segunda-feira, 18 de julho de 2022

APRENDENDO COM PAULO (PARTE 62)

 UM RETRATO BRUTAL DA VIDA DE PAULO 

O primeiro esboço da vida de Paulo (a quem conhecemos, a princípio, como Saulo de Tarso) é tanto brutal como sangrento. Se um artista fosse pintá-lo com pincel e tinta a óleo, nenhum de nós iria querer pendurá-lo em nossa sala. O homem parece mais um terrorista do que um seguidor dedicado do judaísmo. Para nosso horror, o sangue do primeiro mártir espirrou sobre as roupas de Saulo, enquanto ele ficou ali, concordando com aquilo tudo, cúmplice de um crime medonho. Quem era esse mártir?

Estêvão. Um jovem cristão que morava em Jerusalém, descrito em Atos 6 como “cheio de graça e poder” (v. 8), que falava com sabedoria por unção do Espírito (v. 10), cujo semblante era “como se fosse rosto de anjo” (v. 15). Mesmo assim o apedrejaram. Foi assassinado a sangue frio.

Os membros do Sinédrio (chamado de Conselho, no Livro de Atos, em algumas versões da Bíblia), desprezaram Estêvão por causa da sua firme defesa de Cristo. Eles se recusaram a continuar ouvindo seu discurso veemente e, furiosos, o levaram para a rua, pela porta norte, até a periferia da cidade. Ali o apedrejaram, com pedras grandes e agudas, até que caiu e morreu. Saulo, observando todo o episódio, ficou em meio à multidão que gritava, tomando conta dos mantos dos assassinos de Estêvão. Ele, sem dúvida, deve ter rido com prazer sádico.

Eugene Peterson, em sua obra The Message, parafraseia a cena: Gritando e assobiando, a multidão caiu sobre ele. Então, em massa, arrastaram Estêvão para fora da cidade e o apedrejaram.

Os líderes tiraram os mantos e pediram a um jovem chamado Saulo para vigiá-los.

Enquanto as pedras choviam, Estêvão orou: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito!”. Depois ajoelhou-se orando em voz alta o suficiente para todos ouvirem: “Senhor, não lhes imputes este pecado!” - foram suas últimas palavras. A seguir, morreu. Saulo estava ali, parabenizando os assassinos.

Durante a nossa vida, adotamos naturalmente uma imagem cristianizada do apóstolo Paulo. Afinal de contas, foi ele o autor das duas cartas aos Coríntios. Escreveu Romanos, a carta magna da vida cristã. Redigiu a carta libertadora aos Gálatas, exortando-os, e também a nós, a uma vida na liberdade provida pela graça de Deus. E as “epístolas da prisão”... e as cartas pastorais, tão cheias de sabedoria, tao ricas de significado. Ora, baseado em tudo isso, você poderia achar que o homem amou o Salvador desde o berço. Nada disso.

Ele odiava o nome de Jesus a tal ponto que se tornou um agressor violento e declarado, perseguindo e matando cristãos por dedicação ao Deus dos céus. Por mais chocante que pareça, nunca devemos esquecer a cova de onde ele veio. Quanto mais compreendemos a escuridão do seu passado, tanto mais entenderemos sua gratidão pela graça.

O primeiro retrato da vida de Paulo pintado nas Sagradas Escrituras não é o de uma criancinha embalada amorosamente nos braços da mae. Também não mostra um rapazinho judeu saltando e brincando com os amigos da vizinhança nas ruas estreitas de Tarso. O retrato original não é sequer o de um jovem e brilhante estudioso da lei sentado fielmente aos pés de Gamaliel. Essas imagens só deturpam a nossa visão, levando-nos a pensar que ele teve um passado de livro de contos de fadas.


Em vez disso, o encontramos pela primeira vez como simplesmente “um jovem chamado Saulo”, participante do assassinato brutal de Estêvão e que “consentia na sua morte (At 7:58; 8:1).

Esse é o Paulo que precisamos ver para apreciar a gloriosa verdade das cartas do Novo Testamento que escreveu. Não é de admirar que mais tarde ele viesse a ser conhecido como “o apóstolo da graça”. Na verdade, quando verificamos como era o ambiente de seu nascimento e infância, descobrimos que não era marcado por ira nem por violência. A vida para Paulo começou, na verdade, muito pacificamente.

 

LUGAR NEM UM POUCO INSIGNIFICANTE

“Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilicia”, Paulo anunciou, certa vez, numa demonstração magistral de modéstia ao expor sua situação. Um estudo acurado da antiga cidade de Tarso revela que a cidade natal de Paulo não era um simples ponto no mapa, mas uma metrópole movimentada de cultura multiforme e comércio internacional. Sua localização estratégica explica a sua importância e sucesso. Cilicia era uma província na extremidade sudeste do que era então chamado Ásia Menor. Hoje faz parte da moderna Turquia.

Ali você encontra Tarso, localizada no coração da província da Cilicia - lugar de nascimento de Saulo. A cerca de 19 km das praias resplandecentes do Mediterrâneo, Tarso é rodeada pela cadeia de Montanhas Taurus - montes escarpados e altaneiros que vão do litoral até o norte, constituindo um vasto escudo protetor ao redor da cidade. Em vista de estar próxima a um porto de mar, Tarso tornou- se uma via comercial muito usada pelas caravanas que levavam suas mercadorias do Oriente, no Leste, até Roma, no Oeste. A viagem exigia que passassem pelos Portais da Cilicia uma impressionante seqüência de passagens estreitas lavradas através das Montanhas Taurus acima de Tarso.

Saulo foi nutrido com a nata de todo esse diversificado e rico caldo cultural e comercial, enquanto ele crescia na cidade fascinante em que nasceu. Embora órfão de mãe aos nove anos, como filho de um proeminente fabricante de tendas, Saulo tornou-se beneficiário de uma herança religiosa e intelectual igualmente rica. John Pollock, autor de The Apostle: A Life ofPaul, descreve habilmente os aspectos dos primeiros anos da vida e educação de Saulo: Os pais de Paulo eram fariseus, membros do partido mais fervoroso do nacionalismo judaico e severo na obediência à lei de Moisés.

 

Eles buscavam proteger seus filhos da contaminação. Amizades com crianças gentias eram desencorajadas. As idéias gregas eram também desprezadas. Embora Paulo soubesse falar grego desde a infância, a língua franca, e tivesse algum conhecimento de latim, sua família falava em casa o aramaico, a linguagem da Judéia, um derivado do hebraico.

 

Eles consideravam Jerusalém como os muçulmanos consideram Meca. Seus privilégios como homens livres de Tarso e cidadãos romanos não eram nada frente à elevada honra de serem israelitas, o povo da promessa, os únicos a quem o Deus vivo revelara a sua glória e os seus planos...

No seu décimo terceiro aniversário, Paulo dominava a história judaica, a poesia dos salmos, a literatura majestosa dos profetas. Seus ouvidos foram treinados à perfeição, e um cérebro ágil como o seu podia reter o que ouvia tão automática e fielmente quanto a “mente fotográfica” moderna


retém uma página impressa. Ele estava pronto para uma educação superior.1

Isso aos treze anos. Pollock continua: Um fariseu rígido não iria confundir o filho com filosofia moral pagã. Portanto, provavelmente no ano em que Augusto morreu, 14 d.C., o adolescente Paulo foi enviado por mar à Palestina e subiu os montes até Jerusalém.

Durante os cinco ou seis anos seguintes, ele sentou aos pés de Gamaliel, neto de Hillel, mestre supremo, que alguns anos antes morrera com mais de cem anos. Sob o frágil e amável Gamaliel, um contraste com os líderes da rival Escola de Shammai, Paulo aprendeu a dissecar um texto até que vários significados possíveis fossem revelados segundo a opinião abalizada de gerações de rabinos [...] Paulo aprendeu a debater no estilo perguntas-e-respostas, conhecido no mundo antigo como “diatribe”, e a expor, pois um rabino não era só parte pregador, como também parte advogado, que processava ou defendia os que quebravam a lei sagrada.

 

Paulo superou seus contemporâneos. Tinha uma mente poderosa que poderia levá-lo a uma cadeira no Sinédrio, na Galeria das Pedras Polidas, e torná-lo um “principal dos judeus”.2

Saulo esperava ansiosamente o dia em que se tornaria membro do Tribunal Supremo dos Judeus, chamado então de Sinédrio. Juntos, aqueles setenta e um homens administravam a vida e a religião judia sentados em bancos curvos numa sala de tribunal — exatamente o lugar onde tinham ouvido Estêvão fazer sua corajosa, embora fatídica, confissão de fé.

Saulo, agora um advogado bem-sucedido nos tribunais movimentados de Jerusalém, fizera provavelmente parte da audiência maior que ouvira a defesa de Estêvão. Ele mal tinha idéia, então, de como Deus usaria os eventos que levaram e que se seguiram à morte do jovem discípulo para mudar dramaticamente sua vida e causar impacto sobre a história religiosa.

CHARLES SWIDOLL

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