segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

APRENDENDO COM SAUL (PARTE 4)

A timidez de Saul

O caso mais dramático de TIMIDEZ é o de Saul.

1Samuel 10.20-24


Tendo Samuel feito todas as tribos de Israel se aproximarem, a de Benjamim foi escolhida. Então fez ir à frente a tribo de Benjamim, clã por clã, e o clã de Matri foi escolhido. 


Finalmente foi escolhido Saul, filho de Quis. Quando, porém, o procuraram, ele não foi encontrado. Consultaram novamente o Senhor:

-- Ele já chegou?

E o Senhor disse:
-- Sim, ele está escondido no meio da bagagem.
Correram e o tiraram de lá. Quando ficou em pé no meio do povo, os mais altos só chegavam aos seus ombros. E Samuel disse a todos:
-- Vocês vêem o homem que o Senhor escolheu? Não há ninguém como ele entre todo o povo.
Então todos gritaram:

-- Viva o rei!
(1Samuel 10.20-24)
Saul era um escolhido por Deus, era alto e bonito. Assim mesmo se escondeu na bagagem, certamente por se achar incapaz para aquela tarefa.
É provável que Saul tenha carregado este estigma toda a vida. Se não, como explicar, sua reação diante do fiel Davi? 

Não tinha ele uma auto-estima tão baixa que via no amigo um inimigo?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

APRENDENDO COM JESUS

O último sábado e o 1º domingo de Lucas


Neste semestre estou a ler a Bíblia, novamente, na Linguagem de Hoje. Nestes dias concluí Lucas. Notei como ele mostra Jesus em conflito com a liderança judaica e com os grandes temas do judaísmo. Ele se atrita com os fariseus e exibe absoluto desinteresse pela guarda do sábado. Mais de uma vez Lucas o mostra transgredindo o sábado, bezerro de ouro do judaísmo e de seitas cristãs.  O templo, o sábado e as festas judaicas não o atraíam.
A última menção de Lucas ao sábado é em 23.56: “E no sábado elas descansaram, conforme a Lei manda”. No versículo seguinte, surge outro dia: “No domingo bem cedo…” (24.1). É quando o mundo vai mudar. Jesus ressuscitou. E segue: “Naquele mesmo dia…” (24.13). E outra aparição dominical de Jesus (“Enquanto estavam contando isso, Jesus apareceu…”- 24.36). 
O último sábado de Lucas é um dia de tristeza. O domingo é o dia de alegria. Desde então, o domingo é o dia do Senhor, guardado pela igreja. Ela se reunia neste dia para celebrar a ceia (At 20.7) e separava as ofertas (1Co 16.2). “O Didaqué”, obra cristã datada do primeiro século, espécie de catecismo da igreja primitiva, exorta os cristãos a se reunirem no domingo (Didaqué 14.1). 
Não é verdade que Constantino mudou o dia de culto e forçou as igrejas a aceitá-lo. Tal afirmação é ignorância histórica e má fé. Ao adotar o cristianismo, Constantino oficializou na esfera civil o que os cristãos haviam feito na esfera religiosa. O domingo é marca cristã.
A guarda do domingo não sucedeu por causa de Constantino. Na epístola aos Magnesianos (datada do ano 107), Inácio de Antioquia declarou, em 9.1: “Assim os que andavam na velha ordem das coisas chegaram à novidade da esperança, não mais observando o sábado, mas vivendo segundo o dia do Senhor”. 
Os adventistas fazem grande alarido pelo sábado, devido ao ensino da Sra. White. Segundo um ex-adventista, a assembléia da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Dallas, Texas, EUA (em 1980), declarou-a como “inspirada no mesmo sentido em que o são os profetas da Bíblia” e que, “como mensageira do Senhor, seus escritos são uma continuação e fonte autorizada de verdade…”. Eles seguem sua papisa.
O domingo é o dia do Senhor. Não é dia de churrascos, de idas a pesqueiros, sítios e banhos. É  dia para ser dedicado à adoração comunitária, ao congraçamento com os irmãos. Não é para gastar em deleites, mas para uso na obra de Deus.
 Voltaire, pensador francês, combatedor do cristianismo, disse: ”Para destruir o cristianismo é preciso destruir primeiramente o domingo”. Algumas seitas combatem o domingo, mas alguns cristãos destroem-no com sua conduta no domingo.
O domingo não é seu, meu irmão. É o dia do Senhor. Use-o para o Senhor. Congregue-se, sirva, regozije-se com os irmãos. Não o profane.
Pr Isaltino Gomes

APRENDENDO COM PAULO (PARTE 12)

Paulo, homem


A Bíblia apresenta vários exemplos de homens e mulheres de Deus que passaram por momentos de fraqueza e abalo emocional. Numa época em que muitos se apresentam como supercrentes e falsas teologias enganam tanta gente, que tal aprendermos algo mais com um deles?

A tristeza de PauloEm sua epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo descreve como se sentia em relação à incredulidade de seus compatriotas judeus: “Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne” (Rm 9.1-3).[1] 

Aos coríntios ele diz que não se apresentaria a eles como da primeira vez, ou seja: “Isto deliberei por mim mesmo: não voltar a encontrar-me convosco em tristeza” (2Co 2.1). No entanto, é provável que a mais impressionante passagem bíblica sobre tristeza de Paulo tenha sido em prol de Epafrodito, seu colaborador na igreja de Filipos: “Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. Por isso, tanto mais me apresso em mandá-lo, para que, vendo-o novamente, vos alegreis, e eu tenha menos tristeza” (Fp 2.27,28). “(…) os crentes filipenses e o próprio apóstolo sentiriam profundamente a perda daquele fiel servo de Deus. (…). Vemos, pois, que Deus respeita os sentimentos humanos corretos, o que não é uma bênção pequena”.[2]

O medo de PauloO apóstolo Paulo já vinha sofrendo várias ameaças e perseguições em sua obra missionária. Foi assim em Damasco, Jerusalém, Antioquia da Síria, Icônio, Listra, Filipos, Tessalônica, Beréia, como em tantos outros lugares que ele ainda passaria. Contudo, é em Corinto que o medo do apóstolo fica evidente, a ponto de Lucas relatar: “Teve Paulo durante a noite uma visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade. E ali permaneceu um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus” (At 18.9-11). 
Algo semelhante foi dito por Deus ao jovem Jeremias: “Não temas diante deles, porque eu sou contigo para te livrar, diz o SENHOR” (Jr 1.8; cf. 1.19). Em sua primeira epístola aos CoríntiosPaulo declara: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós” (1Co 2.1-3). “Os termos temor tremor estão relacionados às inúmeras ameaças políticas e sociais que Paulo teve de enfrentar”.[3]

O desencorajamento de PauloNão é o mesmo que covardia, mas abatimento da alma. O desencorajamento deste gigante da fé aparece após ele ser preso em Jerusalém e fazer sua defesa perante o povo e o Sinédrio. “Na noite seguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma” (At 23.11). Estava Paulo deprimido, desanimado e apreensivo com que o aguardava pela frente? A palavra de ordem “Coragem!” sugere tudo isso. “Jesus usou esse termo [coragem] muitas vezes durante seu ministério terreno. 
Por exemplo, quando andou sobre as ondas do lago da Galiléia e os discípulos ficaram cheios de medo, ele lhes disse que tivessem coragem (Mt 14.27; Mc 6.50). Aqui em Jerusalém, Jesus encoraja Paulo a ser destemido”.[4] Uma experiência de abatimento semelhante a de Paulo foi vivida por Josué, o sucessor de Moisés. O Senhor falou a Josué e o animou (Js 1.1-9). David Livingstone, após sofrer um ataque de leão numa de suas jornadas na África, disse que sua motivação em continuar na obra missionária era a promessa de Jesus: “… E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20).[5]

O desespero de PauloEm sua segunda epístola aos Coríntios o apóstolo diz: “Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida” (2Co 1.8). 
Paulo nunca escondia suas fraquezas, pelo contrário, ele não queria que os irmãos ignorassem a natureza das tribulações que vieram sobre ele e aos demais missionários na Ásia. Bem diferente dos “apóstolos” defensores da Confissão Positiva que afirmam que se um crente sofre e se desespera é porque não tem fé em Deus ou está em pecado. 
Muitos desses modernos fariseus quando ficam doentes inventam mentiras somente para não aparecer debilitados em público e, assim, contradizer a falsa doutrina que eles defendem. “O risco que Paulo correu foi tão grande que ele o descreve como um fardo extremamente pesado que ele não era capaz de suportar fisicamente. Mais do que isso, espiritualmente lhe faltava a força necessária e ele entrou num estado de desespero (contrastar com 4.8). 
Ele já esperava o fim de sua vida terrena a não ser que o próprio Deus interviesse e, por assim dizer, o trouxesse de volta dos mortos”.[6] Deus não nos promete um caminho suave, mas garante nossa chegada segura.

 Pr. Josivaldo F.  Pereira 

APRENDENDO COM JUDÁ

Qual o sentido real de “Siló” em Gn 49.10?


Gênesis 49.10 é o verso de uma das estrofes das profecias de Jacó, a respeito de seus doze filhos. De Judá se fala nos v. 8-12. Essa tribo é apresentada em termos que dão ideia de elementos bélicos, quando lemos, por exemplo: “a tua mão estará sobre a cerviz de teus inimigos” (v. 8), e Judá é leãozinho […] como leão […] quem o despertará?’ (v. 9). O v. 10 enfatiza o papel futuro de Judá como líder real sobre todas as demais tribos de Israel e, possivelmente, sobre nações estrangeiras também.
Lemos o seguinte: “O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre os seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos” [‘ammîm]. Há grande ênfase na bravura militar e no status real dessa tribo estabelecida como a principal, havendo afirmação clara de que esse aspecto de realeza prossiga até o aparecimento da figura-chave a que se dá a denominação de Siló. O cetro e o bastão de legislador estarão nas mãos dessa tribo até que venha o pacificador.
Surge, porém, a pergunta: Quem é, ou que é Siló? O Targum aramaico traduz o v. 10 assim: “Até que venha o Messias, a quem pertence o reino”. Parece que isso identifica um título do Messias, mas aponta também para uma interpretação desse nome que envolve a frase “quem a ele” ou “a quem”.  A Septuaginta, que data do século III a.C.,  traduz assim essa cláusula: “Até que venha as coisas que foram preparadas (apokeimena) para ele”. Isto contém a sugestão de que Siló era interpretado como se houvesse uma pontuação vocálica diferente, isto é,  sellô(“alguém a quem”). As traduções do gego, de Aquila e Simaco, do segundo século d.C.  redundaram num texto mais sucinto: “aquele para quem se estocou”, ou “se reservou”, usando-se o mesmo verbo grego, mas na forma apokeitai.
Não podemos encerrar esta temática sem mencionar antes uma passagem paralela bastante intrigante de Ezequiel 21.27 que aparentemente se refere a Gênesis 49.10:  “Ao revés, ao revés, ao revés porei aquela coroa, e ela não mais será, até que venha aquele a quem pertence de direito; a ele a darei”.  [ Jerusalém prestes a ser atacada por Nabucodonozor em 586 a.C ]. Também isto não existirá mais [ ou “não acontecerá (ló hayah)], até que venha aquele a quem pertence o direito; e a ele a darei”. 
Na declaração de Ezequiel encontramos hammishpat (“o direito de julgamento”), substituindo o conceito de “cetro” em Gn 49.10. Portanto, se Ezequiel 21.27 tenciona edificar sobre o alicerce de Gn 49.10 e revelar sua aplicação última ao Messias – como é que parece aplicar-se em Ezequiel – que descenderá da casa real de Judá, estaremos pisando em solo firme ao interpretar Gn 49.10 como sendo referência ao Filho divino, Jesus Cristo, o descendente messiânico de Davi. 
Pr Marcelo Oliveira

APRENDENDO COM ABRAÃO (PARTE 5)

Era a hora mais quente do dia



O SENHOR Deus apareceu a Abraão no bosque sagrado de Manre. Era a hora mais quente do dia, e Abraão estava sentado na porta de sua barraca” 
(Gênesis 18.1, NTLH).
  “Era a hora mais quente do dia”. Que poesia! Que sensibilidade!  É um momento crucial na vida de Abraão. Se o cenário e o momento chamam a atenção, todo o enredo fascina. É um diálogo entre Abrão, três homens e Sara, que entra atrasada na conversa. Era um dia quente e era a hora mais quente do dia. Um momento desconfortável.

Abraão oferece um banquete aos homens (vv. 7-8), que ele chama de “um pouco de comida” (v. 4), e em baixo de uma árvore. Era mesmo um dia quente, e uma hora quente. Um dia para não fazer nada. Tanto que Abrão estava “tomando a fresca”. Manhã calorenta, hora de desânimo. Deus chega com uma grande promessa: “No ano que vem eu virei visitá-lo outra vez. E nessa época Sara, sua mulher, terá um filho” (v. 10). O redator da história, que não duvido ser Moisés, deixa claro que a promessa era pra lá de absurda: “Abrão e Sara eram muito velhos, e Sara já havia passado a idade de ter filhos” (v. 11). Carrega nas tintas.
Num dia muito quente, numa hora muito quente, num momento próprio para não fazer nada, Deus faz. Faz promessa. Sara está atrás da cortina, que servia como porta de entrada da tenda. Certa vez preguei um sermão nesta passagem, “Ouvindo atrás da porta”. Falei de Sara. Ela ouviu atrás da porta. Mas também falei de Deus, que respondeu do outro lado da porta.
O texto é, literariamente, muito agradável. Cheio de detalhes curiosos. O relato é minucioso, assim produzido para ter ar de veracidade. Ler o texto até o versículo 18 é se deliciar com o estilo do autor e com os detalhes que ele revela. Há algumas lições aqui, muito ricas, e que nada têm a ver com a mensagem que preguei, baseada neste texto.
A primeira lição é a graça de Deus que ignora barreiras geográficas e atropela o paganismo. Deus vem a Abraão na hora mais desconfortável do dia, hora de cansaço, hora da sesta amapaense, e aceita a hospitalidade de Abraão. Este mora no “bosque sagrado de Manre” (v. 1), terra de pagãos. Deus vem aos seus no meio dos pagãos. Foi a Daniel, a Sadraque, Mesaque e Abdênego. Ele se chega aos seus, no cansaço e no ambiente hostil. Não importa onde estejam, e que horas sejam. Ele chega.
A segunda é a receptividade que devemos ter para com as visitações de Deus. Abraão recebeu com a típica hospitalidade dos orientais do deserto. Deu um banquete e ainda chamou de “pouca comida”. Não se ensoberbeceu. Seu muito era pouco. Tanta gente se envaidece quando Deus a visita! Ou conta vantagens a Deus! Ele oferece muito e diz que é pouco! Há gente que oferece um misto quente e pensa que ofereceu um banquete.
A terceira é a desconfiança. Sara ficou escondida. No Oriente Antigo, mulher não aparecia assim em público. Hoje, a situação seria chauvinista: “Isso é conversa de homem!”. Mas ela não crê na promessa. Abraão nunca diz nada. Ele sempre aceita. Sara desconfia. Este é o problema de quem ouve atrás da porta: nunca pega a conversa por inteiro. Há gente atrás da porta, ouvindo a Palavra de Deus. Pega as coisas pela metade ou não vê, como no caso de Sara, a expressão da fisionomia do mensageiro de Deus. Fica mal informada. Pode até ouvir bem. Mas não com os ouvidos da fé.
A quarta é que Deus não aceita a dúvida. “Por que Sara riu?” (v. 13). Talvez ele diga a muitos de nós: “Por que você não acredita?”. Ele nos vê mesmo quando estamos escondidos atrás da porta. Não aceita que duvidemos, e reafirma sua promessa: “E nessa época Sara terá um filho” (v. 13).  Nossas dúvidas não o desviam de seu propósito. Seu poder é maior que nossa dúvida e sua determinação de agir na história não depende de ninguém. Ele não precisa de nossa aprovação.
A quinta é o medo: “Ao escutar isso, Sara ficou com medo e quis negar” (v. 15). Agora ela viu que não era gente comum que estava com Abraão. É gente que ouviu seu íntimo. A dúvida gera o medo. O medo gera a mentira. Deus não aceita medo nem mentira: “Não é verdade; você riu mesmo” (v. 15). Ele não “deixa barato”. Declara nosso pecado. Principalmente o pecado de não crer e suas conseqüências, como o medo.
Talvez hoje seja um dia muito quente para você. Um momento desconfortável na sua vida. Do ponto de vista espiritual e emocional, talvez o dia lhe seja mais quente que a sensação térmica da minha abandonada, mas amada Macapá, com seus 43 graus. Não fique prostrado! Não se deixe abater! Lembre-se de como começou nossa história. No momento mais quente do dia, na hora de maior desconforto, “ele olhou para cima e viu três homens, de pé na sua frente” (v. 2). Quem sabe o que se passava pela cabeça de Abrão! O tempo passava, ele e a estéril Sara envelheciam, e nada do herdeiro prometido. Na hora do desconforto e do cansaço, Deus chegou.
É a hora mais quente do dia para você? Levante seus olhos! Olhe para cima! Deus está chegando!
Pr Isaltino Gomes

APRENDENDO COM HEMÃ

O SALMO MAIS TRISTE DA BÍBLIA


Hemã, filho de Joel, foi um dos músicos do templo durante o reinado de Davi (1 Cr 6.33; 2 Cr 35.15) e é o candidato mais provável à autoria deste salmo. A segunda opção é Hemã, filho de Maol, um dos sábios durante o reinado de Salomão (1 Rs 4.31). Os termos hebraicos mahalat e leannoth significam “enfermidade” e “para cantar” ou “para humilhar”, respectivamente. É provável que a primeira palavra se refira a uma melodia triste para acompanhar esse cântico melancólico, enquanto a segunda palavra pode identificar o propósito do salmo: nos humilhar diante do Senhor.

Este é o último salmo dos “filhos de Corá” e, talvez, o cântico mais lastimoso de todo o livro. No texto hebraico, o salmo termina com a palavra hoshek, “trevas”, e não encerra com um tom de triunfo, como acontece com outros salmos que começam com sofrimento e perplexidade. Este salmo fala de trevas (vv. 1,6,12,18), da vida à beira da morte (vv. 5,10,11), da sensação de estar afogando (vv. 7,16,17), da solidão (vv. 5,8,14,18) e da prisão (v. 8).

Hemã era um servo de Deus que experimentava sofrimento intenso, sem compreender o motivo de sua aflição. Ainda assim, perseverou em suas orações a Deus e não abandonou a sua fé.

Buscando o ETERNO pela fé (Sl 88.1,2) – A vida de Hemã não havia sido fácil (v. 15), agora, torna-se ainda mais difícil, a ponto de ele sentir que está à beira da morte (vv. 3,10,11). Mas ele não desiste! Continua confiando em Deus, ao qual se dirige como “Senhor”, quatro vezes nesta oração (vv. 1,9,13,14). Iavé é o nome do Senhor que enfatiza sua relação de aliança com seu povo, e Hemã era um filho dessa aliança. Ele também se dirige ao Senhor como “Deus Elohim” – designação que expressa seu poder.
A expressão “Deus da minha salvação” indica que Hemã havia confiado que o Senhor o salvaria, e o fato de orar dessa maneira mostra que sua fé ainda está viva. Em três ocasiões, o texto diz que ele clamou ao Senhor e, para isso, são usadas três palavras diferentes: verso 1 – “um clamor por socorro em meio a grande aflição”; verso 2 – “um grito alto”; verso 13 – “um clamor de angústia”. A oração de Hemã é fervorosa. Ele crê que Deus pode ouvir suas súplicas e fazer maravilhas (vv. 10,12), um Deus que o ama e que é fiel a seu povo (v.11).

Dizer ao ETERNO como nos sentimos (vv. 3-9) – Não há lugar para a hipocrisia na oração pessoal. Um dos primeiros passos para o reavivamento é a mais completa transparência ao orar e a determinação de não dizer ao Senhor coisa alguma que não seja verdadeira e sincera. Hemã confessa que sua alma “está farta de males” e que se sente como um “morto-vivo”. Não tem forças e se sente abandonado pelo Senhor.
Hemã, também diz ao Senhor que Ele é responsável pelos males que aflige seu servo! A mão de Deus o colocou na cova (sheol), e a ira de Deus flui sobre ele como as ondas do mar. Ele não tem riquezas, não tem luz, não tem amigos – e sente como se não tivesse Deus! É um prisioneiro sem qualquer esperança de escapar. Como Jó, Hemã deseja saber o motivo desse sofrimento que lhe sobreveio.

Defender nossa causa diante do ETERNO (vv. 10-14) – O argumento de Hemã é simplesmente de que sua morte privará Deus da grande oportunidade de demonstrar seu poder e glória. Que serventia Hemã teria para o Senhor no sheol? Os espíritos dos falecidos não se levantam no mundo dos mortos para obedecer às ordens do Senhor (cf. Is 14.9-11), mas Hemã pode servir ao Senhor na terra dos vivos (cf. Sl 30.8-10). Antes de ir ao santuário para auxiliar no culto, Hemã ora pedindo que o Senhor conceda restabelecimento e forças, e, no final de um dia atarefado, volta a orar.
Durante seu ministério diário, ouve a benção sacerdotal: “O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha  misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz” (Nm 6.24-26), mas não recebe! Sente-se rejeitado e sabe que o rosto de Deus não está voltado para ele. Ainda assim, ele continua orando!

Esperar pela resposta do ETERNO (vv. 15-18) – Não sabemos o que foi essa aflição que lhe sobreveio ainda em sua juventude, mas é triste pensar que sofria todos os dias e o dia todo (vv. 15-17). Nem sequer conseguia se lembrar de uma época em que desfrutasse de boa saúde. Os vagalhões que quase o afogam (v. 7) transformaram-se em ondas abrasadoras de tormento (v. 16).
A escuridão é sua amiga, pois o esconde dos olhos daqueles que observam seus sofrimentos e talvez digam (como fizeram os amigos de Jó): “Deve ter pecado grandemente para que o Senhor o aflija de tal modo!”. Mas ele continua orando e buscando o socorro de Deus!
“Embora ele me mate, ainda assim esperarei nele” (Jó 13.15). “Eu creio que verei a bondade do Senhor na terra dos viventes. Espera pelo Senhor, tem bom ânimo, e fortifique o seu coração; espera, pois, pelo Senhor” (Sl 27.13,14). O ETERNO sempre tem a última palavra, e ela não será “trevas”. Quando estamos em trevas, não devemos jamais duvidar daquilo que o Senhor nos ensinou na luz.
Pr Marcello Oliveira

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

APRENDENDO COM NAAMÃ (PARTE 2)

Naamã: ensinado pelos servos

Passados aproximadamente 200 anos, surgiu, na região da Síria, um grande homem chamado Naamã, que era de muito respeito por ser um valente de guerra. Ele, que era um herói nacional e estava acostumado a ser tratado com reverência e consideração, construiu essa imagem por ter agido bravamente e obtido muitas conquistas no campo de batalha. 
Podemos imaginar quantas vezes ele retornou para ser aclamado pela multidão em Damasco depois de conquistar grandes vitórias para sua nação. Naamã era muito especial, literalmente falando. Contudo, quando tudo parecia estar indo bem, ele notou uma marca branca em sua pele: os pri­meiros sinais de lepra!
Mal sabia ele que o Onipotente, o Senhor de Israel, já tinha determinado uma série de acontecimentos que lhe dariam algo mais maravilhoso do que quaisquer riquezas e toda fama que o mundo já lhe havia oferecido: o conhecimento de Deus. 
A história, na verdade, começou algum tempo antes, quando as tropas sírias haviam seqüestrado uma garotinha judia e levaram-na para a Síria a fim de servir a esposa de Naamã. Simpatizando com a condição de seu novo senhor, a jovem escrava mencionou que havia um profeta em Israel que poderia sará-lo. O grande general, desesperado por um milagre de cura, foi forçado a receber instruções de uma criada! Esse foi o primeiro de muitos degraus que aquele orgulhoso guerreiro estava descendo.
Em uma grande demonstração de pompa e arrogância, o poderoso homem aparece com seu grupo de soldados e chega ao humilde lar do profeta Eliseu. Naamã era acostumado com a atitude de seus subalternos - como este profeta judeu - de se curvarem ante a sua presença, em sinal da mais profunda reverência. Para sua surpresa, Eliseu sequer saiu da casa para cumprimentá-lo. Em vez disso, enviou seu servo com uma simples mensagem: Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás purificado (2 Rs 5.10b). O comentário do púlpito descreve sua reação:
O general sírio tinha imaginado uma cena bem diferente. "Pensava eu que ele sairia a ter comigo, por-se-ia de pé, invocaria o Nome do Senhor, seu Deus, moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso". Naamã tinha imaginado uma grande cena, onde ele seria o personagem central, o profeta descendo, provavelmente com uma varinha mágica, com os ajudantes posicionados ao redor, os tran­seuntes parando para observar - uma invocação solene da deidade, um poder mágico movendo-se em suas mãos, e a cura imediata, ocorrida nas ruas da cidade, diante dos olhos dos homens, no barulhento centro da cidade [...] Em vez disso, ele foi orientado a voltar como tinha vindo, cavalgar cerca de 32km até o rio Jordão, geralmente lamacento ou, pelo menos, sem cor, e banhar-se, sem qualquer pessoa para ver, exceto seus próprios ajudantes, sem importância, pompa ou circunstância ou glória alguma.9
Por causa de sua grandiosa imaginação de como aconteceria sua cura, Naamã ficou extremamente furioso com esse tratamento: Não são, porventura, Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar purificado?, ele se indignou (2 Rs 5.12a). Esse foi um momento crucial. Se tivesse permitido que a raiva afetasse sua resposta, ele poderia ter feito algo sem pensar, como tentar agredir Eliseu, que poderia facilmente clamar fogo do céu para destruir toda a sua tropa (2 Rs 1.9). Porém, alguns dos servos vieram falar-lhe e ponderaram com ele: Meu pai, se o profeta te dissera alguma grande coisa, porventura, não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: Lava-te e ficarás purificado (2 Rs 5.13b).
Nada disso fez sentido para a mente racional de Naamã, mas, mesmo assim, sua grande necessidade o fez humilhar-se e obedecer às palavras daquele profeta que tanto o havia desrespeitado. Ele fez a viagem de duas horas até o rio Jordão e se lavou sete vezes. Depois de ter mergulhado a sétima vez no rio sujo, conforme o homem de Deus havia prometido, a lepra tinha desaparecido totalmente. Assim como o único leproso purificado que voltou para agradecer a Jesus, Naamã retornou a Samaria para expressar sua gratidão a Eliseu. Dessa vez, não havia qualquer indício de ego insuflado ou do desdém soberbo que ele havia mostrado anteriormente. Ele era um homem mudado que, naquele momento, havia experimentado a bênção da humildade.
Há um grande número de coisas importantes que podemos aprender dessa experiência humilhante de Naamã. A mais óbvia é que, quando ele tinha tudo caminhando da forma esperada, não sentiu a necessidade de procurar um relacionamento com o Altíssimo, e isso não é diferente hoje, mesmo com os crentes. A ausência de problemas tende a deixar as pessoas orgulhosas e auto-suficientes. Então, em Sua misericórdia, o Senhor permite que a adversidade aconteça em nossa vida para que tenhamos sempre a consciência da necessidade de Sua ajuda (Sl 119.67,71).
É também interessante como o altivo general sírio teve de receber constantemente orientações de seus escravos. Primeiro, a pequena escrava disse-lhe onde procurar pelo poder de cura. Eliseu mandou seu escravo, Geazi, dar as instruções da restauração. Por último, quando Naamã ficou nervoso, seu próprio servo teve de lhe mostrar a sabedoria necessária para decidir o que fazer. O fato da questão é a verdade que servos têm muito mais facilidade de entender o Senhor, pois o Reino de Deus é fundamentado na servidão. Eles têm uma singela forma de pensar que os ricos e poderosos não compreendem.
Podemos observar também como a maneira de Deus agir é muito diferente da do homem. O Senhor deu a Naamã uma simples tarefa para executar: Lava-te e ficarás purificado. Em nosso orgulho, queremos fazer alguma coisa que nos torne merecedores daquilo que estamos pedindo a Deus. "Se eu jejuar por 40 dias, certamente, Deus irá libertar-me," é a maneira que geralmente pensamos. 
Mas pensar dessa forma é perder totalmente o foco da questão central: desenvolver a humildade e uma dependência do Senhor. Indivíduos imaturos, autocentrados, em geral, querem fazer algo grande que eles possam apontar como a razão para a oração atendida. Em vez de dar a glória a Deus, a pessoa a clama para si. No caso de Naamã, se lhe tivesse sido pedido que fizesse algo extraordinário a fim de receber a cura, ele teria voltado para a Síria tão arrogante como sempre e mais longe ainda do Altíssimo.
Finalmente, os sete mergulhos de Naamã no rio Jordão na frente de toda a tropa é uma linda ilustração de como o Senhor ajuda as pessoas a se rebaixarem. Cada vez que ele mergulhava, aproximava-se mais um pouquinho do conhecimento do Todo-Poderoso. 

Depois de receber toda a água dos sete mergulhos, ele estava suficientemente humilde para que enxergasse O mais humilde de todos. Isso, simples­mente, não seria possível se não experimentasse essas humilhações repetidas. Esse é o caso dos cristãos hoje em dia. Quando o Senhor permite que uma pessoa seja humilhada de alguma forma, o Seu desejo é sempre que ela tenha um conhecimento maior de Jesus.
Muitos poderiam pensar que seria impossível para um homem egoísta e orgulhoso como Naamã aproximar-se de Deus. Contudo, o Senhor sabe exatamente como atender à necessidade de cada um. No caso de Naamã, foram necessárias as ordens de três escravos e muitos mergulhos no rio Jordão para quebrantá-lo! Mas esse era um homem que estava sendo atraído para o Senhor.

Um homem orgulhoso humilhando-se é uma coisa maravilhosa no Reino de Deus.

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APRENDENDO COM JABES

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