sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

APRENDENDO COM JESUS



A Tentação de Cristo 

O aspecto mais elementar do texto de Mateus 4:1-11 é que Jesus foi tentado o tempo todo por algo que não parecia tentação. O único componente explicitamente maligno é o próprio Diabo. De resto, a tentação em si ocorre de forma bem dissimulada e aparentemente inofensiva. Senão, vejamos: a tentação ocorre não num momento de fraqueza espiritual, mas numa consagração. Num período de jejuns, orações e meditação! 


Muitos líderes cristãos "surtaram" em momentos exatamente assim, tomados de falsas visões e revelações. E consideraram que estavam certos pelo simples fato de estarem jejuando e orando.

A tentação se dá num deserto. Mas, que tipo de tentação pode ocorrer a alguém sozinho no deserto? Ser assediado por uma serpente? Assaltar um cacto? O deserto parece, de fato, o último lugar em que alguém possa ser tentado. Além disso, o tentador usa a Bíblia para tentar! O Diabo não leu trechos da biografia de Bruna Surfistinha. Citou as Escrituras Sagradas!

Jesus foi tentado a fazer um milagre! E não foi tentado a transformar pedras em mulheres peladas ou em pedaços de picanha, mas pão. Existe algo mais básico do que pão? 


E pão, não para abrir uma padaria, mas para saciar uma fome de 40 dias! E, por fim, Jesus é levado pelo Diabo para um... Cassino em Las Vegas? Não. É levado ao Templo de Jerusalém. Ao ponto mais alto. E num ambiente sagrado, Jesus é tentado a usufruir da proteção de seu Pai. "Salte", diz o Tentador, "E anjos virão em seu socorro".

Um tentador "bíblico", pedindo milagres, levando o tentado à igreja, oferecendo ajuda e abrindo mão de suas posses ("os reinos desse mundo") numa aparente rendição. E o preço disso... Um culto! Tudo muito religioso, muito agradável. Muito tentador.

A tentação fundamental era a de "satisfazer às expectativas". Todos nós temos (ou já tivemos) expectativas em relação à algo ou alguém e somos também alvo das expectativas dos outros. Sob a alegação de sermos aceitos (afinal, ninguém gosta de ser rejeitado) abrimos mão de nossos propósitos a fim de satisfazer às expectativas de outros. Cada uma das tentações consistia em que o Diabo conseguisse que Jesus "abrisse mão" de seus propósitos para satisfazer as expectativas do povo. 


O povo esperava um Messias que lhes saciasse a fome. Dar de comer ao povo era um sinal messiânico predito (Is 49.10). Nossa expectativa em relação à Cristo é que ele transforme nossas "pedras" em "pães". Mas o propósito de Jesus é ser "Pão da Vida" e mostrar que o problema do mundo não é falta de pão, é falta de viver "de tudo aquilo que sai da boca de Deus". 

A expectativa de Israel era da vinda de um Messias realizador de prodígios. E a nossa é de um Jesus Mágico-Milagreiro. Queremos que Cristo nos proporcione as maiores pirotecnias espirituais. E aí, decidimos comprar um carro zero, um lote para a igreja ou abrir um negócio sem dinheiro pra pagar depois em nome de uma "fé doida" e queremos que Jesus nos apóie nisso. Invocamos a Palavra para isso. 

Citamos textos bíblicos e "saltamos" esperando que os anjos venham ser nosso pára-quedas. E isso é pecado por ter a pretensão de usar Deus para fazer um "marketing" pseudo-espiritual a nosso favor.

Esse texto nos ensina que há tentações de todos os tipos. Há tentações "personalizadas". Há uma específica pra gente como você. Há tentação pra quem ora muito e pra quem não ora nada. Pra quem está na igreja e para os de fora. Pra o que está cercado de gente e para o que está num deserto. 


Há tentação para fazer o que é explicitamente mal e há para fazer o que parece ser "de Deus". Os pecados com cara e cheiro de pecado são fáceis de serem identificados na maioria das vezes. Sutis são as tentações que ocorrem no deserto, nas consagrações, nas altas hierarquias eclesiásticas e que demandam de nós apenas um mero culto ao Diabo, que não aparecerá com chifres e tridente, mas como uma projeção de nossas próprias ambições, perversões e delírios de poder.

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