terça-feira, 11 de agosto de 2020

APRENDENDO COM MARCOS


                                                          Propósito
Quanto ao propósito este não aparece tão claro no Evangelho, e os estudiosos não são unânimes quanto a ele. A seguir temos algumas sugestões de propósito que podem ser assumidas.

1. Propósito Apologético

Marcos escreveu para uma comunidade cristã de maioria gentílica, e talvez tenha sido o seu propósito demonstrar porque Jesus foi rejeitado pelo povo judeu. Então, podemos entender baseados nesta posição, porque o evangelho apresenta duas características mui distintas, tanto a popularidade, como a oposição a Cristo. A.B. Bruce observa que esse paradoxo pode ser encontrado a partir dos dois primeiros capítulos, e se estendem praticamente até o fim do Evangelho.[1] 
Isto tem levado autores como Robert H. Gundry a defender que o Evangelho de Marcos é uma apologia da cruz de Cristo, escrito com fins evangelísticos para pessoas que tinham receio de crer na vergonha da cruz, num mundo onde a fraqueza era desprezada, e o poder estimado.[2]
Ainda, este Evangelho teria um propósito apologético para (1) mostrar porque Jesus como o Messias, era inocente diante das acusações dos judeus, e que o seu sofrimento era parte do propósito de Deus; (2) para expor por que Jesus, não declarou publicamente ser ele o Messias; (3) para apresentar as obras de Jesus como triunfantes sobre as forças demoníacas.[3]

2. Propósito Pastoral

Se a datação mais aceita estiver correta este Evangelho foi escrito entre 65-67 d.C., durante a perseguição de Nero. O grande incêndio de Roma em 64 d.C., possivelmente provocado pelo próprio imperador Nero, mas que fora atribuído aos cristãos. Por este motivo os cristãos estavam sendo perseguidos, e muitos estavam sendo martirizados. Marcos então, teria escrito para fortalecer estes cristãos que se encontravam abatidos e confusos com o sofrimento, morte e perseguições.

3. Propósito Doutrinário

Esta posição sugere que o propósito deste Evangelho seria preparar material para o discipulado. A própria tradição indica este propósito conforme já foi citado Clemente de Alexandria em sua obra Hypotyposeis.
O ensino dos apóstolos transmitidos oralmente precisava ser registrado, e comunicado aos novos discípulos, para que a mensagem do evangelho não se desvirtuasse, e assim fosse mantido fielmente o ensino de Cristo. Conforme bem afirma Pohl que
uma igreja que negligencia a recordação do Jesus terreno, em breve também não terá mais o Cristo verdadeiro de hoje, que é o mesmo ontem e para sempre. Um espírito que não recorda o Cristo de ontem não é um Espírito Santo. Também nisto reside o verdadeiro impulso para a transmissão da tradição de Jesus entre os primeiros cristãos, e para sua conservação definitiva e quádrupla no Novo Testamento.[4]

4. Esclarecer o segredo Messiânico

Uma posição que tornou-se comum entre os estudiosos de Marcos, é o conceito do “segredo Messiânico”.[5] Segundo esta posição Marcos em seu Evangelho desenvolve gradativamente a exposição do conceito de Messias. O mistério da pessoa de Jesus que já deixava todos curiosos (1:22,27; 3:21,22,30; 4:41; 6:2,14s; 8:11). Os demônios o reconhecem, mas recebem a ordem de guardar silêncio (1:25,34; 3:12; 5:6-8). Milagres poderosos deixam transparecer quem ele é, mas os presentes recebem a ordem de guardar silêncio (1:44; 5:43; 7:36; 8:26). Muitos dos atos do Senhor os próprios discípulos não entendiam (6:52; 8:17s). Mas depois gradativamente Cristo aceita ser reconhecido como Senhor, Deus e redentor, primeiro, pelos discípulos (8:29; 9:7), depois pelos peregrinos (10:47-49), na entrada triunfal (11:9-10), diante do Sinédrio (14:61s), de Pilatos (15:2), e finalmente, perante todo o povo de Israel (15:9,12,26,32,39).
Alguns têm sugerido que é por causa deste segredo intencional do próprio Senhor, que a sua messianidade não foi descoberta no início de seu ministério, e que somente foi exposta abertamente após a sua morte e ressurreição.

5. Propósito Evangelístico

Segundo essa sugestão Marcos teria escrito este livro com o propósito evangelístico. Isto explicaria porque o livro não é uma biografia, pois ele escreve para pessoas que conheciam os fatos básicos sobre o ministério de Jesus.
A ênfase de todo o livro recai sobre a última semana de Cristo. Marcos apresenta o sofrimento, a vergonha da cruz, e sua morte; e da perspectiva da glória de Cristo, seu poder e sua vitória final. Podemos supor que “Marcos escreveu seu Evangelho para ser usado na tarefa missionária da Igreja, para prover material para os evangelistas e missionários da Igreja de Roma.”[6]
Esta posição casaria muito bem com a característica literária do livro. Merril C. Tenney coloca que “as suas descrições breves, as suas frases agudas, as suas aplicações diretas da verdade, são exatamente aquilo que um pregador da rua usaria ao pregar Cristo a uma multidão promíscua.”[7]
Podemos concluir que Marcos escreveu este Evangelho com um propósito evangelístico, embora isso não exclua necessariamente os outros propósitos como sendo secundários.


Estrutura do Livro
Antes de esboçar a estrutura do Evangelho de Marcos devemos perguntar qual foi o critério que ele utilizou para compor a estrutura do seu Evangelho. Quanto a forma como o assunto se encontra distribuído no Evangelho de Marcos os estudiosos tem sugerido as seguintes classificações.

1. Esboço Cronológico

Segundo esta proposta de estrutura do texto, Marcos teria arranjado seu material seguindo a ordem dos eventos históricos como de fato eles ocorreram.

2. Esboço Topológico

Marcos teria arrumado o seu material de acordo com os lugares que Jesus visitou, começando pela Galiléia e terminando em Jerusalém sem necessariamente seguir a seqüência histórica dos acontecimentos.

3. Esboço Tópico

Esta proposta sugere que Marcos teria organizado seu material por assuntos, dentro de um esquema cronológico mais amplo. A sua estrutura seguiria temas comuns.

4. Esboço Cristológico

Esta divisão pressupõe que o livro se propõe a revelar o “segredo Messiânico”. Aproveitando a seqüência geográfica ou cronológica, o autor teria desvendado este segredo gradativamente, segundo se encontra na disposição de assuntos que ele estabeleceu.  
Nenhuma destas opções são totalmente satisfatórias para responder sobre a cronologia da vida de Jesus levantadas pela harmonia dos Evangelhos. O Dr. Nicodemus sugere que
Marcos retrata fielmente a seqüência histórica dos eventos, quando assim ele o indica (1:14; 1:21; 1:29; 9:2, etc.), e que um arranjo tópico ou topológico não significa necessariamente que ele editou e modificou os fatos, ou as palavras de Jesus.[8]

A Estrutura

A divisão abaixo não segue rigidamente nenhum dos esboços que foram apresentados acima, e sim uma síntese deles.

I.  O início do ministério de Jesus (1:1-13)
A. Seu precursor, 1:1-8
B. Seu Batismo, 1:9-11
C. Sua tentação, 1:12-13
II. O ministério de Jesus na Galiléia (1:14-6:29)
A. O ministério inicial na Galiléia, 1:14-3:12
B. O ministério posterior na Galiléia, 3:16-6:29
III. O ministério em outras localidades (6:30-9:32)
A. Nas praias orientais do Mar da Galiléia, 6:30-52
B. Nas praias ocidentais do Mar da Galiléia, 6:53-7:23
C. Na Fenícia, 7:24-30
D. Em Decápolis, 7:31-8:10
E. Nas regiões de Cesaréia de Felipe, 8:11-9:32
IV. O Ministério Final na Galiléia (9:33-50)
V. O Ministério na Judéia e Peréia (cap. 10)
A. Ensino sobre o divórcio, 10:1-12
B. Ensino sobre as crianças, 10:13-16
C. O jovem rico, 10:17-31
D. Jesus prediz sua morte, 10:32-34
E. O pedido dos dois irmãos, 10:35-45
F. A cura do cego Bartimeu, 10:46-52
VI. O ministério em Jerusalém (caps. 11-13)
A. A entrada triunfal, 11:1-11
B. A purificação do Templo, 11:12-19
C. Controvérsias finais com líderes judaicos 11:20-12:44
D. O sermão escatológico no Monte da Oliveiras, cap. 13
VII. A Paixão de Jesus (caps. 14-15)
A. Jesus é ungido, 14:1-11
B. A última Ceia, 14:12-25
C. Jesus prediz a negação de Pedro, 14:26-31
D. Jesus no Getsêmani, 14:32-42
E. A prisão, julgamento, e a morte de Jesus, 14:43-15:47
VIII. A Ressurreição de Jesus (cap. 16)


Local da Escrita
A tradição da Igreja antiga quanto a autoria e aos destinatários aponta inconteste para Roma. Somente uma voz tardia e isolada propõe que Marcos escreveu o seu Evangelho em Alexandria, no Egito.[9]

1. A Comunidade Judaica em Roma
        A dispersão dos judeus foi um acontecimento de grande importância para a preparação da vinda de Cristo, e para o progresso da Igreja Cristã. Quando ocorreu o Pentecostes os judeus já se encontravam espalhados por todo o império romano (At 2:5-11).
        A informação mais antiga sobre a comunidade judaica na capital romana remonta ao ano 139 a.C.. Calcula-se que o número de judeus no início do século I aproximava-se de 40.000. Alguns anos mais tarde a capital romana chegou a ter mais judeus do que na cidade de Jerusalém. Muitos foram para lá como escravos de guerra; outros foram por motivos religiosos, ou seja, para alcançar novos prosélitos (Mt 23:15), mas muitos poderiam ter ido por causa do comércio.[10]
        Com a confiança de César conquistada por Herodes, o Grande, a influência judaica cresceu no império romano. Disto resultou alguns privilégios adquiridos pelos judeus como a livre guarda do sábado, eram isentos do serviço militar como legionários romanos, e desfrutavam de liberdade religiosa em suas reuniões sem a presença de soldados romanos, que eram gentios.
        Com isso o movimento crescente do cristianismo tendo nascido em berço judeu, também desfrutou destes benefícios, pois para os de fora eles não passavam de uma facção judaica em crescimento.

2. A Igreja em Roma
        Provavelmente a Igreja de Roma começou com romanos, ou judeus residentes na capital romana que se converteram no dia do Pentecostes. Em Atos há uma referência aos “visitantes vindos de Roma” (At 2:10).
        Adolf Pohl aponta seis características da Igreja Cristã em Roma nos dias de Marcos. Primeiro, ela era uma das mais antigas e rica em tradições dentro do império romano. Tácito confirma o grande número de cristãos na capital império. Os cristãos tinham na capital de Roma adquirido uma posição de preeminência entre as demais igrejas do império. Na epístola aos romanos vemos Paulo num bom relacionamento com ela (Rm 1:8; 16:16). A maioria da igreja ali era gentílica. Em Roma vivia uma comunidade cristã cheia de mártires. Com o desaparecimento dos primeiros líderes daquela comunidade, surgiu Marcos para intervir e garantir à igreja a tradição de Jesus.[11]


Destinatários

        O Evangelho de Marcos foi escrito para a Igreja de Roma. Hurtado trata o assunto com certa superficialidade chegando a concluir sem maiores averiguações que “a única conclusão positiva que podemos tirar é que Marcos escreveu para cristãos gentios moradores fora da Palestina.”[12] Contudo, discordo dele pois o livro apresenta algumas evidências que nos levam a pensar que Marcos escreveu seu Evangelho para os cristãos que moravam em Roma.

Em primeiro lugar, devemos observar que os cristãos romanos como destinatários são indicados pela mais primitiva tradição da Igreja.
Segundo, Marcos explica costumes e traduz palavras judaicas, o que seria totalmente desnecessário para uma audiência judaica.
Não podemos ignorar os latinismos. Contra esta evidência poderia ser argumentado que, pelo fato de Marcos viver num mundo dominado politicamente e culturalmente por Roma, esta influência dos latinismos seria algo muito comum. Mas devemos perguntar porque estes latinismos não são “tão comuns” nos outros evangelhos? Pohl falando da influência do idioma latino coloca que “é claro que latinismos não precisam estar apontando para a Itália, mas são possíveis em todo lugar aonde os romanos chegaram. Só que no evangelho de Marcos eles são especialmente numerosos e de traços característicos”.[13]
Existe uma possível referência a um membro da Igreja de Roma. Simão Cireneu, é apresentado como pai de Alexandre e Rufo (Mc 15:21), e Rufo morava em Roma na época que Paulo escreveu aos romanos (Rm 16:13), ou seja 57-60 d.C., poucos anos antes de Marcos escrever (cerca de 65-67 d.C.). Quando Marcos escreve o seu Evangelho, escreve pressupondo que os seus leitores conhecessem Alexandre e Rufo. 


Data da Escrita
        O Evangelho segundo Marcos foi escrito em 65-67 d.C.. Algumas razões pelas quais essa data é preferível.
        Primeiro, esta data é preferível, pois, Marcos possivelmente escreveu após a morte de Pedro, que ocorreu entre 64-65 d.C., durante a perseguição de Nero. É o que afirmam o prólogo Antimarcionita (180 d.C) e Irineu (Adv. Haer. 3:1.2).[14]
Segundo, o Evangelho de Marcos foi provavelmente o primeiro Evangelho a ser escrito, e talvez usado por Mateus e Lucas, o que torna uma data após 70 d.C. muito improvável.[15]
A destruição de Jerusalém ocorreu em 70 d.C., e não encontramos neste Evangelho nenhuma menção do cumprimento do sermão escatológico de Jesus, e da sua referência sobre a futura angústia que viria sobre Jerusalém.[16]


Ênfases Teológicas
A Cristologia de Marcos é admirável, ele possuía um entendimento surpreendente acerca de quem Jesus era, fazendo observações, narrando detalhes, atos e reações do Senhor em momentos específicos de seu ministério.
Marcos apresenta Jesus como sendo verdadeiro homem. Na Cristologia de Marcos Jesus é perfeitamente humano. Ele precisava orar (1:35; 6:31), comer (2:16), beber (15:36), sentia fome (11:12), tocava nas pessoas (1:41), e era tocado por elas (5:57), ele se entristecia (3:5), e se indignava (10:14), sentia sono por causa do cansaço e era despertado após momentos de cansaço (4:38-39). Enquanto homem o seu conhecimento é limitado (13:32), de modo que se volta para ver quem lhe tocou (5:30), possuí corpo humano (15:43), um espírito humano (2:8), e inclusive poderia morrer (15:37).[17]
Marcos apresenta Jesus como sendo verdadeiramente Deus. Na Cristologia de Marcos não há negação da sua divindade. Ele descreve Jesus como tendo domínio soberano sobre o reino da enfermidade (1:40-45; 8:22-26; 10:46,52;), dos demônios (1:32-34), e da morte (5:21-24,35-43), sobre os elementos da natureza (4:35-41; 6:48; 11:13-14,20); prediz o futuro (8:31; 9:9,21; 10:32-34; 14:17-21), conhece o coração das pessoas (2:8; 12:15), vencendo a morte (16:6).[18] De acordo com Marcos as duas naturezas de Cristo, divino e humano, se encontram em perfeita harmonia na pessoa de Jesus. E isto pode ser percebido nas seguintes passagens (4:38-39; 6:34,41-43; 8:1-10; 14:32-41).
Marcos apresenta Jesus como o Filho de Deus. Esse título é usado para descrever a sua messianidade. Marcos inicia seu Evangelho identificando João Batista como o cumprimento da profecia de Ml 3:1 e Is 40:3, como aquele que viria e prepararia o caminho para o “Messias”. A voz que surge do céu dizendo “Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado” (1:11 NVI). Jesus é aquele a quem os anjos servem (1:13). O seu sangue é oferecido em favor de muitos (10:45, cf. 14:24). Ele batiza com Espírito Santo (1:8), nomeia os seus próprios embaixadores (3:13-19), tem autoridade para mandar que os homens lhe sigam e o recebam (8:34; 9:37); na transfiguração manifesta parcialmente a glória futura (9:11); e declara que virá outra vez na glória de seu Pai (8:38), nas nuvens com grande poder e glória, quando enviará seus anjos para recolher seus eleitos (13:26-27).[19] Precisamente foi condenado por ter confirmado a sua divina filiação (14:61-63).
Marcos apresenta Jesus como o Redentor. Jesus numa de suas declarações afirma que ele veio para “dar a sua vida em resgate por muitos”(10:45). Marcos descreve um Cristo que haveria de sofrer, e dedica uma grande porção de sua narrativa para expor a Paixão de Cristo, mais do que os outros Evangelhos.[20]







APRENDENDO COM MARCOS


O EVANGELHO DE MARCOS 

Podemos encontrar a narrativa de três passagens contendo detalhes que pertencem ao acervo específico do Evangelho de Marcos. Alguns dos estudiosos têm encontrado nestas passagens evidências como se o autor sem querer se identificar de forma objetiva dissesse: “olha esse aqui sou eu”! 
A primeira passagem é 10:17, que relata sobre “um homem correu em sua direção” e, “Jesus olhou para ele e o amou” (Mc 14:21 NVI). Não temos aqui o nome deste homem que vai ao encontro de Jesus, mas a forma como Jesus o olhou “com carinho”; nem Mateus (19:16-30), nem Lucas (18:18-30), mas somente Marcos poderia saber o modo deste olhar.
Em 14:13-16 encontramos a descrição de “um homem carregando um pote de água virá ao encontro de vocês” (NVI). Aparentemente este homem sabia de tudo, pois ele já esperava pelos dois discípulos, e sem perguntas os conduz pelo caminho e os leva até uma determinada casa. Novamente, Marcos usa o recurso de apresentar um personagem sem identificá-lo, apenas indica que morava em Jerusalém, mas que certamente era um outro discípulo, pois Jesus sabia de sua disponibilidade para preparar a última ceia. Podemos deduzir que este poderia ser Marcos, pois a casa de sua mãe, algum tempo depois do Pentecostes viria a se tornar um ponto de referência para os cristãos em Jerusalém (At 12:12), e que lugar poderia ser mais sugestivo, senão a casa onde ocorreu a última ceia?
A narrativa de “um jovem” que foge desnudo (Mc 14:51-52). Este episódio em si é desprovido de relevância, a não ser que fosse importante para o autor do Evangelho. O autor nos fornece aqui alguns detalhes significantes, Stott comenta que “o jovem que seguiu Jesus era claramente rico, porque usava um lençol ‘de linho’: geralmente, tais peças eram de algodão. O terror do jovem é realçado tanto por fugir desnudo como por sua disposição de desfazer-se de uma vestimenta tão valiosa.”[1]

2.3.  O autor

Até aqui temos considerado, pelas evidências, que o autor do segundo Evangelho era denominado como Marcos. Os estudiosos o identificam com João Marcos de Jerusalém, por ser o único “Marcos” que os escritores do NT mencionam.
Lucas e Paulo em seus escritos nos fornecem algumas informações acerca de João Marcos. Na residência de sua mãe, que se chamava Maria, se reuniam os cristãos da igreja de Jerusalém (At 12:12). Ele era primo de Barnabé (Cl 4:10). Participou da primeira viagem missionária com Paulo e Barnabé, contudo não foi bem sucedido, e regressou para Jerusalém (At 13:13), por motivos que desconhecemos (At 12:35; 13:5); Paulo por causa dessa desistência, não quis levá-lo na viagem seguinte, Barnabé não concordando, rompeu com Paulo, e continuaram os seus esforços missionários separados um do outro (At 15:37-41). Contudo, posteriormente Paulo menciona Marcos como seu colaborador (Fm 24; Cl 4:10) e como lhe sendo útil para o ministério (2 Tm 4:11).[2]
Podemos concluir historicamente que, após a morte de Paulo, Marcos passou a trabalhar com Pedro.[3] Quanto ao seu relacionamento com o apóstolo, além das informações que recebemos por parte dos Pais da Igreja, só possuímos uma referência do próprio apóstolo ao mencioná-lo carinhosamente como “Marcos, meu filho” (1 Pe 5:13, NVI). Era comum entre os judeus, especificamente entre os rabinos chamar os seus discípulos de filhos, como também os discípulos se dirigirem aos seus mestres, como “pai”.[4]
Este Evangelho possui similaridades com os sermões de Pedro. Ainda analisando o estilo literário, podemos observar que o Evangelho de Marcos “segue os eventos históricos sobre a vida de Jesus que aparecem nos sermões de Pedro em Atos 3:13-14 e 10:37-42”.[5] Como já observamos, o nome de Marcos está intimamente ligado ao de Pedro, logo, não nos surpreende que ambos tenham discursos similares.
Além das similaridades com os sermões de Pedro, possuímos outras evidências de uma possível influência do apóstolo. C.E. Graham Swift coloca o assunto assim
o evangelho começa com a chamada de Pedro, sem referência alguma à natividade de Cristo. O evangelho focaliza o ministério na Galiléia, e mais especialmente nos arredores de Cafarnaum, cidade de Pedro. (...) São omitidas alguns pormenores que destacam a pessoa de Pedro, em a narrativa da confissão de Pedro, em Cesaréia de Filipe, e do seu andar sobre o mar. São relatadas minunciosamente as suas derrotas, como a negação do mestre.[6]

Em resumo, podemos dizer que Deus soberanamente preparou aquele que haveria de escrever o Evangelho. Augustus Nicodemus sugere “Marcos certamente conheceu a Jesus em Jerusalém, andou com os principais líderes apostólicos, e deles ouviu muitas outras coisas”.[7]


Conteúdo do Evangelho
Este livro não é uma biografia. Marcos tencionou apresentar a vida do mestre de forma bem resumida, enfatizando a sua mensagem. Não pode ser considerada uma biografia no sentido moderno da palavra. Larry W. Hurtado declara que “a motivação forte conducente à redação dos evangelhos não partiu de interesses biográficos, pelo menos como os entendemos hoje, mas nasceu do desejo de incrementar a fé em Jesus, e a ela dar forma”.[8]
Vejamos algumas razões porque esse Evangelho não pode ser considerado uma biografia. O Evangelho de Marcos não faz uma descrição física de Cristo. Não é fornecido nenhum detalhe a respeito da altura, peso, cor, enfim, nenhuma característica física de Cristo foi comentada. 
O segundo Evangelho não contém a narrativa do nascimento e infância de Jesus. Não encontramos neste Evangelho como vemos em Mateus e Lucas a genealogia, a narrativa do nascimento, nem mesmo algumas pinceladas da infância do Senhor. Podemos observar que a começar pelo título há uma ênfase na mensagem do Senhor, sem necessariamente anular o seu apregoador.[9]
Mesmo a narrativa que encontramos do ministério de Cristo não é exaustiva. O autor nos fornece o início ministerial de Cristo dizendo que “ele percorreu toda a Galiléia, pregando nas sinagogas” (Mc 1:21; 1:39, NVI). Neste dado já possuímos um salto histórico enorme, pois o narrador omite todos os detalhes e seqüências de sua mensagem como também, desta trajetória de Cristo em seu ministério inicial. Pohl corretamente diz que
é evidente que Marcos não tinha a intenção de dar o mesmo peso aos diversos aspectos da vida de Jesus. Seu interesse primordial era sua morte, porque ali ficou demonstrado definitivamente – sem contestação por toda a eternidade – quem é Jesus e como é Deus.[10]
        
Jesus iniciou o seu ministério na região da Galiléia. Sabemos que a região da Galiléia abrangia uma vasta porção de terra, com muitas cidades e vilas. Flávio Josefo afirma que “não somente há uma grande quantidade de aldeias e vilas, mas também um grande número de cidades (não menos que 240), tão populosas que a menor delas tem mais de quinze mil habitantes”.[11] Contudo, acerca deste número populacional tão volumoso Alfred Edersheim afirma que “naturalmente deve ser um grande exagero, pois haveria de existir naquele país uma população duas vezes mais densa que os mais densos distritos da Inglaterra, ou Bélgica.”[12] Apesar do exagero de Josefo, podemos crer que de fato a região da Galiléia era populosa. Apenas nesta afirmação tão resumida de todo o ministério de Jesus na Galiléia, podemos concluir que o Evangelho de Marcos não é uma narrativa exaustiva.
Deixou-se claro o que o Evangelho não contém, mas o que de fato ele contém? Isto será exposto de forma mais detalhada no tópico sobre o propósito, estrutura e ênfases teológicas do texto, podemos ainda levantar outras características do conteúdo aqui.

Características da Narrativa
Este Evangelho é conhecido por dar proeminência ao evangelho. Diferentemente dos outros Evangelhos, este enfatiza mais a mensagem do que o seu mensageiro, e isso pode ser averiguado a começar pelo seu título (1:1). Harrison coloca que “esta mensagem divina é digna do sacrifício da própria vida por parte do discípulo (8:35; 10:29). Deve ser proclamada a todas as nações (13:10; 14:9). Marcos é totalmente kerygmático em sua ênfase.”[13]
Este Evangelho é conhecido como “o Evangelho da Ação”. O Evangelho de Marcos é marcado pela descrição de um ministério ativo, realizado por Cristo. Não encontramos o Senhor em nenhum lugar deste Evangelho descansando. A maior parte dos sermões de Jesus são omitidos, dando maior ênfase nas ininterruptas atividades do Senhor. Hendriksen observa que “cada um dos primeiros onze capítulos de Marcos contém o relato de pelo menos um milagre (1:21-28, 29-31, 32-34, 39, 40-45; 2:1-11; 3:1-6; 4:35-41; 5:1-20, 21-43; 6:30-44, 45-52, 53-56; 7:24-30, 31-37; 8:1-10, 22-26; 9:14-29; 10:46-52; e 11:12-14, 20-21)”.[14]
Este Evangelho possui uma característica marcante por sua brevidade. Observemos que apesar de sua brevidade, ele contém certos detalhes que são omitidos pelos outros evangelistas, como por exemplo, 2:4; 4:37-38; 6:39; 7:33; 8:23-25; 14:54, e ainda contém uma parábola que não se encontra em nenhum outro lugar (4:26-29).[15] E também encontramos em Marcos a narrativa de dois milagres que somente são mencionados aqui (7:31-37 e 8:22-26).[16]
É um Evangelho rico em detalhes. De fato, ele é mais breve e sucinto que os outros Evangelhos, contudo, ele não se torna superficial por sua brevidade. Marcos nos fornece em seu relato não somente a ocorrência em si, mas também transmite minuciosidade em sua narrativa. Vejamos alguns exemplos. No deserto, ele afirma que Jesus “estava entre as feras” (1:13). Na pregação de João Batista, ele observa a ordem “creiam nas boas novas” (1:15). Ao curar a sogra de Pedro, Jesus não somente a tocou, mas também “a tomou pela mão” (1:31). Quanto a alguns hábitos do Senhor ele relata que, “de madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, e ali orava” (1:35, NVI). Estes são alguns dos detalhes que são relatados no primeiro capítulo, contudo, é possível encontrar maiores detalhes nos capítulos seguintes que são peculiares em Marcos, e que não encontramos nos demais Evangelhos.[17]
Este Evangelho é conhecido por sua sinceridade. Marcos é extremamente franco em sua narrativa, ele não hesita em mencionar a falta de entendimento dos discípulos (4:13; 6:52; 8:17,21; 9:10,32), que a própria família de Jesus o considerava como tendo enlouquecido (3:21), ele ainda diz que Jesus não podia realizar milagres em Nazaré por causa da incredulidade do povo (6:5-6). Marcos é igualmente sincero em “sua descrição das reações humanas de Jesus. As emoções como compaixão, ira, dor, severidade, tristeza, afeto e amor são todos atribuídos a ele”.[18]
Este Evangelho é conhecido como “o Evangelho aos gentios”. Percebe-se uma ausência de traços judeu-cristão que é tão comum no Evangelho de Mateus. Na história da mulher siro-fenícia, o Evangelho de Marcos não apresenta como em Mateus, Jesus respondendo: “eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15:24, ARC). E Jesus em seu sermão escatológico em Mc 13, faz a seguinte observação no verso 10, “é necessário que antes o evangelho seja pregado a todas as nações”.[19]





APRENDENDO COM JESUS


O MODELO DE JESUS PARA SUA IGREJA

Por que há tantas igrejas? Qual é a certa, ou são todas certas? Devo participar de uma igreja para agradar a Deus? Por causa da desnorteante quantidade de opções no mundo religioso, mais e mais pessoas estão fazendo perguntas como estas.
Para responder, vamos voltar a examinar o Novo Testamento. Por enquanto, esqueça o que você sabe a respeito de religião e considere, de novo, o padrão do evangelho pregado por Cristo e seus apóstolos.
Durante sua vida na terra, Jesus escolheu 12 homens, chamados apóstolos, para revelar e espalhar a mensagem depois de sua ascensão. Começando em Atos 2, estes homens pregaram e ensinaram o evangelho em Jerusalém. Logo, outros seguidores de Cristo estavam indo de lugar a lugar, ensinando a mesma mensagem. Olhemos para a cidade de Antioquia da Síria como um modelo do que aconteceu quando pessoas receberam o evangelho lá (Atos 11:19-26). Vários cristãos foram a Antioquia. Eles pregaram o evangelho do Senhor Jesus (v. 20). Muitos foram convertidos ao Senhor (v. 21). Os novos convertidos foram exortados a permanecer no Senhor (v. 23). Como resultado, muitas pessoas foram unidas ao Senhor (v. 24). O que é ressaltado em tudo isto é, claramente, o Senhor: Pregando o Senhor, conversão ao Senhor e lealdade ao Senhor. A próxima coisa que lemos no texto é a igreja se reunindo. Evidentemente, aqueles convertidos ao Senhor reuniam-se e trabalhavam como uma igreja (congregação). Esta igreja logo recolheu dinheiro para mandr aos irmãos pobres em outra cidade (Atos 11:27-30). Mais tarde, a igreja mandou dois de seus cinco profetas e mestres para espalhar o evangelho em outras áreas (Atos 13-14). Estes dois, Barnabé e Paulo, pregaram a Jesus em muitas outras cidades e logo, nelas também, havia igrejas (Atos 14:23). Enquanto Paulo e Barnabé, alegremente, relataram à igreja de Antioquia sobre o trabalho do Senhor durante a viagem (Atos 14:27), não há nenhuma indicação de que a igreja de Antioquia exercesse qualquer controle sobre as outras igrejas. Antes, presbíteros (também chamados bispos e pastores, na Bíblia) foram escolhidos dentro de cada uma destas congregações para supervisionarem-na (Atos 14:23). Nunca, na Bíblia, os presbíteros foram autorizados a supervisionar outra congregação além da qual foram eles selecionados (Atos 20:28; 1 Pedro 5:1-3).
Como é típico na história dos homens, algumas mudanças entraram gradativamente e desviaram os Cristãos deste modelo original. Pouco a pouco, o desenvolvimento de uma organização foi se extendendo acima das igrejas. Grupos de homens e igrejas mais importantes começaram a controlar as outras igrejas. As igrejas começaram a se tornar parte de uma hierarquia. A lealdade a Cristo foi substituída pela lealdade à "igreja". Uma extrema reação contra este erro levou a um outro abuso do plano de Deus. Alguns decidiram que não era necessário fazer parte de qualquer congregação e tentaram servir a Deus sozinhos, sem adoração ou trabalho com outros cristãos. Como podemos servir a Deus em um mundo cheio de tais desvios de sua vontade?
Que os homens pudessem apartar-se do padrão de Deus, não é surpresa. Repetidamente, no Velho Testamento, o povo se extraviou de sua  palavra. Em cada ocasião, profetas de Deus como Isaías (44:22; 55:6-7), Jeremias (3:12-14; 6:16; 35:15), Ezequiel (14:6; 18:30-32) e Joel (2:12-13) chamaram o povo de volta ao plano original de Deus. Cada vez que os israelitas se desviavam do padrão, homens devotos conduziam a nação a abandonar as alterações e retornar à vontade revelada por Deus. Davi (1 Crônicas 13), Ezequias (2 Crônicas 29-31), Josias (2 Reis 22-23), Esdras (9-10) e Neemias (8-10,13), todos ajudaram o povo a voltar ao plano original de Deus. Todas as vezes, a meta foi uma imitação completa do padrão revelado.
A solução para o mundo religioso, que nestes dias está por demais extraviado da vontade de Jesus Cristo, é voltar ao padrão da Bíblia. Jesus chamou a palavra de Deus de "a semente" (Lucas 8:11). Uma das qualidades interessantes da semente é que a planta que dela resulta, quando é plantada, é sempre a mesma, não importa quando ou onde ela é semeada. Se plantarmos hoje a semente pura (a palavra de Deus), conseguiremos o mesmo efeito que a palavra produziu no primeiro século. Quando o resultado for grupos religiosos e organizações, desconhecidos no Novo Testamento, a causa é que foram semeados outros ensinamentos, além do puro evangelho.
Imagine que você e eu sejamos abandonados numa ilha desabitada. Não temos nenhum conhecimento de religião. Um dia, uma Bíblia chega na praia e começamos a lê-la, estudá-la e decidimos seguir o que ela ensina. Sem qualquer conhecimento de religião, apenas com a pura semente do evangelho plantada em nossos corações, o que faríamos? Decidiríamos seguir a Jesus em nossa vida, submetendo-nos a seu ensinamento. Reunir-nos-íamos como uma congregação para adorar e servir ao Senhor. Talvez decidíssemos ir a outros lugares para ensinar pessoas a seguirem a Jesus. Mas que tipo de igreja decidiríamos tornar-nos? Esta questão jamais passaria pela nossa mente. Sem conhecimento das modificações humanas, jamais pensaríamos em ser qualquer outra coisa que não fosse uma igreja de Jesus Cristo, servindo-o independentemente e seguindo seu ensinamento. Para nós, que bem sabemos das modificações que os homens têm feito no evangelho, nosso alvo deve ser igual: servir ao Senhor exatamente do mesmo modo que as Escrituras ensinam, se seguir os erros de outros.
Princípios Básicos
Mantenha a ênfase em Cristo.
Em nossa sociedade, a lealdade às igrejas toma o lugar da lealdade a Cristo. Algumas pessoas colocam a  igreja acima de Jesus Cristo e servem a igreja acima de tudo. Estas pessoas pensam sobre seu serviço a Deus em termos de encontrar a igreja, juntar-se à igreja, e permanecer fiéis à igreja. Apostasia, para eles, é deixar a igreja. Em termos bíblicos, a igreja é simplesmente aqueles que estão seguindo a Jesus, a família de Deus. Nosso foco, ênfase, e lealdade são para com Cristo. Outras pessoas colocam a igreja entre Cristo e o homem, pensando nela como uma instituição através da qual Deus fala ao homem e o homem a Deus. Mas Cristo é o único mediador entre Deus e o homem (1 Timóteo 2:5). Eu não procuro Deus através da igreja; a igreja é o povo que está procurando seguir a Deus. É Cristo quem deve dominar nossas vidas, não a igreja.
Veja o lugar da igreja (congregação) no plano de Deus. Deus planejou que os cristãos haveriam de servi-lo com outros cristãos, como uma parte de um grupo de discípulos. Ele esperou que as igrejas se reunissem para adorar, juntar seus recursos para trabalhar, procurar homens qualificados para ensinar, e encorajar uns aos outros à fidelidade (Atos 2:42-47; 4:32-37; 11:26-30; 14:23; 20:7; 1 Coríntios 16:1-2; Hebreus 10:24-25; etc.). Eu sou parte de uma igreja porque Cristo ordenou. Tentar ser um cristão sozinho, sem fazer parte de uma congregação, é ignorar as instruções de quase todos os livros, desde Atos até Apocalipse, os quais foram escritos para as igrejas, ou para dar instruções sobre a determinação de Deus para as igrejas. Não podemos colocar a igreja no lugar de Cristo como Senhor. Mas, antes, em obediência a Cristo, submetermo-nos ao plano que ele revelou a respeito das atividades dos cristãos.
Evite pensamentos errados. O conceito de uma estrutura hierárquica entre igrejas, penetra de tal maneira em nossa sociedade que é difícil evitarmos. A Bíblia não ensina o conceito de uma igreja sendo parte de um grupo de igrejas. Assim como não devemos pensar que a igreja seja a mediadora entre o homem e Deus, não devemos pensar em alguma organização como mediadora entre a congregação e Deus. Cada igreja, que segue a Cristo, vai segui-lo diretamente, sem lealdade a qualquer grupo ou rede de igrejas.
Faça parte de uma igreja que segue o padrão da Bíblia. Já no tempo em que João escreveu o livro do Apocalipse, algumas igrejas estavam se extraviando do padrão (Apocalipse 2-3). Visto que eu não posso participar, nem encorajar práticas fora das Escrituras (Efésios 5:11; 2 Coríntios 6:14-7:1; 2 João 9-11), eu também não posso fazer parte de uma igreja que não é fiel à palavra de Deus. Graças a Deus, temos, ainda, a semente pura. É possível a uma igreja seguir a palavra de Deus e voltar ao caminho de Deus, como os israelitas fizeram em muitas ocasiões. É ainda possível para indivíduos se reunirem e começarem uma igreja conforme a vontade de Deus. Os apelos e exemplos de muitos homens de Deus foram relatados na Bíblia, para nos ensinar e nos motivar a seguir o caminho de volta ao padrão do Senhor.
Voltemos e sirvamos a Deus exatamente como os cristãos o fizeram no primeiro século.

por Gary Fisher


APRENDENDO COM JUDAS (PARTE 8)


O APARECIMENTO DOS FALSOS MESTRES

Judas afirma que entravam furtivamente, como espiões, falsos mestres na
Igreja e que é preciso identificá-los para que a fé não seja corrompida.
I - O APARECIMENTO DOS FALSOS MESTRES
Os falsos mestres ou doutores não são uma peculiaridade da Igreja. Já
existiam falsos profetas no meio do povo de Israel, como fizera questão de
deixar advertido Moisés - Dt.13:1-5; 18:20-22 (é interessante notar que a
advertência sobre os falsos profetas vem logo em seguida à promessa
messiânica, ou seja, o propósito do adversário ao implantar este tipo de
gente no meio do povo escolhido é, exatamente, o de desviar a atenção do
Messias, do Cristo).
OBS: "...Os profetas representaram papel memorável no drama da vida nacional
judaica de sua época. Para o leitor moderno, só pode existir uma avaliação
dos profetas: eram professores e pregadores inspirados(...) Verberavam os
agravos e os sofrimentos do povo numa sociedade semelhante às que
prevaleciam por todo o mundo antigo(...) na qual uma pequena classe
dominante, corrompida pelo luxo e pelo poder, explorava os pobres e os
fracos e tudo fazia para negar as tradições democráticas e as práticas
éticas que Moisés havia instituído. Como reformadores religiosos, os
profetas desprezavam o formalismo oco do culto religioso que predominava
naquela época. Investiam contra a classe sacerdotal e contra o submisso
círculo 'oficial' de profetas sicofantas. Ambos esses grupos, acusavam eles,
tinham interesse pessoal na preservação do despotismo monárquico e,
portanto, decidiam ignorar ou ficar indiferentes à fome espiritual do povo e
às circunstâncias desesperadas de suas vidas..." (Enciclopédia Judaica, v.5,
p.95).
- A distinção entre o falso e o verdadeiro mestre não é algo fácil e que se
perceba de imediato, porquanto o falso mestre é alguém engendrado pelo
adversário e que, como ele, é dissimulador. Sempre que a Bíblia se refere
aos falsos mestres, fala de ardil, de engano, de fraude, de dissimulação -
Ef.4:14; At. 20:28-30; I Tm.4:1,2; II Tm.3:1-5; Cl.2:18; Gl.6:12; Mt.7:15;
24:24.
- Por isso, Judas alerta para a circunstância de que os mestres se
introduzem no meio do povo de Deus, é algo insidioso, sutil e dissimulado.
Paulo já alertara para este fato quando se despediu dos irmãos de Éfeso
(At.20:28-30).
OBS: " ... no Antigo Testamento (...)a resposta ao problema do discernimento
com que se deve distinguir o profeta falso: esse teste é teológico, a
revelação de Deus por ocasião do Êxodo. A essência do profeta falso é que
ele convida o povo 'a ir após outros deuses, que não conheceste' (Dt.13:2),
dessa maneira pregando 'rebeldia contra o Senhor vosso Deus, que vos tirou
da terra do Egito' (Dt.13:5,10). Aqui encontramos a característica final,
evidente em Moisés, do profeta normativo; Moisés também fixou a norma
teológica mediante a qual todo ensino subseqüente poderia ser julgado. Um
profeta poderia alegar estar falando em nome de Yahweh; porém, se não
reconhecesse a autoridade de Moisés nem subscrevesse as doutrinas do Êxodo,
era um profeta falso..." (Novo Dicionário da Bíblica, edição em um volume,
p.1324).
II - IDENTIFICANDO OS FALSOS MESTRES
Entretanto, como o próprio Jesus nos mostrou que "pelos seus frutos os
conheceremos" (cf. Mt.7:16-18), é possível identificar o falso mestre pela
sua conduta, pois, todos eles têm as seguintes características, conforme se
vê em II Pe.2, texto, que, como já visto na lição anterior, é
interdependente da epístola de Judas:
OBS: "...Os sinais dos falsos mestres. 1) um temporário e aparente
conhecimento do Senhor ( II Pe.2:1,20,21). 2) uma interpretação particular e
deturpada da Bíblia ( II Pe.1:20; 3:16); 3) uma atitude e conduta
antinomianas sem escrúpulos ( II Pe.2:2,10,13,14); 4) orgulho e avareza ( II
Pe.2:3-10); 5) um abandono do caminho ( II Pe.2:15,21,22)." (Bíblia Vida
Nova, 11.ed., nota a II Pe. 1:20-2:22, p.282).
a)             fraudulentos - como já dissemos supra, a principal característica do falso mestre é o engano, como não poderia ser diferente para quem é agente
do diabo, o pai da mentira (cf. Jo.8:44). Há, sempre, um hiato entre as
palavras e a conduta do falso mestre, entre sua aparência pública e sua vida
privada. - Mt.23:3-4; Ap.2:2
OBS: "... Os métodos de ensino dos gnósticos eram subversivos. Nunca
entravam em uma comunidade declarando em que criam. Mostravam-se astutos,
procurando firmar o pé, antes de dizerem suas posição. O termo grego
'pareisago' indica 'trazer secretamente', ' trazer maliciosamente'. A
metáfora tencionada é a de um 'espião' ou 'traidor', cujo propósito é o de
prejudicar ou destruir, que oculta o seu verdadeiro intento. Comparar com
Jd.4...." (R.N. CHAMPLIN, NTI, v.6, p.191)
b)             dissolutos - a palavra grega original ("asalgeia") significa "deboche
total, indecência desavergonhada, desejo desenfreado, depravação irrestrita.
A pessoa com essa característica tem uma oposição insolente à opinião
pública, pecando à luz do dia com arrogância e desdém" (cf. Bíblia de Estudo
Plenitude, palavra-chave, p.1312). Os falsos mestres são pessoas que,
normalmente, se deixam levar pela lascívia, pelo desregramento moral e
sexual, buscando os prazeres deste mundo, ainda que ostentem uma aparência
de piedade, servindo, apenas, de escândalo que prejudica a imagem do
Evangelho ante os gentios - II Tm.3:4-7; Jd.4,18,19; Mt.18:7; Ap.2:20-22.
OBS: "...Os crentes são constantemente assediados pelos valores distorcidos
deste mundo. Assim como as pessoas da época de Isaías, a nossa sociedade
também chama o mal de bem e o bem de mal. Mas não podemos permitir que essas
'virtudes' ímpias influenciem nossa maneira de viver...." (O Mestre,
Professor, Editora Vida, v.14, p.156)
c)              "...assim como o homem jamais saberá quem ele próprio é sem conhecer a causa explícita da razão de sua existência. Quando descobre, renuncia tudo que é fútil, material e, por conseqüência mortal, em favor do que é espiritual e,
por conseqüência, imortal." (Ailton Muniz de CARVALHO, Deus e a história
bíblica dos seis períodos da criação, 4. ed., p.26).
" Dissolução significa orgia sexual sem refreio. Judas condena aqueles que
ensinam que a salvação pela graça permite que crentes professos vivam na
prática de pecados graves sem sofrerem juízo divino. Talvez ensinassem que,
seja como for, Deus perdoará aqueles que continuamente entregam-se às
concupiscências carnais, ou, que os que agora vivem na imoralidade sexual
estão eternamente seguros se, no passado, eles creram em Cristo ( cf. Rm.
5:20; 6:1). Pregavam o perdão do pecado, mas não o imperativo da santidade."
(Bíblia de Estudo Pentecostal, nota a Jd.4, p.1975).
d)             avarentos - os falsos mestres têm amor ao dinheiro e trocam a glória
celeste e a vida eterna pelas riquezas desta vida, pelo vil metal. A igreja
passa a ser meio de lucro e de enriquecimento; as almas passam a ser
mercadorias. São os legítimos sucessores de Balaão, o "profeta mercenário" -
I Tm.6:5,10; Jd.11; At.8:18-24; 20:33,34; Jo.10:12,13; Ap.2:14
(lamentavelmente, já chegamos a observar certos "obreiros" que se gabam de
serem "bons obreiros" pelo fato de estar havendo maior contribuição
financeira nas igreja que dirigem e de haver medição de "competência"
exclusivamente sob este prisma. São, realmente, os últimos dias os que
estamos vivendo...)
OBS: "...Os falsos mestres comercializarão o evangelho, sendo peritos na
avareza e em conseguir dinheiro dos crentes, a fim de promover ainda mais
seus ministérios e seus modos luxuosos de vida. (1) Os crentes devem estar a
par de que um dos métodos principais dos falsos ministros é usar 'palavras
fingidas', ou seja, contar histórias impressionantes, mas inverídicas, ou
publicar estatísticas exageradas a fim de motivar o povo de Deus a
contribuir com dinheiro. Glorificam a si mesmos e promovem seu próprio
ministério com esses relatos inventados (cf. II Co.2:17). Deste modo, o
crente sincero, mas desinformado, torna-se um objeto de exploração; (2) Pelo
fato de esses obreiros profanarem a verdade de Deus e fraudarem o seu povo
com sua cobiça e engano estão destinados à perdição e à destruição." (
Bíblia de Estudo Pentecostal, nota a II Pe.2:3, p.1949-50)
"...Os falsos mestres abandonam o juízo correto e o senso espiritual, em
troca da 'obtenção' do erro de Balaão, tornando-se lisonjeadores, a fim de
obterem vantagens financeiras. Os falsos mestres se utilizam da 'religião'
para obterem vantagens pecuniárias. Aproveitam-se dos sentimentos religiosos
de outros a fim de promoverem seu próprio enriquecimento (...) É triste a
situação quando homens supostamente espirituais se tornam 'comerciantes', e
não profetas..." (R.N. CHAMPLIN, NTI, v.6., p.192).
"... existem: 1. O caminho de Balaão (II Pe.2:15); 2. O erro de Balaão
(Jd.11); 3. A doutrina de Balaão (Ap.2:14). C.I. Scofield diz acerca dessas
três coisas próprias de Balaão: ' o erro de Balaão era que, raciocinando
segundo a moralidade natural, e assim vendo erro em Israel, ele supôs que um
Deus justo teria de amaldiçoá-los. Era cego para com a moralidade superior
da cruz, mediante a qual Deus mantém e reforça a autoridade e as tremendas
sanções de sua lei, de tal modo que vem a ser o justo e o justificador do
pecador crente. A 'recompensa' de Judas poderia não ser dinheiro, mas
popularidade e aplauso. No tocante ao 'caminho de Balaão', diz o mesmo
autor: ' Balaão foi o típico profeta alugado, ansioso apenas por mercadejar
o seu dom. Este é o caminho de Balaão. E, no tocante à doutrina de Balaão,
diz Scofield: 'A doutrina de Balaão era o seu ensino a Balaque a corromper o
povo (israelita), p qual não podia ser maldito, tentando-os a se casarem com
mulheres moabitas, contaminando assim seu estado de separação e abandonando
o seu caráter de peregrinos. É tal união entre a igreja e o mundo que se
torna a falta de castidade espiritual. (Isto Scofield diz comentando Ap.
2:15)..." (R.N. CHAMPLIN, NTI, v.6, p.200).
" Na acirrada disputa por novos seguidores, muitas religiões, em sua atual
expressão em nosso país, estão deixando de ser fontes de valores éticos e se
transformando em pontos de ofertas de serviço de cunho mágico- místico(...)
Quanto maior a liberalização do mercado religioso, esse outro nome
sociológico da liberdade religiosa, tanto mais dinamizada fica a
concorrência entre as agências da salvação. Isso força as empresas de bens
religiosos a produzirem (depressa) resultados palpáveis, seja para os
clientes, seja para si mesmas. Para os clientes, os resultados buscados
devem aparecer no mínimo sob a forma de experiências religiosas
imediatamente satisfatórias _ o êxtase, o transe, o júbilo, o choro, o
alívio, enfim, a emoção_ ou terapeuticamente eficazes e, no máximo, sob a
forma de prosperidade econômica real; para as empresas religiosas (igrejas e
cultos), os resultados visados se põem em termos de crescimento e
faturamento da organização, expansão da clientela, fixação mercadológica de
suas marcas diferenciais e popularidade das lideranças- ícone..." (Antônio
Flávio PIERUCCI. Religião. www.uol.com.br/fsp/mais/fs3112200019.htm). Este
comentário de um especialista da sociologia das religiões de nosso país é
forte mas, lamentavelmente, retrata com fidelidade a realidade atual do
mundo religioso brasileiro...
e)              atrevidos, obstinados, blasfemos - Sob estes adjetivos, Pedro demonstra a
rebeldia dos falsos mestres em relação à sã doutrina. Para satisfazer seus
desejos desenfreados e sua avareza, os falsos mestres se rebelam contra a
Palavra de Deus, distorcendo-a para que sejam atingidos os seus interesses.
Não hesitam, portanto, em contrariar ou negar o que a Bíblia está a ensinar,
alterando deliberadamente a doutrina para que possam ganhar adeptos e
cumprir a sua finalidade. Apontam outro evangelho, outro Cristo, outra
salvação - Mt.24:26; II Tm.4:3,4; Gl.1:6-9; I Tm.6:3-5.
OBS: "...Quando o homem perde a sabedoria, é imediatamente dominado pela
vaidade, que é irracional. (...) Nesse momento de insanidade, o homem pode
destruir a si próprio e, sem que haja uma intervenção exterior, é certa a
sua destruição..." (Ailton Muniz de CARVALHO, Deus e a história bíblica dos
seis períodos da criação, 4. ed., p.171).
f)               agradáveis - Os falsos mestres, como têm de arrebanhar adeptos após si
para poderem enriquecer e satisfazer seus prazeres, buscam a popularidade a
qualquer custo. Têm, sempre, mensagens agradáveis e populares ao povo. Dizem
o que o povo quer ouvir, a fim de que possam explorá-lo a seu bel-prazer. -
Gl.1:10; Rm.8:8; 15:1-3.
OBS: "...Infelizmente, em nossos dias, muitos têm perdido o equilíbrio. Uns
por falta de conhecimento da Palavra de Deus, põem-se a ensinar costumes e
modos humanos, que nada tem a ver com a salvação ou santificação; são
doutrinas dos homens, que perecem com o tempo (Cl. 2:22). Outros preferem
ignorar totalmente qualquer ensino de santificação e consagração, preferindo
transformar suas igrejas em verdadeiras sociedades entre irmãos, mas
voltados para o lazer e a satisfação da carne. Tais "pastores" e "mestres"
são considerados biblicamente falsos, pois, ao invés de levarem o povo a
Cristo, procuram trazer as almas em torno de si mesmos, procurando
explorá-los e seduzi-los ao sectarismo religioso...." (Osmar José da SILVA.
Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.137)
"...Há ainda um fenômeno que começa a ser captado pelas pesquisas e está
chamando a atenção dos estudiosos do assunto no Brasil e no exterior. Boa
parte dos fiéis está olhando para a religião como se estivesse diante de uma
prateleira de supermercado. Empurrando seu carrinho, a pessoa escolhe os
itens que mais lhe agradam entre os oferecidos. (...) Nas pesquisas, esse
grupo dos sem religião definida é um dos que mais crescem no Brasil, ao lado
daquele dos pentecostais e do movimento de Renovação Carismática da Igreja
Católica..." ( Jaime KLINTOWITZ. Um povo que acredita, Veja, nº 1731, ano
34, nº 50, 19/12/2001, p.126). Não temos aqui o cumprimento de II Tm. 4:3,
que é o texto áureo desta lição ?
III - A MENSAGEM DOS FALSOS MESTRES
A mensagem é fingida, porquanto é resultado de uma hipocrisia, eis que,
aparentemente, é divina, mas esconde um propósito de prazer e enriquecimento
do falso mestre que, para tanto, dissimula e distorce a Bíblia. Aliás, assim
agiu o adversário ao tentar Jesus (cf. Mt.4:6,7).
OBS: " ...para eles, a salvação está no conhecimento ou 'gnose', que não tem
ligação nenhuma com a vida prática. O autor os compara a Balaão, apresentado
como modelo do profeta venal e corrupto: o que eles anunciam é uma falsa
liberdade, escravidão e degeneração..." (Bíblia Sagrada, Edição Pastoral,
nota a II Pe.2:1-22, p.1575).
"...Quando o mestre e a lição se harmonizam a ponto de ser difícil a
distinção entre ambos, então o aluno é impressionado pelo ensino e também
pelo mestre. É então que a veracidade do todo, de maneira um pouco
inconsciente porém muito positiva, penetra no seu ser(...) Esta harmonia
entre a vida e a mensagem (...)era tão evidente na Pessoa de Cristo..."
(D.V. HURST, E Ele concedeu uns para mestres, p.74)
A mensagem, via de regra, procura fugir do "cristocentrismo bíblico", ou
seja, procura desviar-se do âmago do Evangelho, que é a salvação do homem
por intermédio de Cristo Jesus e de Seu exemplo. A mensagem dos falsos
mestres sempre busca diminuir o valor do sacrifício vicário de Jesus para a
salvação do homem, bem como menospreza a santificação e a esperança da vinda
de Cristo. - Gl.1:9; Dt.13:1-5; Mt.24:24-26; I Jo.2:22; 4:1-3; 5:5; II Jo.7;II Pe.3:3-.
A mensagem busca, dentro desta hipocrisia, pouco a pouco desviar os fiéis
dos caminhos do Senhor, de forma sub-reptícia, paulatina e ardilosa - II
Pe.2:13, 18, 19 (primeiro, banqueteiam com os fiéis, depois os engodam,
prometendo-lhes liberdade). Não sejamos como Gedalias (Jr.40:13-41:3).
- A mensagem confunde liberdade com libertinagem, defendendo a prática do
pecado e menosprezando a santificação. É a velha prática do "não faz mal"
(cf. Ml.1:7,8). Não nos iludamos: a palavra do crente deve ser "sim, sim,
não, não", o mais é de procedência maligna (cf. Mt.5:37) e, sem a
santificação, ninguém verá o Senhor (cf. Hb.12:14) - Ap.22:11.
OBS: Neste sentido, apesar de ser o pensamento do atual líder da Igreja
Romana, por ser absolutamente coerente com o ensinamento bíblico, cabe aqui
reproduzi-lo (cfe. I Ts.5:21) : "...Criar o Reino de Deus quer dizer
colocar-se do lado de Cristo. Criar a unidade que ele deve constituir em nós
e entre nós que dizer precisamente: recolher (ajuntar!) com Ele. Eis o
programa fundamental do Reino de Deus , que Cristo na Sua pregação contrapõe
à atividade do espírito maligno em nós e entre nós. Essa atividade realiza o
seu programa em uma liberdade aparentemente ilimitada. Seduz o homem com uma liberdade que não lhe é própria. Seduz ambientes inteiros, sociedades,
gerações. Seduz para manifestar no final das contas que esta liberdade não é
outra coisa senão adaptar-se a uma múltipla pressão...Pode ele dizer
claramente a si mesmo que esta "liberdade ilimitada" se torna afinal uma
escravidão ?...Ser livre quer dizer produzir os frutos da verdade, agir na
verdade. Ser livre quer dizer também render-se à verdade, submeter-se à
verdade e não submeter a verdade a si mesmo, aos próprios caprichos, aos
próprios interesses e às próprias conjunturas..."( João Paulo II, Meditações
e orações, p.152-3).
"... Liberdade total o homem nunca teve. Entre todos os seres viventes é o
único ser que vive procurando resolver seu problema de aprisionamento, uma
vez que sempre esteve preso pelo seu egoísmo.(...) Entretanto, o homem não
tem conseguido libertar a si mesmo das agarras psíquicas e espirituais que o
aprisionam desde que aceitou a proposta do tentador, de ter conhecimento do
bem e do mal.(...) Toda a liberdade que foge dos padrões da ética universal
acaba por prejudicar o indivíduo. Portanto, exceder em liberdade pode levar
alguém ao desequilíbrio e conseqüentemente a prejuízos desastrosos.(...)
Tenhamos cuidado com a liberdade exagerada; esta poderá se tornar uma arma
psicológica contra a moral e os bons costumes...." (Osmar José da SILVA,
Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.2, p.52,570
A mensagem não tem consistência nem firmeza. Os falsos mestres são
comparados a fontes sem água, pois só Jesus é a fonte de água viva
(Jo.4:10,14), bem como com névoa levada pelo vento, que, embora embarace a
visão, notadamente durante a noite, aos primeiros raios do Sol da justiça(
Ml.4:2), é dissipada (Jo.3:18,19; I Jo.1:5,7).
IV - A MENSAGEM DOS FALSOS MESTRES DEVE SER COMBATIDA
- Para refutar a mensagem dos falsos mestres, é mister que o cristão sincero
e verdadeiro conheça a Palavra de Deus, nela meditando de dia e de noite
(Sl.1:1,2; Os.4:6); que pregue a Cristo e este, crucificado (I Co.2:1,2;
At.8:5; 9:20; 10:36-38); que se santifique até o dia da vinda do Senhor
(Ap.22:11; I Ts.5:23; Hb.12:14).
OBS: "...Seguem-se os passos para testar falsos mestres ou falsos profetas:
(1) discernir o caráter da pessoa. Ela tem uma vida de oração perseverante e
manifesta uma devoção sincera e pura de Deus ? Manifesta o fruto do Espírito
(Gl.5:22,23), ama os pecadores (Jo.3:16), detesta o mal e ama a justiça
(Hb.1:9) e fala contra o pecado (Mt.23; Lc.3:18-20) ?; (2) discernir os
motivos da pessoa. O líder cristão verdadeiro procurará fazer quatro coisas:
(a) honrar a Cristo (II Co.8:23; Fp.1:20); (b) conduzir a igreja à
santificação (At.26:18; I Co.6:18; II Co.6:16-18); (c) salvar os perdidos
( I Co.9:19-22); (d) proclamar e defender o evangelho de Cristo e dos seus
apóstolos (Fp.1:16; Jd.3); (3) observar os frutos da vida e da mensagem da
pessoa. Os frutos dos falsos pregadores comumente consistem em seguidores
que não obedecem a toda a Palavra de Deus (Mt.7:16); (4) discernir até que
ponto a pessoa se baseia nas Escrituras. Este é um ponto fundamental. Ela
crê e ensina que os escritos originais do Ate e do NT são plenamente
inspirados por Deus e que devemos observar todos os seus ensinos ( II
Jo.9-11) ? Caso contrário, podemos estar certos de que tal pessoa e sua
mensagem não provêm de Deus; (5) finalmente, verifique a integridade da
pessoa quanto ao dinheiro do Senhor. Ela recusa grandes somas para si mesma,
administra todos os assuntos financeiros com integridade e responsabilidade,
e procura realizar a obra de Deus conforme os padrões do NT para obreiros
cristãos ? ( I Tm.3:3; 6:9,10). Apesar de tudo que o crente fiel venha a
fazer para avaliar a vida e o trabalho de tais pessoas, não deixará de haver
falsos mestres nas igrejas, os quais, com a ajuda de Satanás, ocultam-se até
que Deus os desmascare e revele aquilo que realmente são. (Mt.10:26 -
referência nossa) ( Bíblia de Estudo Pentecostal, estudo Os Falsos Mestres,
p.1488-9).
" ...Vencemos a tentação de comprometer os valores bíblicos mediante um
estudo diário da Palavra de Deus. Quando sabemos quais são as virtudes do
Senhor, facilmente reconhecemos os valores pervertidos da época atual. Se o
estudo da Bíblia é indiferente para você, comece hoje mesmo a renovar sua
mente mediante a meditação da Palavra de Deus. O Espírito Santo também o
ajudará a reconhecer as 'virtudes' que se opõem a santidade de Deus. O
Espírito lhe dará a força necessária que voc6e precisa para rejeitar a
tentação de comprometer os valores bíblicos. Ele lhe dirigirá na verdade que
o Senhor lhe concedeu mediante Sua Palavra...." ( O Mestre, Professor,
Editora Vida, v.14, p.156).
V - O DESTINO DOS FALSOS MESTRES
-                  Os falsos mestres, embora aparentem ter sucesso e êxito, terão um trágico
fim em suas vidas - Mt.23:33; 25:51; Gl.6:7,8; Ml.4:14-18; Ap.18:5,6;
Rm.2:5.
- O mesmo fim está reservado para aqueles que os seguirem ou que consentirem
com seu trabalho - Rm.1:32; Hb.6:4-8.
OBS: "...A advertência dirigida a eles é severa. O autor quer, sobretudo,
advertir os fiéis a se manterem firmes numa fé comprometida, a fim de serem
preservados no dia do julgamento, como aconteceu com Noé e Ló." ( Bíblia
Sagrada, Edição Pastoral, nota a II Pe. 2:1-22, p.1575).
O texto da Epístola de Judas 4 traz alguma dificuldade quando afirma que
"já antes estavam escritos para este mesmo juízo", pois há quem procure ver
aqui a idéia de uma predestinação para a perdição destes falsos mestres. O
entendimento correto do texto, entretanto, é aquele segundo o qual os falsos
mestres se endurecem devido à sua própria perversidade, o que faz com que
Deus os deixe neste estado, o que os leva à perdição, cf. ensino de Paulo em
Rm.1:22-25. Não se deve, porém, deixar de perceber que, quem assim age, não
raro acaba cometendo o pecado imperdoável (cf. Hb.6:4-8; 10:26-31;
Mt.12:31,32).
ESCLARECIMENTOS COMPLEMENTARES SOBRE O TEXTO DO COMENTÁRIO DA LIÇÃO
-                  Marcião ou Márcion - Mestre cristão que, posteriormente, apostatou da fé,
passando a ser um dos principais ensinadores do gnosticismo. Foi excluído da
igreja em 144 d.C. Sua doutrina rejeitava o Antigo Testamento, dizendo-o
impróprio para os tempos e usos cristãos, dizia que Cristo somente
aparentemente teria vindo em carne e que o Deus do Novo Testamento era
distinto do Antigo. Aceitava apenas o apostolado de Paulo e dizia que a
Igreja havia se desvirtuado e que se fez necessário um "movimento
restaurador", que era a sua missão. Os marcionitas proliferaram em várias
partes do mundo de então e perduraram até por volta do século III no
Ocidente e no século IV no Oriente.
-                  Policarpo - Discípulo pessoal do apóstolo João, homem muito consagrado,
foi o 'principal pastor' da igreja de Esmirna. Ficou bem conhecida a
história de seu martírio, que é contada por Eusébio de Cesaréia em sua
História Eclesiástica (livro editado recentemente pela CPAD, p.134-40). De
todas as suas obras, apenas chegou a nós uma epístola que escreveu aos
filipenses, muito importante para os estudiosos da Bíblia pois é uma das
provas de que os textos das epístolas paulinas eram considerados inspirados
pela igreja primitiva.
-                  Teologia da prosperidade e da confissão positiva - falsos ensinamentos que
têm surgido no meio dos evangélicos, que ensinam que a salvação em Cristo
inclui uma vida não só de prosperidade espiritual, mas também de
prosperidade material, porquanto o perdão dos pecados não teria apenas um
aspecto negativo, ou seja, de libertação do pecado, mas um aspecto positivo,
o de concessão de poder ao servo de Deus, a chamada "fé de Deus". Segundo
estes falsos ensinos, o crente não pode sofrer nem adoecer e se isto
acontece é porque há falta de fé, em outras palavras, há pecado. Igualmente,
tratam a Deus como um verdadeiro empregado e serviçal pronto a satisfazer os
caprichos dos crentes. Trata-se de um ensino totalmente divorciado da
realidade da Palavra de Deus e que tem servido única e exclusivamente para a
"mercadorização" da fé.

APRENDENDO COM JABES

  APRENDENDO COM JABES O m enino  p rodígio da  g enealogia!   Alguém já disse certa vez que existe muito pouca diferença entre as pessoas –...