sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

APRENDENDO COM ASAFE

 

ASAFE - Uma Exposição do Salmo 73

 

Nos últimos anos, mais do que em qualquer outro tempo, as pessoas tem vivido difíceis momentos econômicos e sociais. Esses problemas atingem todos os homens em todos os contextos da vida. Isso inclui também o povo de Deus. Em nossas Igrejas há muitos desempregados e não poucos os que vivem de um salário irrisório e humilhante.

Diante de tudo isso, como é natural, algumas questões têm vindo à mente de muitos crentes: Por que eu sou servo de Deus e passo por esse tipo de problemas? Por que Deus não estabelece uma níti­da distinção entre o seu povo e os incrédulos tam­bém nessa crise econômica? e ainda: Por que há homens maus e irreverentes que estão vivendo bem, financeiramente, mesmo em meio à essa crise, en­quanto há tantos crentes sofrendo?

Na realidade essas questões não são novas e tam­bém não são peculiares apenas a esses nossos dias tumultuados e repletos de insegurança. 

Asafe foi um dos principais cantores de Israel. É muito provável que ele tenha até mesmo fundado uma escola particular de composição de salmos. Sua idade devia oscilar entre os 60 e os 70 anos quando escreveu o Salmo 73 e, por isso, as expe­riências que ele narra nessa texto, em linguagem teológica filosófica e poética, se revestem de pro­funda significação; elas são a aglutinação de uma profunda experiência humana como a irretorquível inspiração do Espírito Santo retratando os fatos da alma.

"Com efeito Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo. Quanto a mim, po­rém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos. Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos. Para eles não há preocupações, o seu corpo é sadio e nédio. Não partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros homens. Daí a soberba que os cinge co­mo um colar, e a violência que os envolve como manto. Os olhos saltam-lhes da gordura; do co­ração brotam-lhes fantasias. Motejam e falam maliciosamente; da opressão falam com altivez. Contra os céus desandam a boca, e a sua língua percorre a terra. Por isso o seu povo se volta para eles, e os tem por fonte de que bebe a lar­gos sorvos. E diz: Como sabe Deus? Acaso há conhecimento no Altíssimo? Eis que são estes os ímpios; e sempre tranqüilos aumentam suas riquezas.

Com efeito, inutilmente conservei puro o cora­ção e lavei as mãos na inocência. Pois de con­tínuo sou afligido, e cada manhã castigado. Se eu pensara em falar tais palavras, já aí teria traído a geração de teus filhos.

Em só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles. Tu certamente os pões em lugares escorregadios, e os fazes cair na destruição. Como ficam de súbito assolados totalmente aniquilados de terror] Como ao sonho, quando se acorda, as­sim, ó Senhor, ao despertares, desprezarás a ima­gem deles.

Quando o coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e ig­norante; era como um irracional à tua presen­ça. Todavia, estou sempre contigo, tu me se­guras pela minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho, e depois me recebes na glória.

Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraz a na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfalecem. Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre. Os que se afastam de ti, eis que perecem; tu destróis todos os que são infiéis para contigo.

Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no Se­nhor Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos.

Imagine-se com 60 anos e, de repente, perdendo a fé. Se, um dia, você, depois de séria e profunda reflexão, chegasse à conclusão de que toda a sua vida até àquele momento poderia nada mais ter si­do do que um terrível desperdício. Pois bem, foi exatamente assim que Asafe se sentiu. Durante toda a sua vida ele crera na bondade de Deus para com o seu povo, e especialmente, para com os homens de coração puro: "Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo," (v.1).

Subitamente, ele começa a colocar em dúvida essa bon­dade de Deus. Apesar de ter crido na justiça e mise­ricórdia do Senhor durante toda a existência, hou­ve um dia no qual pressentiu estar pisando o limiar da apostasia. "Quanto a mim, porém, quase me res­valaram os pés" (v.2).

Asafe percebeu que seus pensamentos o estavam guiando a um caminho escorregadio. Na realidade, ele descobriu que faltou muito pouco para que abandonasse a fé. A lição que daí obtemos é a de que os homens mais firmes e ortodoxos desse mun­do podem passar por terríveis momentos de con­flito filosófico e teológico. Por inferência, o salmista nos ensina ainda mais duas coisas: a primeira delas é não nos desesperarmos quando, porventura, virmo-nos assolados por esse tipo de sentimento em relação à justiça e à bondade de Deus no mundo presente. A outra é que devemos ser mais amorosos e compreensivos com aqueles que, ao nosso lado, encontram-se na dúvida.

No verso 3, Asafe nos dá a razão da sua "quase queda": "Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos."

Sempre que um crente começa a cobiçar o estilo de vida nababesco de homens sem absolutos morais e espirituais, ele acaba na mesma situação conflituosa de Asafe e a pergunta que, normalmente, de­sencadeia tal processo de perturbação filosófica é a seguinte: Por que aquele homem prospera apesar da sua maldade? ou: Por que Deus não distribui as coi­sas equanimente manifestando assim a sua jus­tiça no tempo presente?

Vejamos quais os elementos específicos que mo­tivaram tal perturbação em Asafe. Um deles é o perfeito estado de saúde dos homens maus. "Para eles não há preocupações, seu corpo é sadio e nédio" (v.4). 

Se fosse no século XX, as questões de Asafe provavelmente se desenvolveriam da seguinte maneira: "Por que alguns conhecidos play-boys go­zam de perfeita saúde durante toda a vida ao passo que muitos homens de Deus estão morrendo de câncer no auge do ministério sagrado?" 

Por outro lado, o salmista concluiu que os maus ganhavam a vida apenas na base do emprego sem necessidade real de trabalho: "Não partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros homens" (v.5). 

A mesma pergunta poderia ser colocada a partir de várias situações diferentes. Talvez alguém dentro de um ônibus superlotado que vê o magnata explorador passar no seu "mercedão". É o proletário crente que tem de ir para o trabalho no sufoco de um trem da Central do Brasil, ou ainda um operário do ABC paulista, ou em qualquer outro lugar onde haja homens de Deus que não usam black-tie. Diante do confronto, surge a possibilidade de se levantara questão.

Asafe se atordoou ainda com a constatação de que a vida dos perversos é normalmente um suces­so. Não têm duplicatas vencidas, nem filhos com fome. Nenhum aperto financeiro lhes impossibili­ta a gozo das férias: "Não são afligidos como os outros homens" (v.5b). Aliás, além de serem eco­nomicamente tranqüilos, eles nem mesmo precisam lutar para ganhar dinheiro pois "sempre tranqüilos, aumentam suas riquezas" (v.12).

Esta comparação levou o velho Asafe a discernir algumas conseqüências deformadoras do caráter que essas facilidades provocam no espírito dos ho­mens distantes de Deus. Não foi difícil verificar a sua soberba: "Daí a soberba que os cinge como um colar" (v.6a). Aí está uma redundância: a vaidade de ser soberbo ou a soberba de ser soberbo. É sempre assim. A soberba gera soberba. Por isso, Asafe concluiu que os homens sem Deus exi­bem a sua soberba "como um colar". Quando o homem não tem o temor de Deus no coração, dá status ser soberbo e falar de grandes realizações com a boca cheia de arrogância. Somente quando o temor de Deus está no coração é que a soberba não é o sentimento natural de uma pessoa "bem-sucedida."

Outra característica que observamos nos homens maus e, ao mesmo tempo prósperos, é a violência: "A violência os envolve como manto (v.6b). Esta­mos outra vez diante de um processo: a violência. É por isso que o primeiro passo agressivo tende a ser acompanhado por uma interminável seqüência. 0 violento se veste de violência, ou seja, a violência é o seu "manto", a sua proteção.

A glutonaria também faz parte do caráter de tais pessoas. "Os olhos saltam-lhes da gordura" (v.7). O texto, evidentemente, não está dizendo que uma pessoa gorda não é de Deus mas faz uma associação entre os ideais dos maus e a comida. Tudo quanto são e planejam começa ou, pelo me­nos, acaba numa mesa farta. Nesses encontros, a comida, além de ser assunto das conversas, ocupa boa parte do tempo. Seu modelo de vida sempre vai do prato à boca. Sua filosofia não passa de "comamos e bebemos porque amanhã morrere­mos."

Mas há ainda uma quarta característica que poderíamos chamar de fantasia. "Do coração brotam-lhes fantasias" (v.7b) Esses homens sem Deus, nor­malmente, têm tudo quanto desejam e, por isso in­ventam novas formas de pecar. São os ricos distan­tes de Deus que criam as "novas fantasias" do pe­cado. Todas as perversões começam nos palácios e mansões. As favelas se limitam a importar esses "novos modelos".

O verso 8 diz: "Motejam e falam maliciosamen­te". A malícia no falar tão comum nas rodas dos arrogantes e escarnecedores também marca o cará­ter deles. Há sempre um toque de maldade no que dizem e a dubiedade faz parte do seu linguajar. A palavra motejar significa escarnecer, criticar, censu­rar e lançar em rosto. Pois bem, essa também, muitas vezes é uma característica de um homem sem abso­lutos que se torna "bem-sucedido".

Tais homens ainda se alegram e se distraem com a maneira rude e opressora como tratam os outros. "Da opressão falam com altivez" (v.8).

A essa altura da descrição do empresário sem cri­térios morais, ou do comerciante ambicioso, ou do "gatão" filhinho de papai, sua mente já deve ter sintonizado muitas imagens perfeitamente compa­tíveis com a descrição dos caracteres acima. 

E o surpreendente é percebermos que, em muitas oca­siões, já nos vimos invejando a posição dessas pes­soas. Ao falar em inveja, acho justo esclarecer o berço no qual ela nasce: a inveja é sempre uma ma­nifestação de admiração que se dissimulou. Se ela existe no coração do homem, antes de ter-se dege­nerado no sentimento mesquinho que a caracteri­za, houve uma admiração que ameaçou sua segu­rança e, daí, surgiu a inveja.

Mas a irreverência também faz parte do caráter deles. O verso 9 diz: "Contra os céus desandam a boca". Quando vejo as brincadeiras e piadas que alguns comediantes ricos e artistas famosos fazem com o nome de Deus, só posso pensar que eles se contam entre esses aos quais Asafe se referiu e dos quais invejou a prosperidade.

E, por fim, descubro ainda neste salmo uma re­ferência ao gosto pela difamação. "A sua língua percorre a terra" (v.9b). Eles assentam-se para falar dos seus casos amorosos ou das situações de humi­lhação e vexame na qual deixaram a mulher do pró­ximo. Em certas rodadas de cerveja, mais vitoriosos dos que os bem-sucedidos nos negócios são os con­quistadores de secretárias de empresas e agências de publicidade, por exemplo.

Em razão de todo este luxo e prosperidade, o povo simples das ruas deduz que Deus não está preocupado com as particularidades da vida moral dos homens, já que permite o sucesso dos arrogan­tes. O nome filosófico que se dá a este tipo de ra­ciocínio é deísmo. "Por isso o seu povo se volta para eles, e os tem por fonte de que bebe a largos sorvos. E diz: Como sabe Deus? Acaso há conheci­mento no Altíssimo?" (v. 10-11).

Asafe declara que a filosofia dos ímpios estava sendo absorvida como um copo d'água por um ho­mem sedento. Aliás, é isso que diz Jó 15:16: "O homem ... bebe a iniqüidade como água".

Ao acreditar, por um momento, que Deus não se preocupa com a vida moral dos homens, Asafe lamentou o tempo que tinha perdido, pois sua vida tinha sido pura, digna e honesta até aquele dia. Pensou que todo o "esforço" tinha sido em vão. Observemos o verso 13: "Com efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocên­cia."

Sua luta em conservar puro o coração implicava em não pensar no pecado que o atraia, em evitar olhar com cobiça para objetos sexuais cobiçáveis e fazer tudo para não sentir prazer e gosto pela idéia do pecado. Infelizmente, pensava Asafe, tudo tinha sido inútil, pois Deus não estava preocupado com esse tipo de abstenção, já que aqueles que praticam o mal não são impedidos por Deus de prosperar.

As boas ações de Asafe, sempre que ele "lavara as mãos na inocência", também não se revestiam de nenhum significado, do ponto de vista de Deus, de acordo com a "teologia" que os fatos demonstra­vam ao desolado salmista. Suas tentativas para ser justo, imparcial e criterioso perderam toda razão de ser, pois Deus não estaria atento a essas minúcias comportamentais dos homens. E, no verso 14, o salmista dá aparentes justificativas para suas con­clusões até àquele momento: "Pois de contínuo sou afligido e cada manhã castigado."

Faltava à mente do salmista a teologia do sofri­mento diante da qual o Novo Testamento nos co­loca em muitos textos. Vejamos um exemplo disso em II Coríntios 4:8,9, 10 e 16 a 18.

"Em tudo somos atribulados, porém, não angus­tiados; perplexos, porém não desanimados; perse­guidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo.

Por isso não desanimamos: pelo contrário, mes­mo que o nosso homem exterior se corrompa, con­tudo o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais e as que se não vêem são eternas."

Asafe não conhecia Romanos 8:18, texto que também nos traz alentadora promessa: "Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a gló­ria por vir a ser revelada em nós".

Tiago também nos ensina uma sucessão maravi­lhosa de virtudes que o sofrimento produz:

 (Tiago 1:2 a 4) "Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes."

 Finalmente acho bom darmos a palavra ao após­tolo Pedro para que nos diga algo sobre o assunto:

 "Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão ou malfeitor, ou como quem se introme­te em negócio de outrem; mas, se sofrer como cris­tão, não se envergonhem disso, antes glorifique a Deus com esse nome." (I Pedro 4:15,16).

 Essa teologia, no entanto, não estava muito nítida na mente do salmista. Na realidade são pouquís­simas as pessoas que pensam assim. Especialmente neste tempo de tanta propaganda de uma espécie de "hedonismo evangélico" com toda a massificante literatura do "cristianismo da prosperidade", em cujo ensino não há lugar para sofrimento e para a pobreza material, conforme Paulo nos ensina ser possível na vida cristã:

 "De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem cousa algu­ma podemos levar dele; tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé, e a si mesmo se atormentaram com muitas dores. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão." (I Tm 6:6, 11).

 Além da ausência da teologia do sofrimento, Asafe também não estava ciente da bênção que a disciplina de Deus produz no homem quando o "castiga". Hebreus 12:11 diz:

 "Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, pro­duz fruto pacífico aos que têm sido por ela exerci­tados, frutos de justiça."

 A despeito de todas as suas dúvidas e conflitos, Asafe permaneceu calado. Não tinha ninguém com quem desabafar suas angústias e perplexidades. Re­ceava ser julgado como cético e apóstata e tenta es­candalizar os mais simples e ingênuos irmãos da congregação que nunca tinham tido aquele tipo de questionamento: "Se eu pensava em falar tais pala­vras, já aí teria traído a geração dos teus filhos" (v. 15-16).

Há muita gente vivendo o drama de Asafe. Nos­sas igrejas estão cheias de pessoas conflitadas e, lite­ralmente, suando frio as suas dúvidas teológicas. Não são poucos os que temem trair o povo que acha que vale a pena viver da maneira pura e justa dizendo-lhe que Deus não se preocupa com o com­portamento moral dos homens. Basicamente, todos os teologicamente liberais que não se manifestam publicamente vivem o medo de Asafe, o temor de trair o povo de Deus, por isso é que continuam ca­lados sobre o seu liberalismo filosófico baseado na inocuidade de atos morais como, por exemplo, a castidade.

Como esses, pode ser que alguém que esteja len­do este opúsculo se encontre na mesma situação: não acredita que Deus dê atenção a coisas como pureza, moral, etc..., entretanto, mantém-se calado para não escandalizar ninguém ou apenas pela ques­tão meramente romântica de viver no sério padrão que norteou durante muito tempo a sociedade.

Asafe estava preso à fé por "um fio". Todavia, não deixou de freqüentar o templo. E foi numa das suas idas ao santuário de Deus que o seu ponto de vista sobre a prosperidade dos maus mudou completamente. Observe atentamente os versos 16 e 17: "Em só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim: até que entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles."

Realmente, há certos questionamentos na vida que são imensamente maiores do que a capacidade humana de carregá-los durante toda a existência, e muitos são completamente esmagados pelo conflito existencial que se trava em suas almas. Pensar nas questões da existência é "tarefa pesada" para um homem em dúvidas.

Houve, porém, um dia quando a carga filosófica de Asafe foi retirada. Naquela manhã, ao se dirigir para o Templo, não poderia imaginar que Deus o visitaria dando-lhe um profundo espírito de discer­nimento. A palavra mais significativa do verso 17 é "atinei". Está ligada à percepção, à capacidade de vislumbre da existência e de suas verdadeiras leis e caminhos.

Vejamos o que Asafe discerniu quando foi medi­tar no Templo:

Primeiramente entendeu que Deus é soberano, e que coloca soberbos no caminho da queda e da des­truição repentinas: "Tu certamente os pões em lugares escorregadios, e os fazes cair na destruição. Como ficam de súbito assolados! Totalmente ani­quilados de terror!" (v. 18-19). A vereda de um ho­mem sem Deus é lodocenta e escorregadia. Seus negócios, fama e glória estão construídos sobre bases "lisas". Seus pés podem desusar a qualquer momento.

Ah! se pudéssemos participar dos últimos mo­mentos de uma pessoa que viveu longe de Deus e que "usufruiu" dos prazeres e das facilidades do pecado durante toda a sua vida! A morte lhes vem como um laço. Podemos mesmo chegar em casa e avisar: "Eu não estou para ninguém. Nem para Deus". E morrer em seguida. Repentinamente. É drástico imaginar, mas pense no fim dessa pessoa. A morte chegou de súbito. Ela sente que está mor­rendo... escorregando da estrada da vida para o desfiladeiro da morte. É o fim. Resta-lhe somente o terror.

Em segundo lugar, Asafe captou a idéia de que a vida do soberbo é tão desprezível e irreal diante de Deus quanto um sonho para quem acaba de acor­dar e diz: "Foi somente um sonho". "Como ao sonho, quando se acorda, assim, ó Senhor, ao des­pertar, desprezarás a imagem deles" (v. 20).

"Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente os males, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormento" (Lc 16:25).

 Uma das mais inteligentes e fortes mentiras do diabo é fazer-nos pensar que não haverá nenhuma empolgação e alegria num mundo sem competições como o céu. E que, quando nos chamarem ao pó­dio para recebermos as honras de vencedores, ne­nhuma emoção sentiremos. 

O inimigo sempre tenciona fazer-nos crer que será o evento mais frio e pouco emocionante que se pode imaginar. Algo como promoção em mosteiro. E assim, consegue nos estimular à intensidade de uma conquista tem­poral, ainda que, do ponto de vista de Deus, tal "realidade" não passe de um sonho; algo que de­pois de ser vivido por nós será lembrado por Deus como uma "imagem de ser desprezada". Como a memória de seres e entidades que não existem no Seu verdadeiro mundo.

Asafe entendeu ainda que as conclusões a que chegou sobre a prosperidade dos maus não passa­vam de raciocínios resultantes de uma atitude de amargura, pois o azedume espiritual embota os sentidos e a percepção da alma: "Quando o cora­ção se me amargou e as entranhas se me comove­ram eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença" (v. 21-22).

Há três palavras nesses versículos que bem expli­cam a confusão de Asafe: embrutecido, ignorante e irracional.

Quando o homem fica amargurado de inveja, seu espírito perde a sensibilidade e, por isso, pode con­duzi-lo a conclusões falsas. Por outro lado, a igno­rância é a total ausência de conhecimento do cami­nho e da vontade de Deus. A amargura promovida pela inveja pode apagar todos os princípios de sabe­doria e de discernimento amealhados durante anos. Assim, é possível o homem se tornar ignorante da vontade de Deus. E, finalmente, a palavra irracional que, no hebraico é behemoth, equivale a ficar "sem comunhão com Deus como um animal".

São trágicas as conseqüências imediatas de se sentir inveja dos maus mas, graças a Deus, Asafe discerniu isso a tempo e entendeu que a maior in­tervenção de Deus em sua vida esteve no fato de que, apesar de todas as suas dúvidas e conflitos, o Senhor o segurou no caminho dos justos: "Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita" (v.23).

Na realidade, nenhuma intervenção de Deus po­de ser mais forte e significativa do que manter no caminho um crente divergente, duvidoso e revol­tado. É sutilmente majestosa a ação de Deus que faz permanecer na fé um homem totalmente em dúvida sobre a verdade de seus pressupostos.

Asafe compreendeu também que a verdadeira riqueza e prosperidade não é a dos soberbos, mas daqueles que têm a Deus como sua herança: "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a mi­nha carne e o meu coração desfalecem, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre" (v. 25-26). 

Estes versos nos apresentam três maravilhosas perspectivas através das quais Deus deve ser visto. Uma delas é que "Deus é úni­co no céu" (v. 25). Só os que podem concentrar toda a fé no Senhor é que são verdadeiramente feli­zes. A vida eterna consiste nisso: "em conhecer ao Pai como o único Deus e a Jesus Cristo como seu enviado" (João 17:3). A ênfase deste texto recai sobre a palavra "conhecer" que, no original, equivale a "conhecimento profundo ou experimental". Trata-se não apenas de um monoteísmo teórico mas de uma profunda experiência com o Único do céu.

A segunda perspectiva que o verso 25 nos indica é a seguinte: Deus deve ser o nosso maior prazer na vida. Ele é Aquele em quem eu devo ter minha mais intensa satisfação. Quem tem este sentimento em relação a Deus não olhará para os bens mate­riais como a recompensa do viver. E, por fim, o verso 26 declara que Deus é a nossa herança perpé­tua. Quem tomou posse de Deus como sua riqueza é que é o homem verdadeiramente próspero na vida.

Finalmente, foi meditando no Templo que Asafe entendeu que a infidelidade provoca afastamento de Deus e sofrerá a penalidade da destruição eter­na: "Os que se afastam de ti, eis que perecem: tu destrói todos os que são infiéis para contigo" (v. 27). Bom é que todos saibamos que Deus é paciente e misericordioso com todos os que estão na dúvida, mas que não justificará a infidelidade da­queles que, tendo estado no conflito, optaram pelo caminho dos maus e soberanos.

Diante de tudo isso, Asafe resolveu assumir posi­ções bem definidas. A primeira delas foi a de estar junto de Deus com prosperidade ou não: "Quanto ao mais, bom é estar junto a Deus" (v. 28a). E; a se­gunda, a de refugiar-se em Deus sempre que fosse assolado por qualquer dúvida: "No Senhor Deus ponho o meu refúgio" (v. 28b).

A grande finalidade da pureza e da santidade dos crentes é não nos deixarmos levar pelo pecado e pelo espírito competitivo que os soberbos e maus, às vezes, infundem em nós, e é sermos para o lou­vor da glória de Deus, "proclamando todos os seus feitos" (v.28c).

Consideremos que o maior "feito de Deus" é manter-nos de pé e salvos. Na realidade, nossa sal­vação é uma das coisas "impossíveis para os ho­mens e possíveis para Deus". (Mc 10:23 a 31). Tre­mendamente mais significativo do que uma ação de juízo de Deus esmagando os maus é aquela que me mantém de pé.

Sim, eu me refugiarei em Deus, para que eu mes­mo seja a mais veemente pregação de que ele é real e intervém na vida dos homens. Apesar de mim, Deus me tem feito permanecer em pé, sem deslizes ou quedas. Glória ao seu nome.

Caso você tenha lido essa mensagem tendo na alma a dor e angústia de Asafe, abra o coração e a mente para as singelas verdades por ele discernidas. Se você fizer isso, certamente o Espírito Santo lhe trará sabedoria e discernimento para compreender qual é o ponto de vista de Deus sobre questões se­melhantes as de Asafe e que estão perturbando a sua vida.

Para isso, ouça a voz de Jesus quando diz:

 "Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e ferrugem corroem e onde la­drões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros, tesouros no céu, onde a traça nem ferru­gem corroem, e onde ladrões não escavam e nem roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

 Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.

Por isso vos digo: Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer e beber; nem pelo vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais que o alimento, e o corpo mais que as vestes?

Portanto, não vos inquieteis dizendo: que come­remos? que beberemos? ou: com que nos vestire­mos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuida­dos; basta ao dia o seu próprio mal."

(Mt 6:19-21,24,25,31-34).

 Se você é um "cristão bem sucedido", saiba o que a Palavra de Deus diz sobre a sua prosperidade material:

 "Exorto aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem as suas espe­ranças na instabilidade da riqueza, mas em Deus que em tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento, que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir, que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida." (I Timóteo 6:17 a 19).

 Concluindo digo aos "Asafes contemporâneos" o seguinte: a grande manifestação de Deus no tem­po presente não é enriquecer o crente ou empobre­cer o descrente, mas é conservar no caminho que conduz ao verdadeiro e incorruptível tesouro pes­soas tão frágeis como eu e você.

Que Deus nos ajude a não ambicionarmos a prosperidade dos maus, substituindo tal perspectiva pelo saudável desejo de sermos fiéis a Deus no tem­po presente a fim de recebermos no céu a coroa da vida. Deus o abençoe!

 Caio Fábio D'Araújo Filho

APRENDENDO COM TIAGO

 

Tiago e Paulo sobre a justificação

 

Através da história da Igreja houve dois pontos de vista opostos quanto ao modo em que os pecadores são justificados, isto é, como são feitos justos diante de Deus e, portanto, declarados aceitos por Ele.    

         Um dos pontos de vista ensina que a justificação é pela fé somente, sem as obras da lei. Os pecadores são declarados justos e, portanto, justificados, somente em relação com a justiça de Cristo, a qual lhes é imputada no momento em que crêem nele. A salvação é pela graça, mediante a fé, e em nenhum sentido pode ser o resultado ou depender das boas obras do pecador. Os atos de obediência pessoais não garantem, nem acrescentam nada à justificação, pois esta se baseia unicamente na justiça que Deus outorga livremente a todo aquele que crê.

         O outro ponto de vista ensina que os pecadores, para serem justificados, devem fazer algo mais do que crer em Cristo, devem prestar obediência pessoal a lei de Deus. Assim, é declarado que a justificação é pela fé mais as obras. O pecador se faz aceito por Deus sobre a base de que o que ele crê equivale ao que ele faz, e não sobre a única base do que Cristo fez em seu favor. Unicamente pode beneficiar-se da obra salvadora de Cristo crendo no Evangelho e obedecendo a lei de Cristo. Um sem o outro não vale para fazer o pecador aceito por Deus. Deus requer ambas as coisas, fé e obra, daquele a quem justifica.

         Os advogados destas duas escolas de pensamento apelam para as Escrituras para sustentar os seus pontos de vista. Os primeiros fazem suas as palavras de Paulo, em Rm 3:28, como exposição de sua opinião: “concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.” Os segundos citam as palavras de Tiago como prova de sua doutrina da justificação pela fé mais as obras: “verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tg 2:24). À primeira vista estas duas declarações parecem ser contraditórias. Devemos dar razão a Tiago e rejeitar Paulo, ou o inverso? Ou podem ser reconciliadas ambas as declarações?

         O propósito deste apêndice é mostrar que este conflito é apenas aparente e não real. Quando os dois versículos (Rm 3:28 e Tg 2:24) são lidos em seu próprio significado, de fato, apresentam-se como complemento um do outro, em lugar de contradizer-se. Ambas as declarações são corretas quando compreendidas no sentido em que os seus autores desejaram que fossem entendidas. O pecador é justificado pela fé, sem as obras da lei, como Paulo afirma e, todavia, o pecador salvo é justificado pelas obras, e não pela fé somente, como disse Tiago. Para compreendermos como isto pode ser possível, devemos examinar os dois versículos em seu contexto.

         O propósito de Paulo em Rm 3:9-5:21 é mostrar que o pecador culpado, que não possui justiça própria, todavia, pode obtê-la por meio da fé em Jesus Cristo. No momento em que o pecador crê, lhe é outorgado a justiça de Cristo, e conseqüentemente, é declarado justo (é justificado) por Deus. A base da justificação do pecador diante de Deus é a justiça de Cristo que lhe é imputada, e o meio pelo qual esta justiça é recebida, é a fé somente. O ponto que Paulo deseja estabelecer é que os pecadores são aceitos por Deus, pela fé em Cristo, aparte de todo mérito pessoal. As obras do homem não têm nada a ver com a sua justificação diante de Deus. É neste contexto que o apóstolo declara: “concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3:28).

         O objetivo de Tiago é completamente diferente. O propósito de sua carta é mostrar como deve viver o cristão diante dos homens. Deve ser praticante da Palavra, e não apenas ouvinte, para que não engane a si mesmo (1:22-25). Este é o tema que é enfatizado no decorrer de toda a epístola. Em 2:14-26, Tiago demonstra que a fé que não produz obras é morta e não pode salvar. Ninguém pode pretender que tem fé se ela não pode ser provada com evidências. Em 2:14 pergunta: “de que aproveitará se alguém disser que tem fé, e não tem obras? Poderá semelhante fé salva-lo?” A resposta, naturalmente, é não! Observe a afirmação que Tiago faz em 2:18: “mostra-me a tua fé sem obras, e eu te mostrarei a minha fé por meio das minhas obras”. Ele deseja que os seus leitores vejam que uma fé não pode ser justificada (provar a sua genuinidade por seus frutos) ante os homens, é falsa, não podendo ser real; é uma mera profissão sem valor algum. É neste contexto que a declaração de Tiago se refere à necessidade das obras em relação à justificação. “Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (2:24). Está falando de um Cristianismo justificado diante dos homens por meio de suas obras, enquanto Paulo em Rm 3:28 se refere ao pecador que é justificado diante de Deus aparte de suas obras. Calvino expressou ambas as idéias quando escreveu: “é a fé somente que justifica, mas a fé que justifica nunca pode vir só.” Paulo se ocupa com a primeira destas duas idéias em Rm 3:28, enquanto Tiago da segunda, em 2:24, mas uma não contradiz a outra.

         J.I. Packer acerca dos vários usos bíblicos da palavra “justificar” disse que “em Tiago 2:21, 24-25 faz referência a prova da aceitação do homem por parte de Deus, a qual é outorgada quando as suas ações mostram que leva a classe de vida que resulta da fé que opera, a qual Deus imputa justiça.”

         “A declaração de Tiago de que o cristão, que semelhante a Abraão, que foi justificado pelas obras (vs. 24), não é contrária a insistência de Paulo de que o cristão, e que semelhante a Abraão, é justificado pela fé (Rm 3:28; 4:1-5), mas que se complementa. O mesmo Tiago cita Gênesis 15:6 exatamente com o mesmo propósito que o faz Paulo: mostrar que foi a fé que fez Abraão justo (vs. 23; cf. Rm 4:3ss., e Gl 3:6ss.). A justificação que concerne a Tiago não é a aceitação original ou primária do crente por parte de Deus, mas a subseqüente reivindicação de sua profissão de fé por seu modo de viver. Assim pois, não é em conceito, mas na conclusão que Tiago difere de Paulo.”

 

David N. Steele & Curtis C. Thomas

 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

APRENDENDO COM JESUS

 JESUS CRISTO É DEUS

Esse Jesus, que veio ao mundo numa estrebaria, que passou pelo processo de se tornar humano ao nascer assim como nós, que cresceu como menino normal física, emocional e espiritualmente, que amadureceu e começou a envelhecer como qualquer pessoa, esse Jesus é Javé desde a eternidade e existe desde sempre. “Eu sou o que sou.” A Epístola aos Hebreus diz a Seu respeito: “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hb 13.8).
Por que Jesus teve de se tornar homem? Porque Deus não pode morrer! Mas Deus queria morrer pelos pecados dos homens, de modo que tinha de se tornar homem e por isso veio ao mundo através de Jesus Cristo.
Lemos sobre esse ato sublime de Deus se tornando homem: “pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.6-8).
No grego, a expressão “subsistindo em forma de Deus” define uma forma, uma maneira de ser quando vista objetivamente por um espectador neutro, a forma como ela é em si mesma. Jesus é Deus e existe desde a eternidade como o próprio Deus.
Nascemos como seres humanos e desejamos entrar na vida eterna. Jesus veio da vida eterna e tornou-se homem para morrer. No jardim Getsêmani, quando Jesus se revelou como o “Eu Sou” e todos os seus inimigos recuaram e caíram por terra, Ele ordenou: “se é a mim, pois, que buscais, deixai ir estes (Seus discípulos)” (Jo 18.8). E então entregou-se voluntariamente para morrer.
Por Jesus ser Aquele que é, Deus “o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra” (Fp 2.9-10). É por isso que “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.12).
Jesus é o verdadeiro e único sarador e Salvador. Ele controla qualquer situação com que possamos nos defrontar. Jesus disse com toda a autoridade: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). Por essa razão aplicam-se a Ele as palavras de Isaías 43.11: “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador.
Transcrito Por Litrazini

APRENDENDO COM PAULO (PARTE 52)


 

PAULO - O LÍDER CRISTÃO

A segunda prisão em Roma e o martírio
A primeira prisão de Paulo foi por motivação religiosa; a segunda, por motivos políticos.
A primeira prisão estava ligada à perseguição judaica; a segunda, vinculada ao decreto do imperador.
Da primeira prisão, Paulo saiu para dar continuidade à obra missionária; da segunda prisão, para o martírio.
No ano 49 d.C., o imperador Cláudio expulsou de Roma todos os judeus (At 18.2). Muitos deles, a essa altura, já eram cristãos.
Mas no ano 64 d.C. houve um terrível incêndio em Roma, e o imperador Nero pôs a culpa dessa tragédia nos judeus e cristãos.
Nero chegou ao poder em outubro do ano 54. Insano, pervertido e mau, era filho de Agripina, mulher promíscua e perversa.
Na noite de 18 de julho de 64, um incêndio catastrófico estourou em Roma. O fogo durou seis dias e sete noites.
Dez dos quatorze bairros da cidade foram destruídos pelas chamas vorazes.
Segundo alguns historiadores, o incêndio foi provocado pelo próprio Nero, que assistiu a ele do topo da torre de Mecenas, no cume do Paladino, vestido como um ator de teatro, tocando sua lira e cantando versos acerca da destruição de Troia.
]Pelo fato de dois bairros onde havia grande concentração de judeus e cristãos não terem sido atingidos pelo incêndio, Nero encontrou uma boa razão para culpar os cristãos pela tragédia.
Daí em diante, eclodiu uma sangrenta perseguição contra os cristãos. No governo de Nero, o apóstolo Paulo foi preso e decapitado.
Muitas foram as atrocidades e crimes bárbaros que foram perpetrados contra os cristãos nessa época.
Milhares foram amarrados em postes e incendiados vivos, para iluminar as praças e os jardins de Roma à noite.
Outros, segundo o historiador Tácito, foram jogados nas arenas, enrolados em peles de animais, para que cães famintos os matassem a dentadas.
Outros, ainda, foram lançados no picadeiro para que touros enfurecidos os pisoteassem e esmagassem.
A loucura de Nero só não foi mais longe porque em 68 boa parte do império se rebelou contra ele, e o senado romano o depôs. Desesperado, sem ter para onde ir, suicidou-se.
No tempo em que explodiu essa brutal perseguição, Paulo estava fora de Roma, visitando as igrejas.
Por ser o líder maior do cristianismo, tornou-se alvo dessa ensandecida cruzada de morte. Possivelmente, quando estava em Trôade, na casa de Carpo, Paulo foi preso pelos agentes de Nero e levado a Roma para ser lançado numa masmorra úmida, fria e insalubre.
Dessa prisão, ele escreveu sua última missiva, a segunda carta a Timóteo. Nessa epístola, ele não pede orações para sair da prisão nem tem qualquer expectativa de prosseguir em seu trabalho missionário.
O velho apóstolo está convencido de que a hora de seu martírio havia chegado.
Ele está agora fechando as cortinas da vida, fazendo um balanço da sua jornada. Pelas lentes do antropocentrismo idolátrico, Paulo encerra a carreira numa grande SOLIDÃO.
Ele que se havia entregado de corpo e alma à causa do evangelho, estava agora sozinho numa masmorra romana, sem dinheiro, sem amigos e passando privações.
Destacaremos alguns pontos fundamentais acerca das atitudes desse bandeirante da fé no momento em que ele estava no corredor da morte.
A vida não é simplesmente viver; a morte não é simplesmente morrer
Em 2Timóteo 4.6-8, Paulo faz uma profunda análise do seu ministério e, antes de fechar as cortinas da sua vida, abre-nos uma luminosa clareira com respeito ao seu passado, presente e futuro. Acompanhemos sua análise:
Em primeiro lugar, Paulo olhou para o passado com gratidão (2Tm 4.7). Paulo está passando o bastão a seu filho Timóteo, mas, antes de enfrentar o martírio, relembra-o de como havia sido sua vida: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”.
A vida para Paulo não foi uma feira de vaidades nem um parque de diversões, mas um combate renhido.
O apóstolo pode morrer tranquilo porque havia concluído sua carreira, e isso era tudo o que lhe importava (At 20.24). Mas também deixa claro que nessa peleja jamais abandonou a verdade nem negou a fé. Não morre bem quem não vive bem.
A vida é mais do que viver, e morrer é mais do que morrer.
Em segundo lugar, Paulo olhou para o presente com serenidade (2Tm 4.6). O veterano apóstolo sabe que vai morrer. Mas não é Roma que vai lhe tirar a vida; é ele quem vai oferecê-la a Deus.
Assim escreve Paulo: “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado”. Numa linguagem eufêmica, Paulo fala da sua morte como uma partida.
A palavra grega analyses, “partida”, era usada em três circunstâncias: Primeira, significa aliviar alguém de uma carga. A morte para Paulo era descansar de suas fadigas (Ap 14.13). Segunda, significa levantar acampamento e deixar a tenda temporária para voltar para casa. A morte para Paulo era mudar de endereço. Era deixar o corpo e habitar com o Senhor (2Co 5.8).
Era partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor (Fp 1.23). Terceira, significa desatar o barco e singrar as águas do rio e atravessar para o outro lado.
A morte para Paulo era fazer a última viagem da vida, e esta rumo à Pátria celestial. A morte não intimidava Paulo. Ele chegou a afirmar: “… para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21).
Em terceiro lugar, Paulo olhou para o futuro com esperança (2Tm 4.8). A gratidão do dever cumprido, associada à serenidade de saber que estava indo para a presença de Jesus, dava a Paulo uma gostosa expectativa do futuro. Mesmo que Nero o condenasse e o tribunal de Roma o considerasse culpado, o reto e justo Juiz o consideraria inocente e lhe daria a coroa da justiça.
Como que num brado de triunfo diante do martírio, Paulo proclama: “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia…” (2Tm 4.8).
A vitória não é ausência de lutas, mas triunfo apesar delas
O céu não é aqui. Aqui não pisamos tapetes aveludados nem caminhamos em ruas de ouro, mas cruzamos vales de lágrimas. Aqui não recebemos os galardões, mas bebemos o cálice da dor. Paulo certamente foi a maior expressão do cristianismo.
Viveu de forma superlativa e maiúscula. Pregador incomum, teólogo incomparável, missionário sem precedentes, evangelista sem igual. Viveu perto do Trono, mas, ao mesmo tempo, foi açoitado, preso, algemado e degolado. Tombou como mártir na terra, mas levantou-se como príncipe no céu.
Ele não foi poupado dos problemas, mas triunfou no meio deles. Que tipo de luta Paulo enfrentou na antessala do seu martírio?
Em primeiro lugar, Paulo enfrentou a solidão (2Tm 4.9,11,21). Paulo estava numa cela fria, precisando de um ombro amigo. Sua espiritualidade não anula sua humanidade. Ele roga a Timóteo que venha depressa ao seu encontro. Pede a seu filho na fé para vir antes do inverno e trazer também João Marcos.
O gigante do cristianismo está precisando de gente amada ao seu lado, antes de caminhar para o patíbulo. Sua comunhão com Deus não o tornava um super-homem. Dentro do seu peito, batia um coração sedento por relacionamento.
Em segundo lugar, Paulo enfrentou o abandono (2Tm 4.10). Paulo passou a vida investindo na vida das pessoas, e, na hora que mais precisou de ajuda, foi abandonado e esquecido na prisão. Caminhou sozinho para o Getsêmani do seu martírio, assistido apenas pela graça de Deus.
Em terceiro lugar, Paulo enfrentou a ingratidão (2Tm 4.16). Paulo se arriscou pelos outros; mas ninguém compareceu em sua primeira defesa para estar do seu lado ou falar em seu favor.
Mais perturbador do que o frio gelado que se avizinhava pela chegada do inverno, era a geleira da ingratidão que Paulo tinha de suportar no apagar das luzes de sua jornada na terra.
Em quarto lugar, Paulo enfrentou a perseguição (2Tm 4.14). Alexandre, o latoeiro, causou-lhe muitos males, resistindo a ele e à sua mensagem.
Os historiadores dizem que foi esse Alexandre que delatou Paulo, resultando em sua segunda prisão e consequente martírio na cidade de Roma. Alexandre tornou-se inimigo do mensageiro e da mensagem.
Em quinto lugar, Paulo enfrentou as privações (2Tm 4.13). Paulo precisava de amigos para a alma, livros para a mente e a capa para o corpo. Ele tinha necessidades físicas, mentais e emocionais. As prisões romanas eram frias, insalubres e escuras.
Os prisioneiros morriam de lepra e outras doenças contagiosas. O inverno se aproximava, e Paulo precisava de uma capa quente para enfrentá-lo. Paulo também precisava de livros e dos pergaminhos.
Paulo estava no corredor da morte, mas queria aprender mais. Paulo precisava de amigos, roupa e livros. Precisava de provisão para a alma, a mente e o corpo.
Abandonado pelos homens, mas assistido por Deus
O apóstolo dos gentios não está encerrando, frustrado, a carreira. Não está com a alma amargurada. As agruras da terra não empalidecem as glórias do céu.
A ingratidão dos homens não enfraquece a assistência abundante de Deus. A graça de Deus assistiu Paulo na hora da morte.
Quatro verdades devem ser aqui destacadas:
Em primeiro lugar, Paulo foi abandonado pelos homens, mas assistido por Deus (2Tm 4.17). Paulo foi vítima do abandono dos homens, mas foi acolhido e assistido por Deus.
Assim como Jesus foi assistido pelos anjos no Getsêmani quando seus discípulos dormiram, Paulo também foi assistido por Deus na hora da sua dor mais profunda.
Deus não nos livra do vale, mas caminha conosco no vale. Deus não nos livra da fornalha, mas nos livra na fornalha.
Deus não nos livra da cova dos leões, mas nos livra na cova dos leões. Às vezes, Deus nos livra da morte; outras vezes, Deus nos livra através da morte. Em toda e qualquer situação, Deus é o nosso refúgio.
Em segundo lugar, Paulo não foi poupado das provas, mas recebeu poder para suportá-las (2Tm 4.17). Deus revestiu Paulo de forças para que continuasse pregando até o fim.
Paulo foi preso, mas a Palavra estava livre e espalhou-se para todos os gentios. Paulo foi levado ao patíbulo e decapitado, mas sua voz ainda ecoa nos ouvidos da história. Suas cartas são luzeiros no mundo.
Em terceiro lugar, Deus não livrou Paulo da morte, mas na morte (2Tm 4.18). Paulo não foi poupado da morte, mas libertado através da morte. A morte para ele não foi castigo, perda ou derrota, mas vitória. O aguilhão da morte foi tirado.
Morrer é lucro, é precioso, é bem-aventurança, é ir para a Casa do Pai, é entrar no céu e estar com Cristo.
Em quarto lugar, Paulo não termina a vida com palavras de decepção, mas com um tributo de glória ao Salvador (2Tm 4.18b).
Paulo foi perseguido, rejeitado, esquecido, apedrejado, fustigado com varas, preso, abandonado, condenado à morte, degolado, mas, em vez de fechar as cortinas da vida com pessimismo, amargura e ressentimento, termina erguendo ao céu um tributo de louvor ao Senhor.
Posso imaginar a cena… O carrasco recebe um pedaço de couro com o nome de um prisioneiro. Munido de uma tocha de fogo e com um pesado molho de chaves, atravessa longos corredores escuros e gelados. Abre uma pesada porta de ferro e grita com voz cavernosa: “Prisioneiro Paulo! Prisioneiro Paulo! Prisioneiro Paulo!”.
Do fundo da cela, o velho apóstolo, que trazia as marcas de Cristo no corpo e uma paz transcendente na alma, responde com firmeza: “Sou eu, estou aqui!”. Paulo é acorrentado e sai da masmorra, atravessando o corredor da morte. Depois de uma longa caminhada, chegam ao lugar do patíbulo.
Antes de colocar a cabeça de Paulo num tosco cepo de madeira para decepá-la com a guilhotina romana, o capataz da morte lhe dá a chance de proferir suas últimas palavras. Esperando que o velho prisioneiro soltasse algum gemido de dor ou algum grito de revolta ou desespero, Paulo, de forma imperturbável, com alegria na alma, ergue ao céu sua última doxologia: “A ele, [o Senhor Jesus Cristo] glória pelos séculos dos séculos. Amém” (2Tm 4.18b).
A guilhotina afiada, impiedosa e implacável faz tombar na terra esse príncipe de Deus. Sua morte, entretanto, não calou sua voz. Suas cartas ainda falam. Sua voz póstuma é poderosa.
Milhões de pessoas são abençoadas ainda hoje pela sua vida e pelo seu legado. Cabe-nos, tão- somente, agora, imitar esse homem como ele imitou Cristo (1Co 11.1).
DEUS LHE ABENÇOE! Compartilhe!

APRENDENDO COM JABES

  APRENDENDO COM JABES O m enino  p rodígio da  g enealogia!   Alguém já disse certa vez que existe muito pouca diferença entre as pessoas –...