APRENDENDO COM RUTE
AS LÁGRIMAS
Preocupação com as coisas comuns (1:1)
Nos dias em que julgavam os
juizes ...um homem.
Em um mundo dominado (se
acreditarmos nos meios de comunicação) pela "crise"
e pêlos "desafios", no qual cada pequeno acontecimento pode ser transformado em manchete, contanto que haja nela uma
"história interessante" (e até mesmo em uma igreja, onde o incomum e espetacular costuma ser recebido por
certas pessoas como mais autêntico que a monotonia e a rotina), é um alívio
abrir o livro de Rute.
Já descrevemos a agradável
simplicidade de seus assuntos: a vida do interior, suas
alegrias e tristezas, suas "virtudes agradáveis" e, especialmente, sua concentração nos personagens à volta dos quais se tece a história.
Isto se destaca mais ainda pelo
contraste com o livro dos Juizes, com o qual as
palavras iniciais estabelecem uma ligação. O livro de Juizes termina com uma referência ao caos social e à miséria pessoal resultantes da falta de autoridade justa entre o povo:
"Naqueles dias não havia rei em Israel: cada um fazia o que
achava mais reto."
O livro de
Juizes foi pintado numa tela grande. Embora apareçam no livro personagens
individuais, sempre surgem no contexto da guerra civil, das convulsões nacionais, dos assuntos internacionais.
Mas o livro de Rute, embora não fique totalmente esquecido do significado nacional, e
até mesmo global, dos seus personagens, trata de um < homem, sua
família e seu destino. Lembra-nos de que o Deus das nações também está
interessado nas coisas comuns relacionadas a "um homem".
Nosso Senhor, que nos ensinou a
orar ao "nosso Pai que está no céu" e a elevar nossos
corações e mentes para a visão global da vinda do seu reino (pois seu é o reino e a glória para todo o sempre), também nos ensinou a orar pelo pão nosso de cada dia. Deus, que sabe quando um pardal cai ao chão e que nota quando oferecemos um copo de água fresca
a quem precisa dele,2 também se interessa pelas coisas comuns. Como Helmut Thielicke o destaca:
Diga-me até que ponto você
considera Deus sublime e eu lhe direi quão pouco ele significa para você. Este
pode ser um axioma teológico. O Deus sublime foi
arrancado de minha vida particular... Se Deus não tem
significado para as minúsculas peças do mosaico de minha vidinha particular e para as coisas que são do meu interesse, então ele não tem significado algum para mim.
O interesse de Deus no destino de um homem nos
dias em que julgavam os juizes deveria nos
lembrar que até mesmo as nossas coisas mais comuns são
significantes para Deus e se encaixam no seu cuidado
todo-poderoso.
ASAS DE
REFÚGIO
Graça e gratidão
O segredo (2:1)
Tinha Noemi um parente de seu marido, senhor de
muitos bens, da família de Elimeleque, o qual se chamava Boaz.
Enquanto a maior parte das histórias de detetives
guarda seu segredo até a última página, o
escritor de Rute nos revela um segredo bem no começo deste capítulo.
Ao fazê-lo, ele nos dá mais uma indicação do propósito geral deste livro e de sua
preocupação em não nos deixar
ignorantes a respeito dele. A esta altura da história, nem Noemi nem Rute sabiam que não muito longe de sua
casa morava um homem de considerável
riqueza e influência que era seu parente, ou melhor, parente do falecido marido de Noemi.
O dia da vida de Rute contido em Rute 2:1-22 é o dia em que ela vem
a conhecer esse homem, Boaz. No
final do dia, depois do trabalho, ela conta a Noemi o que aconteceu. Só então ela percebe o verdadeiro significado do seu encontro (2:20). Até então, Rute não havia notado
que o encontro não fora acidental,
mas parte do propósito de um Deus cheio de graça e cuidado.
Mas nós, os
leitores, somos informados sobre Boaz neste primeiro versículo. Com esta
informação, nosso contador de histórias está nos preparando pelo seguinte motivo: quando, mais tarde,
Rute vem a conhecer Boaz de um modo que lhe
parece puramente acidental, nós já
estaremos informados. Por trás dos aparentes acasos dos encontros comuns do dia-a-dia, Deus expressa o seu cuidado
e a sua determinação providencial, a sua graça da aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário