APRENDENDO COM PAULO
A primeira prisão em Roma – Paulo – O Líder Cristão
Paulo desejou ir a Roma várias vezes, mas sempre foi
impedido de realizar seu sonho (Rm 1.113). Queria chegar à capital do império
e visitar os crentes com alegria para recrear-se no meio deles (Rm 15.32).
Tinha convicção de que chegaria à igreja de Roma na plenitude da bênção de
Cristo (Rm 15.29). Também desejava fazer da igreja de Roma seu novo quartel general,
sua base missionária para chegar à Espanha, última fronteira do império do lado
ocidental (Rm 15.24,28).
O tempo de Deus não é o nosso. Paulo foi impedido de ir a
Roma no tempo que queria ir e da forma que desejava. Porque não pôde visitar a
igreja de Roma dentro desse tempo planejado por ele, acabou escrevendo à
igreja. Se Paulo tivesse visitado a igreja, talvez fôssemos privados desse
grande tesouro que é sua carta aos Romanos. Quando nossos caminhos parecem
fechados, Deus está abrindo-nos uma porta maior. Os propósitos de Deus não
podem ser frustrados. Os caminhos de Deus são mais altos do que os nossos. Os
impedimentos de Deus estavam na agenda de Deus para um benefício maior, não
apenas da igreja de Roma, mas de todos os cristãos, de todos os tempos.
Contudo, a visita de Paulo a Roma não era apenas sonho de
Paulo; era também projeto de Deus. Quando Paulo foi preso em Jerusalém, ao
testemunhar ousadamente perante o sinédrio judaico, o próprio Deus apareceu a
ele numa visão e lhe disse: “… Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a
meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma” (At
23.11).
Diante da pusilanimidade do rei Festo, que estava inclinado
a ceder à pressão e sedução dos judeus para entregar Paulo nas mãos de seus
patrícios, este apelou para ser julgado em Roma (At 25.10), no que foi imediatamente
atendido (At 25.12).
Como vimos no capítulo anterior, sua viagem para Roma foi
tumultuada e cheia de percalços. Paulo chegou a Roma como um prisioneiro depois
de enfrentar um terrível naufrágio. Durante dois anos, ficou detido numa prisão
domiciliar em Roma (At 28.30), na companhia de um soldado da guarda pretoriana,
que o guardava (At 28.16; Fp 1.13). Nessa prisão domiciliar, numa casa alugada
por ele mesmo, tinha liberdade para receber as pessoas e instruí-las (At
28.23). Nesse tempo, pregou o reino de Deus com toda a intrepidez, e sem nenhum
impedimento ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo (At 28.31).
Paulo, um escritor prolífico
Paulo foi o maior escritor da nova dispensação. Escreveu
treze dos 27 livros do Novo Testamento. De Corinto, escreveu suas duas cartas à
igreja de Tessalônica, nas quais fez uma sublime abordagem sobre a escatologia,
a doutrina das últimas coisas, e a carta aos gálatas, uma consistente e robusta
defesa da fé cristã. De Éfeso, escreveu suas duas cartas a Corinto. A primeira
carta para resolver sérios problemas que estavam minando a igreja, como
divisões, intrigas, imoralidade, desvios quanto à liberdade cristã, à doutrina
da ceia, dos dons e da ressurreição. Na segunda carta, a missiva mais pessoal
do apóstolo, ele faz uma defesa contundente do seu apostolado. No fim da
terceira viagem missionária, antes de viajar para Jerusalém, possivelmente de
Corinto, escreveu sua carta aos romanos, o maior tratado teológico do Novo
Testamento.
De sua primeira prisão em Roma, Paulo escreveu quatro
cartas: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. A carta aos efésios é o
maior tratado eclesiológico do Novo Testamento. A carta aos colossenses foca
sua atenção na doutrina de Cristo, sendo um robusto compêndio de cristologia. A
carta a Filemom é uma epístola pessoal do apóstolo, dirigida a um crente de
Colossos, cuja igreja se reunia em sua casa. Paulo escreve a Filemom para
realçar a necessidade de ele perdoar o seu escravo fugitivo, Onésimo, agora
convertido e filho na fé do velho apóstolo. Sua última carta da primeira prisão
foi Filipenses. Esta é a missiva da alegria. Nessa carta, Paulo testemunha que
as coisas que lhe aconteceram contribuíram para o progresso do evangelho (Fp
1.12). Que coisas aconteceram a Paulo? Ele foi perseguido em Damasco, rejeitado
em Jerusalém, esquecido em Tarso, apedrejado em Listra, açoitado e preso em
Filipos, escorraçado de Tessalônica, enxotado de Bereia, chamado de tagarela em
Atenas e de impostor em Corinto. Enfrentou feras em Éfeso, foi preso em
Jerusalém, acusado em Cesareia. Enfrentou um naufrágio na viagem para Roma e
foi picado por uma cobra em Malta. Chegou a Roma preso e algemado. Estava,
agora, na antesssala do martírio, no corredor da morte, com o pé na sepultura e
a cabeça na guilhotina de Roma. Mas olhava para essas circunstâncias pelos
óculos da providência divina, dizendo que elas, longe de destruí-lo,
contribuíram para o progresso do evangelho.
Paulo, um embaixador em cadeias
Paulo jamais se considerou prisioneiro de César, mas
prisioneiro de Cristo. Jamais murmurou atribuindo a Satanás suas cadeias.
Embora Satanás tenha intentado contra ele, nunca Paulo o considerou como o
agente de seus sofrimentos. Quem estava no comando de sua agenda não era o
inimigo, mas Deus. Paulo não acreditava em casualidade nem em determinismo. Ele
sabia que a mão da Providência o guiava até mesmo na prisão. Ele foi
perseguido, odiado, caluniado, açoitado, enclausurado, mas jamais viu os seus
adversários como agentes autônomos nessa empreitada. Ele sempre olhou para os
acontecimentos na perspectiva da soberania e do propósito de Deus.
Considerava-se embaixador em cadeias. Estava preso, mas a Palavra de Deus
estava livre. Paulo considerava o evangelho mais importante que o evangelista;
a obra, mais importante que o obreiro. A divulgação do evangelho é mais
importante que o mensageiro. Por isso, na prisão Paulo foca sua atenção na
proclamação do evangelho, e não em si mesmo. Não importa se o obreiro vive ou
morre,desde que o evangelho seja anunciado (Fp 1.20). Porque ele estava preso,
três coisas maravilhosas aconteceram:
Em primeiro lugar, a igreja tornou-se mais ousada para
pregar. Eis o testemunho do veterano apóstolo: “e a maioria dos irmãos,
estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a
palavra de Deus” (Fp 1.14). A perseguição não pode destruir a obra de Deus.
Pelo contrário, ela a promove. A igreja de Deus jamais foi destruída por
tribulações e cadeias. As cadeias de Paulo foram um tônico para a igreja,
combustível para alimentar a evangelização.
Em segundo lugar, toda a guardapretoriana conheceu o
evangelho. Paulo faz o seguinte registro: “de maneira que as minhas cadeias, em
Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os
demais” (Fp 1.13). A guarda pretoriana era corporação de elite do palácio do
imperador. Era a guarda de escol do império, a guarda imperial de Roma. Era a
tropa de elite instalada no palácio do imperador. Tratava-se de soldados que
transitavam no palácio e cuidavam da proteção do próprio imperador. Foi
instituída por Augusto e compreendia um corpo de 10 mil soldados escolhidos.
Augusto a havia mantido dispersa por toda a Roma e aldeias. Tibério a
concentrou em Roma, em um edifício especial com um campo fortificado. Vitélio aumentou
o número dessa guarda para 16 mil. Ao final de dezesseis anos de serviço, esses
soldados recebiam a cidadania romana. Essa guarda passou a ser quase o corpo de
guarda privado do imperador. Nos dois anos em que Paulo ficou preso em Roma,
aproveitou o ensejo para evangelizar cada soldado encarregado de sua segurança.
O rodízio dessa guarda era um verdadeiro campo missionário para o embaixador em
cadeias. Ao cabo de dois anos, toda a guarda pretoriana e todos os demais
ouviram as boas-novas do evangelho. Dia e noite, durante dois anos, Paulo era
preso a um soldado dessa guarda por uma algema. Visto que cada soldado cumpria
um turno de seis horas, a prisão de Paulo abriu caminho para a pregação do
evangelho no regimento mais seleto do exército romano, a guarda imperial.
Paulo, no mínimo, podia pregar para quatro homens todos os dias. Toda a guarda
pretoriana sabia a razão pela qual Paulo estava preso, e muitos desses soldados
foram alcançados pelo evangelho. O resultado é que Paulo encontrou um campo aberto
para a evangelização dentro do próprio palácio. Quando escreveu sua carta aos
filipenses, ao remeter saudações à igreja de Filipos, os crentes de Roma enviam
saudações àquela igreja coirmã, e Paulo assim escreve: “Todos os santos vos
saúdam, especialmente os da casa de César” (Fp 4.22).
Em terceiro lugar, Paulo escreveu cartas que abençoam o
mundo. Porque Paulo estava preso, impedido de visitar as igrejas, escreveu
cartas. Porque ele era prisioneiro de Cristo (Ef 3.1; 4.1) e embaixador em
cadeias (Ef 6.20), pastoreou as igrejas a distância por meio de suas missivas.
Essas epístolas (Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom) são verdadeiros
tesouros que têm edificado a igreja e fortalecido os cristãos ao longo dos
séculos. Certamente o que mais contribuiu para o progresso do evangelho foram
essas cartas que Paulo escreveu da prisão. Elas são luzeiros a brilhar. Têm
sido instrumento para levar milhões de pessoas a Cristo e edificar o povo de
Deus ao longo dos séculos.
Dessa prisão, Paulo saiu. E, ao sair, visitou as igrejas,
deixando Timóteo em Éfeso, Tito em Creta, e percorrendo outras regiões, sempre
levando a edificação ao povo de Deus. Alguns escritores pensam que nesse tempo
Paulo também visitou a Espanha.
No espaço entre sua primeira e segunda prisões, Paulo
escreveu duas cartas pastorais: a primeira carta a Timóteo e a carta a Tito,
nas quais orientou seus cooperadores como proceder na igreja de Deus.
O velho apóstolo era como uma vela acesa: brilhava com a
mesma intensidade até acabar. Paulo era um homem incansável, um espírito
irrequieto, um evangelista superlativo, um pregador incomparável. Depois de
plantar igrejas nas quatro províncias romanas – Galácia, Macedônia, Acaia e
Asia Menor -, deixa também sua marca na igreja de Roma, ainda que recolhido a
uma prisão.
Paulo não granjeou riquezas, mas enriqueceu muitos. Paulo
não tinha nada, mas possuía tudo. Paulo não teve filhos naturais, mas gerou
milhares de filhos espirituais. Paulo não se casou, mas orienta em suas cartas
milhões de casais ainda hoje. Suas cartas inspiradas são monumentos da graça.
Seu exemplo, um legado para a igreja em todos os tempos. Suas cadeias, fonte de
inspiração para todos os cristãos. Sua morte, uma oferta de libação ao Senhor.
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