quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

APRENDENDO COM A RAINHA DE SABÁ





Quase todo mundo conhece a história de Salomão e da Rainha de Sabá. Segundo o Livro dos Reis, ela teria vindo de terras distantes para verificar se Salomão essa realmente o sábio do qual ouvira falar.

É, mas há muitas coisas neste relato que foram sublimados do texto e do contexto. O contexto sugere que houve um romance entre eles: uma bela rainha visitando um imponente rei. Uma relação política que quase sempre envolvia, em tais circunstâncias, alguma relação mais íntima.

Bem, isto está implícito no texto e requer uma análise de contexto. Inclusive, alguns poderão discordar alegando (insofismavelmente) que isso não está explícito no texto.

De qualquer forma, o judaísmo, com uma bela e riquíssima tradição (a qual sempre alerto meus alunos que nunca deve ser ignorada) não deixou esta relação implícita passar desapercebida: segundo a tradição judaica, eles teriam tido um tórrido romance e concebido um filho.

Salomão queria que ela reinasse ao seu lado, mas ela não aceitou. Por que?

Porque no seu reino aquele filho seria rei. A linha de sucessão era matriarcal, não patriarcal. Em Israel ele não seria rei, afinal, era filho de uma estrangeira...

Aqui começa a sublimação. A maioria dos cristãos desconhece esta versão e muitos resistem a ela (foi uma rainha casta! Tipo Maria...). Sabemos bem como funciona o superego cristão-romano: quanto menos sexo e romance, mais santo...

Mas o principal fator de sublimação de judeus e cristãos está na própria personagem. Sabá, na verdade, é a Etiópia. África. A Rainha de Sabá seria negra...

Quem escreveu o relato bíblico sabia disso e não se importava.

O reino também era riquíssimo. Tanto é que ela chega com uma caravana e com riquezas incalculáveis para presentear Salomão.

Agora vem as verdades incômodas. Imagino alguns lendo isso, rangendo dentes de ódio (ou balançando a cabeça negativamente para fingir racionalidade a si mesmo) e imaginando uma resposta. Mas não adianta. Ela era a) rainha, b) negra e c) estrangeira, o que significa que nutria outra religião. Religião da...África!

Ou seja, ela era Preta, Macumbeira e Rica.

(os termos são, com aceitável licença de anacronismo, pejorativos. É de propósito. É como uma pessoa racista e intolerante se refere a negros ou seguidores de religiões de matrizes afro! É para estes que tais informações são incomodas!).

Pois é gente. Salomão ficou envolvido por uma Preta, Macumbeira Riquíssima. Observe a troca de presentes descrita na Bíblia: a Rainha de Sabá chega com uma caravana de presentes, sem conhecer Salomão. Já Salomão enche ela de presentes após conhecê-la.

Tipo assim, o relato coloca a Rainha de Sabá meio como a Ludmilla ("Cheguei! Cheguei chegando..." ups, uma Preta Rica de novo...).

Imagino os malabarismos de alguém tentando dizer que os presentes de Salomão nada tinham a ver com romance. Na verdade, a única coisa que estarão a fazer é especular e criar uma versão que não consta no texto a fim de explicar tamanha generosidade. Este é o mesmo procedimento histórico da tradição judaica (embora, no caso dos judeus, se trate de uma afirmação bem mais próxima e fidedigna ao contexto!).

Observe também que que em momento algum do texto de Reis, Salomão pede a ela que se converta. Muito embora, segundo algumas tradições judaicas, ela se converteu sim, tornando-se judia.

Evidente...pagã ("macumbeira"!) nunca!

Portanto, a religião original da Rainha de Sabá e sua aceitação, no texto original, por Salomão, é também sublimada.

(obs: posteriormente, os judeus e cristãos etíopes aceitaram esta tradição como mito fundante de tais grupos. Mas aqui temos uma apropriação positiva da tradição, não por rejeitar algo referente ao Outro, mas por buscar nela a fundação e identidade do grupo).

Mas para alguns, isso não bastou. Observe que o Livro dos Reis condena explicitamente a relação de Salomão com princesas de outros povos (confesse: você já estava pensando em refutar usando isso, não é?). Mas este relato em especifico não condena nada nem ninguém: tudo é positivo nele.

Assim, se não foi possível separar o casal, condenou-se o romance. Usando versículos bíblicos que não se referem ao caso.
Mas não parou por ai. Algumas tradições foram além. Segundo as tais, a rainha era uma feiticeira, das brabas ("macumbeira", sabe como é né...). Mas Salomão era sagaz. Ele sabia que toda feiticeira tinha as pernas feias e peludas (afinal, feministas e feiticeiras são feias, mal amadas e não se depilam!) então, deu um jeito de fazê-la levantar as saias e revelar aquelas pernocas horrorosas, desmascarando-a.

Ele então a libertou da feitiçaria, e de quebra eliminou-lhe os pelos das pernas, para ai sim casar-se com a rainha. Assim, salvou-se Salomão de ter um romance com uma Macumbeira e ainda lembrra como ele era sábio!

E, por fim, a ultima sublimação. Digita Rainha de Sabá agora no google. Observe os quadros e filmes mais antigos sobre ela.

Branca né?

Mas o direitor Roger Young, ao fazer um filme sobre Salomão lançado em 2007, não caiu nessa. Sua Rainha de Sabá é uma bela atriz negra de arrasar o quarteirão: Vivica Fox.

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