APRENDENDO COM BILDADE
Bildade e a Teologia da Prosperidade
Nas últimas décadas do Século 20,
as igrejas evangélicas foram tomadas por uma
teologia que acabou por substituir a verdadeira adoração a Deus por um
espírito meramente comercial.
Referimo-nos à pervertida e ímpia Teologia da
Prosperidade.
Esse arremedo de doutrina levou
os fiéis a inverterem os mais caros valores de sua fé: o mais importante,
agora, para milhões de filhos de Deus não é o ser; e, sim: o ter.
Dessa forma,
as pessoas, em nossas igrejas, começaram a ser julgadas não pelo que eram, mas
pelo que tinham.
Desse modo foi o patriarca Jó avaliado por seu amigo Bildade
que, nesta lição, representa a Teologia da Prosperidade.
I. QUEM FOI BILDADE
Também não possuímos muitas informações
acerca de Bildade. Limita-se a Bíblia a informar que este amigo de Jó era um
suíta.
Certamente morava ele em Canaã, onde Suá, à semelhança de Temã, era um
daqueles pequenos reinos ali estabelecidos.
No Livro de Jó, temos três
discursos de Bildade, que se encontram nos capítulos 8, 18 e 25.
II. A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
1. O que é a Teologia da
Prosperidade. É a doutrina, segundo a qual o crente, por ser filho de Deus,
jamais passará por agruras financeiras, pois foi ele destinado a viver de maneira
regaladamente pródiga, sem ter de se defrontar com as carências materiais
comuns a todos os seres humanos.
2. A doutrina de Bildade. Como
predecessor da Teologia da Prosperidade, acreditava Bildade que, se Jó estava
sofrendo e já nada possuía, era porque pecara contra o Senhor.
Pois somente são
atribulados aqueles que desobedecem a Deus. Logo: os que o obedecem, acham-se
em larguezas e profusões.
A fim de fundamentar a sua doutrina, evoca Bildade o
testemunho dos antigos: "Porque, eu te peço, pergunta agora às gerações
passadas e prepara-te para a inquirição de seus pais. Porque nós somos de ontem
e nada sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra"
(Jó
8.8,9).
3. A falácia de Bildade. Quão
falacioso e sofístico era Bildade!
Além de brincar com as palavras e jogar com
raciocínios aparentemente válidos, ousa invocar até o depoimento dos antigos.
Não agem assim os modernos proponentes da Teologia da Prosperidade?
Na defesa
deste aleijão doutrinário, torcem as Sagradas Escrituras, brincam com a
verdade, fazem uso de subterfúgios lógicos e até citam, fora de seu contexto, o
testemunho dos antepassados (2 Pedro 3.16).
III. AS CONTRADIÇÕES DA TEOLOGIA
DA PROSPERIDADE
Se Bildade viveu num período
anterior ao patriarca Abraão, como acreditamos, que exemplo poderia ele
apresentar dos antigos, para que a sua doutrina fosse devidamente justificada?
1. A prosperidade material. De
acordo com a História Sagrada, os ímpios vêm prosperando materialmente muito
mais do que os justos (Salmos 73.1-10).
O que dizer da civilização inaugurada pelo
homicida Caim? A cidade por ele fundada era, tecnologicamente, avançadíssima
(Genesis 4.17-22).
Enquanto isso, nem notícia temos do progresso alcançado pelos
filhos do piedoso Sete. Que riquezas lograra Enoque? Ou Noé? Ou ainda Sem?
Enquanto isso, iam os descendentes do indecoroso e irreverente Cão fundando
grandes impérios: Líbia, Egito, Etiópia e os domínios de Canaã (Genesis 10.1-20).
2. As provações dos justos. A
História Sagrada, no registro dos fatos que ocorreram após a era de Bildade,
fala de alguns homens que, apesar de sua comprovada e singular piedade, foram
submetidos às piores agruras.
Se Abraão, Isaque e Jacó foram abençoados com
grandes riquezas, José foi vendido como escravo, e como escravo viu-se
constrangido às mais inumanas humilhações (Genesis 37.26-36).
Elias, Amós e Lázaro
vivenciaram necessidades básicas. O primeiro viu-se na contingência de
nutrir-se do que lhe traziam os corvos (1 Reis 17.5-7).
O segundo, como boieiro,
alimentava-se de sicômoros (Amós 7.14).
E o terceiro, além da extrema pobreza,
fora coberto por uma terrível chaga; e, assim, abandonado por todos, comia das
migalhas que caíam da mesa do rico (Lucas 16.20-25).
3. A evidência de uma vida
piedosa. Não quero, com isso, ressaltar a pobreza como evidência de uma vida
plena de Deus, como não o é também a riqueza.
Pois, se nas Sagradas Escrituras
há ricos piedosos, há também pobres incrédulos e nada tementes a Deus.
Temos de agir com equilíbrio e
discernimento, pois os extremismos teológicos, quer à esquerda, quer à direita
da Bíblia, são nocivos.
Logo: que ninguém seja julgado pelo que tem, mas pelo
que é (Mateus 5.16; 1 Timóteo 5.25; Tiago 1.26,27).
Quer Deus nos conceda riquezas, quer
nos deixe experimentar necessidades, tenhamos sempre em mente que Ele é
soberano e, como tal, sabe tratar com seus filhos (Jeremias 18.1-6).
Habacuque e
Paulo sabiam viver na abundância, e não se perturbavam na privação (Habacuque 3.17-19;
Filipenses 4.10-13).
IV. A JUSTA PORÇÃO DE AGUR
A Teologia da Prosperidade é
diabolicamente perversa e mentirosa, porque induz os filhos de Deus a buscar a
riqueza, por concluírem ser esta tão importante quanto a salvação.
Alerta
Paulo, contudo, que, os que porfiam por serem ricos, cairão em muitas ciladas
(1 Timóteo 6.9).
O mesmo apóstolo ainda alerta ser o amor ao dinheiro a raiz de
todos os males
(1 Timóteo 6.10).
1. A teologia da miséria. Não
queremos urdir uma teologia da miséria, como se esta fosse suficiente para
conduzir-nos aos céus.
Se o fizermos, cairemos nas mesmas heresias daqueles
monges que, com os seus votos de pobreza, supunham ter já conseguido a riqueza
celeste.
Assim como há ricos piedosos, e Jó, entre todos os ricos, pontificava
por sua singular integridade, há também pobres ímpios e inimigos de Deus - e
não são poucos!
2. A porção de Agur. Como
buscar este equilíbrio? Encontrá-loemos na petição que, certa vez, um homem
chamado Agur endereçou a Deus:
"Duas coisas te pedi; não mas negues, antes
que morra: afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a
pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção acostumada; para que,
porventura, de farto te não negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que,
empobrecendo, venha a furtar e lance mão do nome de Deus" (Provérbios 30.7-9).
Noutras palavras, rogava Agur ao
Senhor o pão nosso de cada dia (Mateus 6.11).
Atentemos também a esta
recomendação do Senhor Jesus em Mateus 6.25.
E vejamos o que ainda diz Paulo
em 1 Timóteo 6.7,9.
CONCLUSÃO
Então, a que conclusão chegamos?
É prejudicial ao crente possuir riquezas?
Todavia, se a não usarmos para
minorar o sofrimento de nossos irmãos, compartilhar com os outros, impiamente agimos.
Por isso deve o irmão
rico gloriar-se em seu abatimento (Tiago 1.9).
Por conseguinte, quer pobres, quer
ricos, gloriemo-nos sempre em Deus, pois Ele fez tanto um quanto outro.
Além
disso, não disse o Senhor que sempre haverá pobres na terra? (Deuteronomio 15.11)
Eis
porque deve o rico ajudar o pobre, a fim de que todos tenham o necessário para
viver.
Que nenhum Bildade venha, pois,
julgar os que, à semelhança de Jó, passam por dificuldades. A riqueza e a
pobreza não podem servir de referenciais para se julgar a ninguém.
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