Liderança
"Além disto procurarás dentre todo
o povo homens de capacidade, tementes a Deus, homens verazes, que aborreçam a
avareza, e os porás sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de
cinqüenta e chefes de dez; e julguem eles o povo em todo o tempo. Que a ti
tragam toda causa grave, mas toda causa pequena eles mesmos a julguem; assim a
ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo." (Ex 18:21-22)
Jetro deu um excelwente conselho para seu genro Moisés.
Nestes tempos em que se fala muito em liderança, lembrei-me deste texto do pentateuco porque ele me fala muito ao coração.
Como é fácil se tornar um ditador, representante de Deus diante dos
meros mortais que nada sabem da Sua vontade, que não são tão espirituais nem se
preocupam em ler a Bíblia.
Mas é este povo a quem Deus confiou amar e cuidar, e todo o líder tem este papel, além é claro de guiar e administrar, o que não faz mal nenhum.
Ocorre é que no papel de liderado é
muito mais cômodo, e portanto exige menos compromisso e tem menos cobrança. Mas
o liderado é tão importante no ministério cristão quanto o próprio líder: são
papéis diferentes.
Neste texto vemos um homem experiente (Jetro) aconselhando seu atarefadíssimo genro, que se envolveu na maior enrascada de sua vida: guiar quase dois milhões de pessoas por um deserto terrível, carregando quinquilharias nos ombros, e sonhando com uma tal de terra prometida que ainda tardaria muito a chegar.
E o conselho foi sábio, como sábio
é o nosso Deus: dividir o peso e a responsabilidade da liderança.
Mas até aí vínhamos muito bem. Dividiremos nossas lideranças, e deixaremos os líderes realmente de peso somente para as causas mais importantes, delegando para líderes menos "importantes" a responsabilidade sobre causas que realmente não merecem tanta atenção: uma fofoquinha entre os irmãos, um desentendimentozinho entre o casal, uma briguinha com os filhos, probleminhas com dívidas e vícios, enfim - o que não dá IBOPE.
E o bonitão aqui vai tratar de adultério, de roubo,
de briga com sangue, de divórcio, de gravidez de adolescente - coisas de IBOPE.
Só que o que a Palavra mostra não é isso. Ao ler o texto eu vejo um espelho de Moisés em cada um daqueles homens escolhidos para liderar, com características e virtudes duras de encontrar ao mesmo tempo em um homem só.
Homens que realmente poderiam liderar o povo todo, talvez
alguns até mais preparados e qualificados do que o próprio Moisés... Mas havia
um detalhe: a Moisés Deus chamou para isso, e lhe pesava esta responsabilidade.
Senso de papel na mão de Deus, na Sua obra, foi o que fez com que não somente
Moisés mas este grupo de homens assumissem esta missão, que eu certamente não
ia querer para mim.
De todo os cursos sobre liderança que já fiz, alguns muito bons e importantes, ministrados por homens de Deus e homens do mundo, nada me fala mais ao coração do que estes pequenos versos da Palavra de Deus. Se eu tenho convicção de que Deus me quer fazendo o que estou fazendo, ou para o qual estou me preparando, não preciso me preocupar ou me enciumar com dividir a liderança com pessoas que possuem capacidades e qualificações adequadas.
Por outro lado, se eu simplesmente me preocupar em ocupar os cargos
da hierarquia da igreja local, apenas para não ficar sem ninguém, sem me preocupar
com as qualificações que a Palavra me mostra, eu caio no desastre do outro lado
do abismo, ficando sozinho, sobrecarregado, saturado, cansado, e, como Moisés,
a beira de uma crise de nervos.
Quem lidera, deve saber encontrar o seu
ponto entre trabalhar sozinho e anarquizar entre todos, para ter ao mesmo tempo
eficiência e confiabilidade. Quem é liderado, precisa aprender a seguir seus
líderes entendendo que não é mera preguiça dividir responsabilidades e delegar:
é sabedoria da Palavra de Deus, aplicada ao ministério.