sexta-feira, 8 de junho de 2018

APRENDENDO COM RUTE (PARTE 5)




RUTE “Uma mulher de bem”


Será que as coisas finalmente melhorariam para essa jovem viúva? Ela tinha se apegado a Noemi, sua sogra, jurando que ficaria com ela e que se tornaria adoradora de Jeová, Deus de Noemi.

As duas viúvas tinham saído de Moabe e ido para Belém, e Rute, que era moabita, logo ficou sabendo que a Lei de Jeová fazia provisões práticas e dignas para os pobres em Israel, incluindo os estrangeiros.* E agora ela podia observar alguns dos servos de Jeová, que seguiam a Lei e eram treinados por ela, agirem de um modo que revelava espiritualidade e bondade. Isso tocou seu coração tão sofrido.

Uma dessas pessoas foi Boaz, um homem rico, de mais idade, em cujos campos ela respigava.

Naquele dia, ele havia reparado em Rute e sentido um carinho paternal por ela. Rute com certeza ficou contente no seu íntimo ao pensar nas palavras bondosas dele, elogiando-a por cuidar da idosa Noemi e por buscar proteção sob as asas do Deus verdadeiro, Jeová. — Rute 2:11-13.

Mesmo assim, Rute talvez se preocupasse com seu futuro. Visto que era estrangeira, pobre e não tinha marido nem filhos, como ela sustentaria a si mesma e à sua sogra nos anos à frente? Respigar seria suficiente? E quem cuidaria dela quando envelhecesse? 

Seria natural que ela se preocupasse com isso. Nos tempos atuais, de grandes dificuldades econômicas, muitos têm ansiedades similares. Ao analisarmos como a fé de Rute a ajudou a enfrentar esses desafios, veremos muitas coisas que podemos imitar.

O que é uma família?


Quando acabou de bater os grãos e ajuntá-los, Rute viu que havia respigado cerca de 1 efa de cevada, ou 22 litros. Pode ser que sua carga pesasse uns 14 quilos. Rute talvez tenha envolvido tudo com um pano, colocado sobre a cabeça e partido para Belém ao anoitecer. — Rute 2:17.

Noemi ficou feliz de ver sua querida nora e talvez tenha ficado surpresa ao reparar na pesada carga de cevada que Rute trazia. Visto que Rute também havia trazido sobras dos alimentos que Boaz tinha providenciado para os trabalhadores, as duas tomaram uma refeição simples. Noemi perguntou: “Onde respigaste hoje e onde trabalhaste? Torne-se bendito aquele que reparou em ti.” (Rute 2:19)

Noemi estava atenta; a abundância de provisões que Rute havia conseguido mostrava que alguém tinha reparado na jovem viúva e a tinha tratado com bondade.

As duas começaram a conversar, e Rute disse a Noemi como Boaz havia sido bondoso. Comovida, Noemi exclamou: “Bendito seja ele por Jeová que não abandonou a sua benevolência para com os vivos e os mortos.” (Rute 2:19, 20

Ela encarou a bondade de Boaz como vindo de Jeová, que move seus servos a serem generosos e promete recompensá-los por sua bondade.* — Provérbios 19:17.

Noemi incentivou Rute a aceitar a oferta de Boaz de continuar respigando em seus campos, perto das moças da casa dele, para evitar o assédio dos ceifeiros. Rute aceitou esse conselho. Ela também continuou a ‘morar com a sua sogra’. (Rute 2:22, 23

Vemos aqui de novo a qualidade mais notável de Rute — o amor leal. Seu exemplo pode nos fazer refletir se prezamos nossos laços familiares, apoiando lealmente as pessoas que amamos e ajudando-as quando necessário. Esse amor leal nunca passa despercebido a Deus

Será que Rute e Noemi não chegavam a ser uma família? Em algumas culturas, uma família só é família no pleno sentido quando todos os papéis são preenchidos — marido, esposa, filhos, avós e assim por diante. 

Mas o exemplo de Rute e Noemi nos lembra que os servos de Jeová podem abrir seu coração e fazer com que mesmo a menor das famílias seja um lar acolhedor onde existe amor e bondade. Você tem apreço por sua família? Jesus lembrou seus seguidores que a congregação cristã pode se tornar uma família para quem não tem nenhuma. — Marcos 10:29, 30.

“Ele é um dos nossos resgatadores”

Rute continuou a respigar nos campos de Boaz desde a colheita da cevada, por volta de abril, até a colheita do trigo, por volta de junho. As semanas foram passando, e Noemi sem dúvida pensava cada vez mais no que poderia fazer por sua nora. Quando ainda estavam em Moabe, Noemi achava que jamais poderia ajudar Rute a encontrar outro marido. (Rute 1:11-13

Mas agora começava a pensar de outra forma. Ela disse a Rute: “Minha filha, não devia eu procurar-te um lugar de descanso?” (Rute 3:1)

 Naquele tempo era costume os pais procurarem um cônjuge para os filhos, e Rute de fato havia se tornado como uma filha para Noemi. Ela queria achar “um lugar de descanso” para Rute — referindo-se à segurança e proteção que um lar e um marido proporcionariam. Mas o que Noemi poderia fazer?

Quando Rute mencionou Boaz pela primeira vez, Noemi disse: “O homem é aparentado conosco. Ele é um dos nossos resgatadores.” (Rute 2:20

O que isso significava? A Lei de Deus para Israel incluía provisões amorosas para as famílias que, devido a pobreza ou luto, passassem por dificuldades. Se uma mulher ficasse viúva sem ter filhos, ela se sentiria ainda mais aflita porque essa situação impediria que a descendência e o nome de seu marido perdurassem pelas gerações futuras. Mas a Lei de Deus permitia que o irmão do marido se casasse com a viúva. Assim ela poderia dar à luz um herdeiro que desse continuidade ao nome do falecido e cuidasse dos bens da família.* — Deuteronômio 25:5-7.

Noemi pensou num plano. Podemos imaginar o olhar surpreso de Rute ao passo que sua sogra falava. É provável que a Lei de Israel ainda fosse algo novo para Rute, e muitos dos costumes, um pouco estranhos. No entanto, sua consideração por Noemi era tão grande que ela ouviu atentamente cada palavra. O que Noemi aconselhou Rute a fazer talvez tenha parecido estranho ou embaraçoso, até mesmo humilhante, mas ela escutou o conselho e humildemente disse: “Farei tudo o que me disseres.” — Rute 3:5.
Às vezes é difícil para os jovens ouvir os conselhos dos mais velhos e experientes. É fácil achar que quem é mais velho não consegue realmente entender os problemas e desafios que os jovens enfrentam. O exemplo de humildade de Rute nos lembra que ouvir a sabedoria de pessoas mais velhas que nos amam e querem o nosso melhor pode ser muito recompensador. Mas qual foi o conselho de Noemi, e será que Rute foi mesmo recompensada por acatá-lo?

Rute na eira

Naquela tardinha, Rute foi até a eira — uma área plana de terra batida onde os lavradores levavam os grãos para serem debulhados e joeirados. Normalmente se escolhia um lugar numa encosta ou no alto de uma colina, onde as brisas eram mais fortes no fim da tarde e começo da noite. Para separar os grãos do restolho e da palha, usavam-se grandes forquilhas ou pás. A mistura era lançada para o alto de modo que o vento levava embora a palha, que era mais leve, e os grãos caíam no chão.
Rute ficou observando discretamente à medida que o serviço era concluído. Boaz supervisionou o trabalho de joeirar os grãos, que foram se amontoando em grande quantidade. Depois de uma boa refeição, ele se deitou perto do montão de cereal. Pelo visto, naquela época era costume fazer isso, talvez para proteger a preciosa colheita contra ladrões ou saqueadores. Rute viu Boaz se deitar. Era o momento de pôr o plano de Noemi em ação.
Com o coração batendo forte, Rute se aproximou lentamente. Dava para ver que o homem estava num sono profundo. Assim, como Noemi tinha dito, ela descobriu os pés dele e se deitou ali. Depois aguardou. O tempo foi passando, mas para Rute deve ter parecido uma eternidade. Por fim, perto da meia-noite, Boaz começou a se mexer. Tremendo de frio, ele se esticou para cobrir os pés. Então, percebeu que havia alguém ali. O relato diz: “Eis que havia uma mulher deitada aos seus pés!” — Rute 3:8.

“Quem és tu?”, perguntou ele. Rute respondeu, talvez com a voz trêmula: “Sou Rute, tua escrava, e tens de estender a tua aba sobre a tua escrava, visto que és resgatador.” 

Alguns comentaristas bíblicos têm procurado dar a entender que as ações e as palavras de Rute tinham uma certa conotação sexual. Mas eles se esquecem de dois detalhes. 

Primeiro, Rute estava agindo de acordo com os costumes da época, muitos dos quais se perderam no tempo. Assim, seria um erro comparar as ações dela com os baixos padrões morais de nossos dias. Segundo, Boaz respondeu de uma maneira que deixa claro que ele encarava a conduta de Rute moralmente casta e muito elogiável.

Sem dúvida, o tom gentil e suave de Boaz acalmou Rute. Ele disse: “Que Jeová te abençoe, minha filha. Expressaste a tua benevolência melhor no último caso do que no primeiro, não indo atrás dos jovens, quer o de condição humilde, quer o rico.” (Rute 3:10

A expressão “no primeiro [caso]” referia-se ao amor leal de Rute em acompanhar Noemi de volta para Israel e cuidar dela. “No último caso” era a situação atual. Boaz notou que uma jovem mulher como Rute poderia facilmente ter procurado um marido entre os homens bem mais novos, fossem ricos ou pobres. Em vez disso, ela procurou o bem não só de Noemi, mas também do marido falecido de Noemi, por dar continuidade ao nome da família na terra dele. Não é difícil ver por que Boaz ficou tão impressionado com o altruísmo dessa jovem mulher.

Boaz continuou: “E agora, minha filha, não tenhas medo. Farei para ti tudo o que disseres, pois todos no portão do meu povo se apercebem de que és uma mulher de bem.” (Rute 3:11) Ele achou boa a ideia de se casar com Rute; talvez até certo ponto esperasse aquele pedido para ser resgatador dela. Boaz, porém, era um homem correto e não queria fazer as coisas simplesmente segundo suas preferências. Ele disse a Rute que havia um resgatador com parentesco mais próximo da família do marido falecido de Noemi; Boaz falaria primeiro com esse homem para lhe dar a oportunidade de se tornar marido de Rute.
Boaz sugeriu que Rute se deitasse de novo e descansasse até perto do amanhecer; então ela poderia ir embora discretamente. Ele queria proteger a reputação dela, bem como a sua, visto que as pessoas poderiam pensar que algo imoral havia acontecido. Rute se deitou de novo aos pés de Boaz, talvez agora mais tranquila depois de ouvir uma resposta tão bondosa ao seu pedido. Enquanto ainda estava escuro, Boaz encheu a manta de Rute com uma porção generosa de cevada, e ela voltou a Belém.
Deve ter sido muito bom para Rute ouvir Boaz dizendo que ela era conhecida como “uma mulher de bem”. Sem dúvida, essa reputação se devia em boa parte à vontade que ela tinha de conhecer a Jeová e servi-lo. Ela também havia mostrado grande bondade e sensibilidade para com Noemi e seu povo, adaptando-se de bom grado a costumes que para ela certamente eram desconhecidos. Se imitarmos a fé de Rute, nos esforçaremos em respeitar as pessoas e seus costumes. Assim, também poderemos criar uma excelente reputação.

Um lugar de descanso para Rute

“Quem és, minha filha?”, disse Noemi quando Rute chegou. Ela talvez tenha perguntado isso porque estava escuro. Mas Noemi também queria saber se Rute ainda estava na mesma situação de viúva descompromissada ou se agora havia a possibilidade de um casamento. Rute contou logo à sua sogra a conversa que teve com Boaz. Também mostrou a porção generosa que Boaz tinha lhe pedido para entregar a Noemi.* 

Noemi sabiamente aconselhou Rute a ficar em casa em vez de sair para respigar nos campos. Ela garantiu a Rute: “O homem não terá sossego a menos que leve o assunto ainda hoje a término.” — Rute 3:18.

Noemi tinha razão. Boaz foi ao portão da cidade, onde os anciãos costumavam se reunir, e esperou que aquele parente mais próximo passasse. Perante testemunhas, Boaz lhe deu a oportunidade de atuar como resgatador por se casar com Rute. Mas o homem recusou, alegando que isso prejudicaria sua própria herança. Assim, perante as testemunhas no portão da cidade, Boaz declarou que agiria como resgatador, comprando tudo que pertencia a Elimeleque, marido de Noemi, e se casando com Rute, viúva de Malom, filho de Elimeleque. Boaz disse que com isso ele esperava ‘fazer que se levantasse o nome do morto sobre a sua herança’. (Rute 4:1-10)

 Boaz era mesmo um homem correto e altruísta.

Boaz se casou com Rute. Então, o relato diz: “Jeová concedeu-lhe conceber e ela deu à luz um filho.” As mulheres de Belém abençoaram e elogiaram Rute. Disseram que ela era para Noemi “melhor do que sete filhos”. O relato mostra que o filho de Rute se tornou ancestral do grande Rei Davi. (Rute 4:11-22) Davi, por sua vez, foi ancestral de Jesus Cristo. — Mateus 1:1.*
Rute realmente foi abençoada, assim como Noemi, que ajudou a criar aquela criança como se fosse seu filho. A vida dessas duas mulheres é um belo lembrete de que Jeová Deus nota o esforço de quem trabalha de modo humilde para cuidar de sua família e o serve lealmente com seu povo escolhido. Jeová sempre recompensa aqueles que conquistam uma excelente reputação aos seus olhos, como no caso de Rute.

 Como notado por Noemi, a bondade de Jeová não se restringe aos vivos; ela se estende até mesmo aos mortos. Noemi tinha perdido o marido e os dois filhos. Rute havia perdido o marido. Com certeza, elas amavam muito esses homens. Qualquer bondade mostrada a Rute e Noemi era, na verdade, mostrada aos homens que com certeza teriam desejado que essas mulheres queridas fossem bem cuidadas.
Pelo visto, assim como o direito à herança, o direito de se casar com a viúva cabia primeiro aos irmãos do falecido e depois ao parente mais próximo. — Números 27:5-11.

Boaz deu a Rute seis medidas de um peso não especificado — talvez para sugerir que, assim como seis dias de trabalho eram seguidos de um descanso sabático, os dias de Rute como viúva em breve seriam seguidos pelo “descanso” que um lar e um marido proporcionavam. Ou é possível que as seis medidas — talvez pás cheias — fossem tudo o que Rute conseguisse levar.
Rute é uma das cinco mulheres que a Bíblia alista na linhagem de Jesus. Outra mulher foi Raabe, mãe de Boaz. (Mateus 1:3, 5, 6, 16) Como Rute, ela não era israelita. 


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