APRENDENDO COM JESUS - MULTIDÕES E DISCÍPULOS
Em Mateus
16, do verso 13 ao 20, Jesus, enquanto caminhava para Cesaréia, aldeia ao norte
da Galiléia, administrada por Filipe, perguntou aos seus discípulos sobre o que
o povo pensava dele. Queria saber que identidade lhe atribuíam.
A gente
sempre se relaciona com o outro a partir da identidade que lhe atribuímos,
independente dessa identidade atribuída corresponder ou não com a identidade
assumida pelo outro.
O povo
atribuiu ao Senhor a identidade de profeta. É verdade que o compararam aos
profetas mais contundentes que Israel já conheceu: Elias, Jeremias e João
Batista. Mas profeta.
O povo
errou, entretanto, Jesus não fez nenhum comentário. O povo não sabia quem era
Jesus, mas não se importava muito com isso, porque buscava o que Cristo lhes
pudesse fazer, não, necessariamente, o que tivesse a lhes dizer. Tanto que
Jesus teve de orientar os discípulos a ter sempre um barquinho à mão caso ele
fosse comprimido pelo povo (Mc 3.9,10). Porque, como o povo percebera que
bastava tocar em Jesus para ser curado, muitos arrojavam-se sobre ele para o
tocar. Iam ao encontro de Jesus para buscar uma benção. De fato, ao invés de
irem ao encontro de Jesus, iam lhe de encontro. Jesus, então, foi obrigado a se
proteger do povo que queria abraçar.
Acho que
podemos chamar a esse ajuntamento de A Igreja da Multidão. A igreja que não
sabe quem é Jesus, só sabe e só se importa em saber o que Jesus lhe pode fazer,
como lhe pode ser útil.
Hoje, cada
vez mais, há igrejas que parecem ter o mesmo perfil da multidão: sua mensagem
acaba por incentivar um relacionamento utilitário com Jesus.
Em
contrapartida há a Igreja dos Discípulos. Pedro, à mesma pergunta,
respondeu: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Resposta perfeita,
porque diz que Jesus era o Messias esperado, mas era mais do que se esperava,
pois aguardava-se o maior de todos os profetas (era o que criam os mestres de
Israel na época), entretanto, Deus mesmo veio em carne e osso para salvar a
humanidade.
Essa Igreja
sabe quem Jesus é. E o sabe porque o próprio Pai o revelou, como afirmou Jesus
a Pedro. A Igreja dos Discípulos é a Igreja que o Pai deu para o Filho, porque
pertence a ela aqueles a quem Jesus, pelo Pai, foi apresentado (Jo 6.44).
A Igreja dos
Discípulos sabe que a única maneira de relacionar-se corretamente com Jesus é
através da adoração. A um líder a gente segue; a um chefe a gente obedece; a um
profeta a gente ouve; de um mestre a gente aprende; a Deus a gente adora. Essa
é a Igreja que o Filho edifica, porque esta fica sobre a Pedra, que é Jesus
reconhecido como Deus que veio em carne e osso para nos salvar.
E como nos
ensinou o apóstolo Paulo, adorar a Jesus é imitá-lo (1Co 11.1). E isso é fruto
do desejo de ser igual a Jesus, e quanto mais a gente anda em direção a esse
desejo, mais o Espírito Santo o torna realidade em nossas vidas (2 Co 3.18).
A Igreja da
Multidão está à cata das bênçãos. Do tipo que até o adversário pode dar.
A Igreja dos
Discípulos está à cata das palavras de vida eterna; essas que só Jesus tem (Jo
6.68).
A Igreja da
Multidão busca crescer a todo custo, e para isso lança mão de todo e qualquer
esquema.
A Igreja dos
Discípulos vai buscar as ovelhas de Cristo, as que reconhecerão a sua voz, para
que haja um só rebanho e um só pastor (Jo 10.16); e, para isso insiste na
exposição da verdade que liberta.
A Igreja da
Multidão promete o fim do sofrimento e bênçãos materiais.
A Igreja dos
Discípulos promete a vida abundante e a ressurreição.
A Igreja da
Multidão convoca indivíduos a serem individualistas: a terem tudo o que, pela
fé, possam conseguir.
A Igreja dos
Discípulos convoca indivíduos a serem pessoas comunitárias: a doarem tudo o que
a fé, que liberta das posses, permite doar.
A Igreja da
Multidão exorta as pessoas a desfrutarem o mundo.
A Igreja dos
Discípulos exorta as pessoas a, irmanadas, transformarem o mundo.
A igreja dos
Discípulos está querendo mais da vida de Jesus para, na vida, ser cada vez mais
como Jesus.
Cada pessoa
que se diz seguidora de Cristo; cada pessoa que se considera pregadora do
evangelho; cada comunidade que se diz cristã precisa se submeter a esse
gabarito, para descobrir de que referencial faz parte, ou de qual se aproxima
mais: da Igreja da Multidão ou da Igreja dos Discípulos.
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