A BIOGRAFIA DE ELIAS – O PROFETA QUE ENFRENTA A APOSTASIA NACIONAL
- Após a ressurreição do filho
da viúva de Zarefate, Elias havia concluído o período de aprendizado
sobre a superioridade de Deus sobre Baal.
Devidamente experimentado na
sua vida com Deus, durante três anos e seis meses (cf. Tg.5:17), estava
pronto para um novo embate com o rei Acabe.
A seca era terrível,
cumpria-se à risca o que havia sido profetizado por Elias e, então, o
Senhor mandou que o profeta, uma vez mais, se apresentasse diante de
Acabe, porque chegara o momento de chover sobre a terra (I Rs.18:1).
OBS: É interessante notar que
Flávio Josefo faz questão de comprovar a historicidade desta seca.
Assim
relata o historiador judeu: “…aquela prolongada seca, de que o
historiador Menandro fala quando narra os feitos de Etbaal, rei dos
tírios [pai de Jezabel, observação nossa], assim: Houve naquele
tempo uma grande seca que durou desde o mês de Hiperbereteu até o mesmo
mês, no ano seguinte. Esse soberano mandou fazer grandes preces e foram
elas seguidas de um grande trovão. Foi ele que mandou construir as
cidades de Botris, na Fenícia e a de Auzate, na África.
Estas
palavras se referem, sem dúvida, a esta seca, que aconteceu no reinado
do rei Acabe, pois Etbaal reinava em Tiro, nesse mesmo tempo.…” (JOSEFO,
Antigüidades Judaicas 8,359. In: História dos Hebreus. Trad. Vicente Pedroso, v.1, p.192).
- Quando ia em direção a Acabe,
Elias se encontrou com o mordomo do rei, Obadias, que era uma pessoa
temente a Deus, o qual, inclusive, havia escondido profetas do Senhor em
cavernas e providenciado o seu sustento em meio a grande seca e à
implacável perseguição desenvolvida por Acabe contra os servos de Deus.
Este relato bíblico mostra-nos que Deus não só havia cuidado de Elias,
como também de todos os Seus profetas, mostrando que havia absoluto
controle divino sobre toda a situação.
Deus não muda e continua a
guardar os Seus servos, o Seu povo em meio aos dias trabalhosos e
difíceis que estamos a viver. Basta apenas que temamos a Deus e que
estejamos dispostos a servi-lO e a fazer o que Ele nos manda, sem nos
importarmos com as circunstâncias ou os possíveis riscos.
Obadias,
apesar do cargo que ocupava, era um homem temente a Deus e, pela obra do
Senhor, não tinha por valiosa a sua posição social (I Rs.18:3,4).
- Ao se encontrar com Obadias,
Elias fica a saber que o rei Acabe o havia procurado em todos os
lugares, a demonstrar, mais uma vez, que o Senhor o havia escondido, o
havia não só sustentado, mas também protegido (I Rs.18:10). Também foi
cientificado de que não era o único a ter obtido a proteção e sustento
da parte de Deus, que os profetas, aqueles com quem Elias tinha tanto
cuidado, também haviam sido guardados, pela mão de Obadias.
- O encontro entre Elias e
Acabe bem mostra como não há comunhão entre a luz e as trevas (II
Co.6:14). Elias havia profetizado e a profecia se cumpria integralmente,
o que mostrava ser ele um profeta que vinha da parte de Deus
(Dt.18:21,22).
Deveria, pois, o rei Acabe respeitá-lo, considerá-lo.
Mas, pelo contrário, ao se encontrar com Elias, o rei o chama de “o
perturbador de Israel” (I Rs.18:17). Assim é o mundo, assim são os
ímpios: eles aborrecem os servos do Senhor, consideram-nos um estorvo,
um obstáculo, um impecilho. Jamais nos tratarão bem, jamais reconhecerão
a nossa santidade e a nossa condição de filhos de Deus.
- Não nos iludamos, os homens
sem Deus e sem salvação nunca nos darão valor, nunca falarão bem de nós.
São palavras do Senhor Jesus: “Se o mundo vos aborrece, sabei que,
primeiro do que a vós, me aborreceu a mim. Se vós fôsseis do mundo, o
mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes eu vos
escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo.15:18,19).
Há
muitos que querem agradar aos homens, que se preocupam em ser
“populares”, “simpáticos”, “enturmados”, mas não cedamos a esta
tentação. O servo de Deus jamais será visto com simpatia pelo mundo
pecador. Se, por um acaso, temos querido popularidade e simpatia e a
tenhamos alcançado, ouçamos o que diz o Senhor: “Ai de vós quando todos
os homens falarem bem de vós, porque assim faziam seus pais aos falsos
profetas!” (Lc.6:26).
- O profeta Elias, porém, não
se abateu por causa desta ofensa, desta palavra mentirosa do rei, como
também não ficou preocupado pelo fato de o rei lhe ser hostil (ninguém
pense que este encontro se deu a sós. O rei, certamente, fazia-se
acompanhar de sua guarda pessoal, enquanto que Elias estava só). Antes,
com autoridade, disse que quem era o perturbador de Isael era o próprio
rei, uma vez que ele havia deixado os mandamentos do Senhor e seguido a
Baal e, devidamente orientado por Deus, lançou o desafio da reunião de
todos no monte Carmelo, a fim de que se demonstrasse quem é o verdadeiro
Deus (I Rs.18:19,20).
Devidamente experimentado e tendo vivido que Deus é
o único Deus, Elias poderia lançar este desafio, a fim de proclamar a
todo o povo o que havia aprendido.
- Esta necessária experiência
pessoal com Deus e o decorrente crescimento espiritual é ainda um
requisito para podermos proclamar, com efetividade, a palavra de Deus.
Não se pode pregar eficazmente o Evangelho sem que, antes, tenhamos tido
um contacto intelectual com ele, bem como que tenhamos uma experiência
pessoal com o Senhor.
Não foi por outro motivo que Jesus preparou,
durante mais de três anos (praticamente o mesmo tempo da seca do tempo
de Elias) os Seus discípulos e, depois, mandou que esperassem o
revestimento de poder para iniciar a evangelização. Um dos grandes
problemas dos nossos dias é este descuido da preparação doutrinária e
espiritual dos que querem anunciar a Palavra do Senhor, fazendo com que
neófitos se desincumbam desta tarefa, causando prejuízo a si mesmos e à
Igreja
(I Tm.3:6).
- O povo se reuniu e Elias, sem
medo, apresentou-se ao povo, exigindo dele uma definição. “Até quando
coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O e, se é
Baal, segui-o.” (I Rs.18:21). O grande mal espiritual do povo era a
vacilação, a dúvida, a incerteza. Tudo o que não provém de fé é pecado
(Rm.14:23 ARA). Nas Escrituras, sempre o Senhor nos recomenda a
abandonarmos a vacilação, considerada sempre uma situação espiritual de
letargia, de imobilismo, uma condição de fracasso e morte espirituais
(Is.51:17,22).
“Vacilar” é tremer, abalar-se, hesitar, duvidar. Nunca
podemos agir em relação a Deus, “…porque o que duvida é semelhante à
onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte.
Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa. O homem de
coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos” (Tg.1:6b-8).
- Quantos que, atualmente, nas
igrejas, têm vacilado, duvidado da Palavra de Deus, do poder do Senhor.
Envolvidos com as coisas deste mundo, sem meditar nem estudar as
Escrituras, não mantendo uma vida de oração, enfim, sem ter experiência
com Deus, encontram-se na mesma situação do povo de Israel nos dias de
Elias.
Apesar da grande demonstração do poder de Deus, numa seca que já
durava três anos e seis meses, numa clara prova de que Baal não era deus
algum, não detinha controle algum sobre a natureza, o povo ainda estava
coxeando entre dois pensamentos, preferindo as benesses do poder
oferecidas por Jezabel no culto a Baal, bem como as seduções deste
culto, que era um culto sensual, depravado e repleto de tudo aquilo que
agradava a natureza pecaminosa do homem.
Dinheiro, prazer, posição
social eram ofertados pelos baalim e, assim, muitos, apesar de todas as
evidências do poder do Senhor, continuavam titubeantes e, neste duvidar,
acabavam sendo arrastados pela idolatria.
- Os dias em que vivemos não
são diferentes. Embora não haja uma alusão explícita das Escrituras aos
“dias de Elias”, como os há em relação aos “dias de Noé” e aos “dias de
Ló”, o fato é que os dias que antecedem imediatamente aos da vinda de
Cristo também são dias de dúvida, perplexidade e de vacilação em grande
parte do povo de Deus. O próprio Jesus disse, ao se referir a estes
dias, afirma, num tom que nos exige uma rigorosa auto-análise: “…Quando,
porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra?”
(Lc.18:8b).
- Israel vivia, nos dias de
Elias, uma verdadeira “apostasia nacional”, pois todo o país estava se
enveredando pelo culto a Baal. O próprio Deus diria a Elias, pouco
depois, que apenas sete mil pessoas não haviam dobrado seus joelhos a
Baal nem o haviam beijado, um número bem diminuto frente a uma população
que deveria ser bem maior (I Rs.19:18). Estes sete mil, como bem
explica o apóstolo Paulo, representam os remanescentes do povo de Deus
(Rm.11:4), remanescente que também existe na Igreja (Ap.2:13,24; 3:4).
São muitos, portanto, aqueles que se deixam levar, atualmente, pela
vacilação e que, por isso, perderão a salvação. Que Deus nos guarde!
- O desafio de Elias foi
apresentado: o Deus verdadeiro deveria responder com fogo a aceitação do
sacrifício que Lhe fosse dado. Elias tinha experimentado o pleno
domínio de Deus sobre a natureza e tinha, assim, portanto, convicção de
que somente Deus responderia com fogo a um sacrifício. Os profetas de
Baal e de Asera, num total de oitocentos e cinqüenta (I Rs.18:19),
tentaram, durante toda a manhã, resposta de seus deuses para o
sacrifício, sem resultado.
- Elias, então, depois que
havia deixado tempo suficiente para que Baal respondesse ao sacrifício,
oferece o seu sacrifício diante de Deus. Como Deus não é Deus de
confusão (I Co.14:33), reparou o altar, que estava quebrado, bem como
pôs água abundante para que não houvesse qualquer dúvida de que era Deus
quem iria operar. Este cuidado do profeta é um exemplo a seguirmos na
atualidade: a operação de Deus é algo de que devemos ter certeza e
convicção.
Por isso, nada deve ser feito sem a devida preparação
espiritual, a devida santificação (o reparo do altar), como também tudo
deve ser feito às claras diante do povo, com transparência, decência e
ordem (I Co.14:40). Quantos altares desmantelados na atualidade têm
buscado o “fogo divino” e, como Deus não opera em lugares assim,
recorrem a subterfúgios, a astuciosos estratagemas para impressionar o
povo. Entretanto, não nos iludamos, Deus não é Deus de confusão.
- Mas, além de ter reparado o
altar e não deixado margem a qualquer dúvida, Elias fez uma oração.
Elias não “determinou” coisa alguma a Deus, pois sua “determinação”,
como vimos, é a disposição firme de servir a Deus, não qualquer
exigência que devesse ser feita, como muitos iludidos atrevem-se a fazer
em os nossos dias.
Elias fez uma oração, um pedido a Deus, reconhecendo
a Sua soberania, o Seu senhorio. Ele poderia chamar Deus de Senhor,
porque havia experimentado o controle de Deus sobre todas as coisas: o
corvo, a panela da viúva, a vida do filho da viúva. Relembrou ao povo,
que o escutava, que Deus era o Deus do pacto feito com os patriarcas, o
Deus que havia formado a nação de Israel e que ele, Elias, era tão
somente um servo dEle. Mal acabou a oração, o Senhor consumiu tudo com o
fogo e o povo não teve mais dúvida alguma: só o Senhor é Deus! (I
Rs.18:36-39).
- Em meio a este triunfo
espiritual, o zelo do profeta se mostrou. Elias mandou que os profetas
de Baal e de Asera fossem mortos e, incontinenti, o povo lhe obedeceu,
levando-os ao ribeiro de Quisom, situado ao pé do monte Carmelo, onde
matou a todos os profetas. Em seguida, avisou o rei Acabe para que se
apressasse e fosse comer e beber, porque ruído havia de uma abundante
chuva (I Rs.18:40,41).
- Enquanto Acabe foi comer e
beber, Elias foi orar. Aqui, mais uma vez, vemos como eram diferentes
estes dois homens e como são diferentes, até os dias de hoje, aquele que
serve a Deus e aquele que não O serve. Acabe, ante tamanha demonstração
do poder de Deus, deveria se arrepender dos seus maus caminhos e tornar
a servir ao Senhor.
Mas, antes disso, resolveu comer e beber, continuar
com a sua vida regalada, indiferente a Deus e a tudo quanto lembrasse o
Senhor, entre os quais, o próprio sofrimento do povo, que padecia fome e
sede por causa da seca. Acabe, porém, não se importava com o povo, mas
única e exclusivamente com o seu bem-estar. É este, lamentavelmente, o
comportamento de muitos que estão à frente do povo de Deus, que se
importam apenas em “subir, comer e beber”, enquanto o povo passa
necessidade.
- Ainda bem que, enquanto os
Acabes comem e bebem, ainda existem os Elias que vão buscar a Deus.
Elias estava cheio de fé, havia sido usado por Deus maravilhosamente,
fogo havia descido do céu, consumido o altar além do próprio sacrifício,
mas, quando foi orar, e orando com fé pois já sentia o ruído duma
abundante chuva, nada aconteceu.
Com rosto em terra, clamando ao Senhor,
foram necessárias sete vezes até que no céu surgisse uma pequenina
nuvem como u’a mão. Deus ensinava a Elias uma vez mais: o servo nunca
deve deixar de perseverar e ser persistente. Deus não está preso ao
homem. Se o fogo veio antes mesmo que a oração acabasse, agora foram
necessárias sete orações para que o pedido fosse atendido, pedido,
aliás, que Deus já havia dito, antes que tudo começasse, que haveria de
acontecer (cf. I Rs.18:1).
- Deus é o Senhor, que, aliás, é
o significado do nome de Elias. Assim como Deus atendeu a Elias
incontinenti para mandar fogo, exigiu dele mais insistência para mandar a
tão esperada chuva, chuva que começou numa pequenina nuvem na forma de
u’a mão, para mostrar que era a mão do Senhor que estava sobre Elias (I
Rs.18:46), que continuava a ser um simples homem, como qualquer um de
nós (Tg.5:17).
- Por isso, não temos como
admitir em nosso meio as famigeradas “campanhas”, que têm proliferado
nas igrejas, impondo ao Senhor “sete sextas-feiras”, “quarenta
segundas-feiras”, “vinte e uma semanas” e tantas invencionices para que a
obra seja realizada. Isto é um absurdo e, com Elias, nós temos de
aprender que “Javé é Deus”, que é o Senhor quem opera, quando, como e
onde quer. Devemos pedir insistentemente, de modo ininterrupto, como
ensinou Jesus (Mt.7:7,8), mas sempre se lembrando que o tempo é de Deus,
bem como a vontade dEle. Abandonemos estas superstições, este paganismo
que se introduziu em o nosso meio e voltemos ao que ensina as
Escrituras, através do exemplo do profeta Elias.
***