quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

APRENDENDO COM RUTE

 

APRENDENDO COM RUTE

 

AS LÁGRIMAS

 

 

Preocupação com as coisas comuns (1:1)

Nos dias em que julgavam os juizes ...um homem.

 

Em um mundo dominado (se acreditarmos nos meios de comuni­cação) pela "crise" e pêlos "desafios", no qual cada pequeno aconteci­mento pode ser transformado em manchete, contanto que haja nela uma "história interessante" (e até mesmo em uma igreja, onde o incomum e espetacular costuma ser recebido por certas pessoas como mais autêntico que a monotonia e a rotina), é um alívio abrir o livro de Rute.

 

Já descrevemos a agradável simplicidade de seus assuntos: a vida do interior, suas alegrias e tristezas, suas "virtudes agradáveis" e, especialmente, sua concentração nos personagens à volta dos quais se tece a história.

 

Isto se destaca mais ainda pelo contraste com o livro dos Juizes, com o qual as palavras iniciais estabelecem uma ligação. O livro de Juizes termina com uma referência ao caos social e à miséria pessoal resultantes da falta de autoridade justa entre o povo: "Naqueles dias não havia rei em Israel: cada um fazia o que achava mais reto."

 

 O livro de Juizes foi pintado numa tela grande. Embora apareçam no livro personagens individuais, sempre surgem no contexto da guerra civil, das convulsões nacionais, dos assuntos internacionais.

 

Mas o livro de Rute, embora não fique totalmente esquecido do significado nacional, e até mesmo global, dos seus personagens, trata de um < homem, sua família e seu destino. Lembra-nos de que o Deus das nações também está interessado nas coisas comuns relacionadas a "um homem".

 

Nosso Senhor, que nos ensinou a orar ao "nosso Pai que está no céu" e a elevar nossos corações e mentes para a visão global da vinda do seu reino (pois seu é o reino e a glória para todo o sempre), também nos ensinou a orar pelo pão nosso de cada dia. Deus, que sabe quando um pardal cai ao chão e que nota quando oferecemos um copo de água fresca a quem precisa dele,2 também se interessa pelas coisas comuns. Como Helmut Thielicke o destaca:

 

 

Diga-me até que ponto você considera Deus sublime e eu lhe direi quão pouco ele significa para você. Este pode ser um axioma teo­lógico. O Deus sublime foi arrancado de minha vida particular... Se Deus não tem significado para as minúsculas peças do mosaico de minha vidinha particular e para as coisas que são do meu interesse, então ele não tem significado algum para mim.

 

O interesse de Deus no destino de um homem nos dias em que julgavam os juizes deveria nos lembrar que até mesmo as nossas coisas mais comuns são significantes para Deus e se encaixam no seu cuidado todo-poderoso.

 

ASAS DE REFÚGIO

 

Graça e gratidão

 

O segredo (2:1)

Tinha Noemi um parente de seu marido, senhor de muitos bens, da família de Elimeleque, o qual se chamava Boaz.

 

Enquanto a maior parte das histórias de detetives guarda seu segredo até a última página, o escritor de Rute nos revela um segredo bem no começo deste capítulo.

 

Ao fazê-lo, ele nos dá mais uma indicação do propósito geral deste livro e de sua preocupação em não nos deixar ignorantes a respeito dele. A esta altura da história, nem Noemi nem Rute sabiam que não muito longe de sua casa morava um homem de considerável riqueza e influência que era seu parente, ou melhor, parente do falecido marido de Noemi.

 

O dia da vida de Rute contido em Rute 2:1-22 é o dia em que ela vem a conhecer esse homem, Boaz. No final do dia, depois do trabalho, ela conta a Noemi o que aconteceu. Só então ela percebe o verdadeiro significado do seu encontro (2:20). Até então, Rute não havia notado que o encontro não fora acidental, mas parte do propósito de um Deus cheio de graça e cuidado.

 

Mas nós, os leitores, somos informados sobre Boaz neste primeiro versículo. Com esta informação, nosso contador de histórias está nos preparando pelo seguinte motivo: quando, mais tarde, Rute vem a conhecer Boaz de um modo que lhe parece puramente acidental, nós já estaremos informados. Por trás dos aparentes acasos dos encontros comuns do dia-a-dia, Deus expressa o seu cuidado e a sua determi­nação providencial, a sua graça da aliança.

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