensagem, declarou que só ao des¬cendente de Davi 
caberia essa honra da  construção do Templo (II Sam. 7:4-16). Reparem 
que Natã era,  normalmente, instrumento do Senhor nas Suas mensagens ao 
povo, mas desta  vez ele se serviu apenas das suas faculdades 
intelectuais para dizer a  Davi que o Senhor abençoaria os seus planos 
relativos à construção do  templo, e falhou completamente, pelo que Deus
 o obrigou a corrigir a  afirmação. 
 
Como não se duvida que os caps. 
23-24 contêm mensagens  concedidas por revelação direta de Deus através 
de Balaão, é certo que  era o próprio Deus quem falava pela boca de 
Balaão, sendo, portanto, em  toda a acepção da palavra, um verdadeiro 
profeta. Isso não significa,  porém, que fosse um homem perfeito. Ao 
contrário, Balaão cometeu vários  pecados graves, tal como sucedeu com 
outros profetas.
Balaque conhecia perfeitamente a capacidade de Balaão. Disse-lhe saber 
que todo  aquele a quem Balaão abençoasse seria abençoado, e amaldiçoado
 aquele a  quem amaldiçoasse. Não se tratava de qualquer poder mágico, 
segundo a  Bíblia. Apenas Balaque supunha que Balaão fosse dotado desse 
poder. O  próprio Balaão não se arrogava disso, insistindo somente que 
poderia  abençoar aqueles a quem o Senhor abençoasse e amaldiçoar 
aqueles a quem o  Senhor amaldiçoasse.
Mais prudente que Natã, parece Balaão, no  episódio acima narrado, em 
presença das recompensas apresentadas pelos  anciãos midianitas, 
disse-lhes que a resposta apenas seria dada depois  de consultar o 
Senhor.
Quem são estes homens? Isso não quer dizer que  o Senhor não soubesse 
quem eles eram. É que Deus quer que, quando nos  dirigimos a Ele, nos 
possamos manter em estreita comunhão com o Senhor  Supremo, exprimindo 
claramente as nossas idéias. Por vezes, resolvemos  um problema apenas 
em face duma exposição clara.
Quando Balaque ouviu  dizer que Balaão recusava aceder ao seu pedido, 
pensou não ter sido  suficiente o primeiro presente enviado. Mas ainda o
 levou a pensar  assim, quando por fim Balaão foi ao seu encontro, sem 
se lembrar,  todavia, que as circunstâncias se tinham modificado 
completamente, ao  chegar a nova embaixada de mensageiros. À primeira 
embaixada foi-lhe  respondido que antes convinha consultar o Senhor. 
Agora, ele já sabia  qual era a vontade do mesmo Senhor. Em princípio, 
devia recusar o pedido  por não haver nada de novo para modificar a 
primeira resposta. Mas, em  vez de seguir a vontade de Deus, que já 
conhecia, Balaão declarou  novamente que iria procurar saber qual a 
opinião do Senhor a tal  respeito. Em si, era um ato de desconfiança, 
porque, uma vez conhecida a  Sua vontade, não há necessidade de proceder
 a novas consultas. O  indispensável é obedecer sem perguntas e sem 
demoras. Mas o procedimento  de Balaão foi devido à tentação dos ricos 
presentes, que desta vez o  cativaram, oferecidos pelos homens. 
Como devemos ser cuidadosos em  antepor a vontade do Senhor a tudo 
quanto seja a satisfação dos nossos  interesses?!! Diz-se do Povo no 
deserto, que "Deus satisfez-lhes os  desejos, mas fez definhar as suas 
almas"
 (Salmos. 106:15). 
 
Em vez de  repetir o que Balaão já conhecia de 
antemão, Deus aparentemente cedeu à  vontade de Balaão: "Se aqueles 
homens te vierem chamar, levanta-te, vai  com eles; todavia, farás o que
 eu te disser" (v.20). 
 
Ê essa a atitude de  muitos cristãos que se 
deixam seduzir por falsas considerações! Fazem  aquilo que sabem ser 
contrário à vontade de Deus, julgando continuar  fiéis aos compromissos 
para com Ele.  Mas, em geral, falham essas  intenções, porque Deus não 
se contenta com a obediência pela metade. No  nosso caso, Balaão levava a
 cabo a sua empresa, mas o poder sobrenatural  de Deus teve mais força 
que as suas intenções, não se concretizando o  que julgara ser de mais 
utilidade.
Já notamos que a segunda resposta  do Senhor a Balaão não foi completa, 
por visar apenas à falta de  confiança na palavra de Deus, quando a Sua 
divina vontade já era  conhecida. Esta conclusão é confirmada pelo que 
narra o v.22: "E a ira  de Deus acendeu-se, porque ele se ia, e o anjo 
do Senhor pôs-lhe no  caminho por adversário".
Deus desejava impressionar Balaão que só  devia transmitir as Suas 
divinas mensagens. Não devia, portanto,  desobedecer naquele pormenor de
 ir, pois dava a entender que podia ir  mais além e desobedecer na 
mensagem do Senhor. Muitos se tornam assim  instrumento precioso nas 
mãos de Satanás, quando partem para um  empreendimento com intenções 
boas. Desta vez, porém, fez-lhe sentir uma  intervenção miraculosa de 
Deus a fortalecer o profeta vacilante, por ser  indispensável, conforme 
aos Seus desígnios, para levar a bom termo o  plano da entrada dos 
israelitas em Canaã. Convinha, pois, que não viesse  prejudicar tal 
plano a fraqueza do profeta.
Segue-se o episódio da  jumenta, que, embora sem par na Bíblia, não pode
 supor-se como mero  sonho, parábola ou visão. Se a Palavra de Deus o 
relata, não pode haver  dúvidas para o crente de que na realidade 
sucedeu. A Bíblia não é um  livro comparado ao das fábulas de Esopo ou 
de La Fontaíne em que os  animais aparecem a falar, como se fossem seres
 humanos. Tais casos não  são vulgares nas Escrituras, se excetuarmos o 
da serpente (Gên. 3) por  cuja boca falou Satanás. Ora, se Satanás teve 
poder para fazer falar uma  serpente, por que não daria Deus fala a uma 
jumenta, se assim o  entendesse? Não se faz alusão ao processo de que 
Deus se serviu para tal  efeito. 
O certo é que Balaão ouviu distintamente uma voz que partia do  animal. 
Este fato associado às palavras do anjo do Senhor devem ter  
impressionado profundamente o espírito de Balaão, de forma a impedi-lo  
de realizar o seu objetivo, não obstante as tentadoras promessas de  
Balaque. 
 
Assim, Deus intervinha, diretamente, num caso de importância  
extraordinária no plano da Redenção. Os cristãos dos nossos dias, de  
certo, não esperam milagres deste gênero, em casos de fraqueza ou  
descrença, como no de Balaão, devendo, no entanto, aprender a viver em  
constante conformidade com a vontade de Deus, revelada na Sua Palavra,  
sempre cônscios da presença divina, sem necessidade de O ver com os  
olhos carnais.
Ao deparar com Balaão, assim se exprimiu Balaque: "Não  posso eu na 
ver-dade honrar-te? (37). Falava como homem do mundo; não  como homem de
 Deus. Mas a resposta foi-lhe dada num termo completamente  diferente: 
"A palavra que Deus puser na minha boca, essa falarei" (38).  Sem dúvida
 Balaque considerava esta resposta como uma réplica cheia de  
hipocrisia, pois não correspondia ao fato de Balaão ter comparecido.  
Balaque matou bois e ovelhas, e as enviou a Balaão e aos príncipes que  
estavam com ele (40). O termo zabah, aqui traduzido por "matou", como em
  Deut. 12:15, 21; I Sam. 28:24; II Cr. 18:2, nem sempre implica  
sacrifício. 
 
A simples idéia é de que Balaque ofereceu um grande banquete
  para celebrar a vin¬da de Balaão.
Por quatro vezes Balaão anunciou a  palavra de Deus numa mensagem 
especial, embora perdesse a oportunidade  de conseguir os ricos 
presentes que Balaque lhe oferecia para amaldiçoar  Israel. 
Depois de cada um dos dois primeiros casos, Balaque utilizou  todos os 
estratagemas para conduzir Balaão ao objetivo em vista. Sempre,  no 
entanto, replicava Balaão que nada teria a acrescentar à opinião  
proferida pelo Senhor. Só após a terceira vez, Balaque mandou que Balaão
  desistisse, não atendendo nem à bênção, nem à maldção de Israel. 
Balaão  continuou as suas mensagens, não só abençoando Israel, mas 
referindo-se  ao destino do povo de Balaque nas mãos dos israelitas. 
FONTE
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