quinta-feira, 16 de julho de 2015

APRENDENDO COM ELIAS (PARTE 2)


ELIAS, O DESTEMIDO PROFETA DE DEUS

A vida de Elias ensina-nos que a determinação, isto é, a disposição firme de servir a Deus e cumprir o seu ministério é qualidade indispensável para alcançarmos a vitória espiritual.
 
INTRODUÇÃO

- O grande profeta levantado por Deus no reino de Israel (o reino do norte, o reino das dez tribos), entrava num momento de grave crise espiritual.

BIOGRAFIA DE ELIAS (I) – ELIAS, O PROFETA QUE APRENDE A TER EXPERIÊNCIA PESSOAL COM DEUS

- Elias é daquelas personagens da Bíblia de que nada ou quase nada sabemos antes do início do seu ministério, circunstância que demonstra claramente que a Palavra de Deus tem o intuito de revelar aquilo que é pertinente à salvação do homem, sendo, obviamente, uma obra literária, histórica e científica, mas que não tem estes vieses como prioritários, sendo, pois, um grande equívoco querer reduzir o texto sagrado a estes aspectos.

- Elias surge nas páginas sagradas em I Rs.17:1 e de forma repentina, sem qualquer explicação, nem mesmo da sua genealogia, como é costumeiro fazer-se quando se trata, pelo menos, de personagens da história de Israel. 

É apresentado apenas como “Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade”. Seu nome, que, em hebraico é ‘Eliáhu” (“Elias” é a forma grega do nome), significa “Javé é Deus” e sintetiza, de forma sublime, todo o seu ministério profético: demonstrar ao povo do reino de Israel que o seu Deus é Javé, o mesmo “Eu sou o que sou” que havia Se revelado a Moisés no monte Horebe.

- Da forma abrupta como Elias é apresentado no texto sagrado, ficamos a saber tão somente que o profeta é natural de Tisbe, sendo dos moradores de Gileade. 

Esta informação, além de escassa, traz uma série de problemas aos estudiosos da Bíblia, visto que a única menção que se faz desta cidade é no livro apócrifo de Tobias, onde é dito que se tratava de uma cidade que se situava na tribo de Naftali, na região da Galiléia, enquanto que o texto sagrado diz que Elias era “dos moradores de Gileade”, ou seja, alguém que morava na região daquém do Jordão, pertencente à meia-tribo de Manassés e à tribo de Gade (Js.13:24,25,30,31). 

Assim, ficamos sem saber se Elias morava em Gileade, tendo sido natural de Tisbe de Naftali ou se era de uma cidade chamada Tisbe que ficasse do outro lado do Jordão, na região de Gade ou da meia-tribo de Manassés. 

Flávio Josefo, o grande historiador judeu, parece concordar com a idéia de que se tratava de uma cidade de Gileade que se chamava Tisbe, enquanto que a Septuaginta chama a cidade de “Tisbe da Galiléia”, acolhendo a outra versão.

- Além do local de onde vem Elias, e que já dá margem a controvérsias, sobre Elias ficamos apenas a saber que se tratava de pessoa que tinha um traje característico, diferente daqueles usados pelas pessoas de seu tempo, tanto que bastava a descrição desta vestimenta para identificá-lo, a saber: “…um homem vestido de pêlos e com os lombos cingidos de um cinto de couro…” (cf. II Rs.1:8). 

Isto nos dá a entender que Elias deveria ter uma vida mais ou menos retirada da comunidade, uma espécie de “eremita” no deserto, o que, aliás, inspirou algumas ordens religiosas cristãs, notadamente a ordem dos “carmelitas”, que se inspiraram em Elias para construir a sua vida monástica.

- No entanto, embora Elias demonstre, pelos seus trajes e pela forma repentina com que se apresenta na história sagrada, que deveria viver um tanto quanto retirado da comunidade, não é correto dizer que haja respaldo bíblico para dizer que vivia isolado dos demais homens do seu tempo. 


Pelo que podemos observar do texto sagrado, percebemos que Elias tinha uma relação bem próxima aos chamados “filhos dos profetas”, ou seja, aos jovens que se dedicavam ao estudo da Palavra de Deus e a uma vida de serviço ao Senhor nas “escolas de profetas”, cuja origem remonta aos tempos de Samuel (I Sm.10:5; 19:20). 

Com efeito, as páginas sagradas permitem-nos vislumbrar que Elias tinha um estreito relacionamento com estes grupos (II Rs.2:2, 4), sendo até possível que Elias tenha sido uma figura proeminente de tais grupos quando se apresentou ao rei Acabe, o que, aliás, explicaria a facilidade com que tenha conseguido se apresentar ao rei.

- Apesar de tão parcos conhecimentos a respeito de Elias antes do início do embate com Acabe, Jezabel e os responsáveis pelo culto de Baal, tais informações já nos são preciosas no sentido de se mostrar que alguém, para ser usado eficazmente pelo Senhor, precisa ter dois pontos que havia na vida de Elias: um distanciamento do mundo e um comprometimento com a Palavra de Deus.

- Elias não era uma pessoa que havia se misturado com as estruturas religiosas desvirtuadas e contaminadas do reino de Israel. Nos dias de Elias, vivia Israel uma situação espiritual extremamente difícil. O rei era Acabe, filho de Onri, o fundador da terceira dinastia (família real) do reino de Israel, o reino do norte, o reino das dez tribos que haviam se separado de Roboão, neto de Davi (cf. I Rs.12:16-25). 

Esta terceira família reinante não se apartou do pecado de Jeroboão, o primeiro rei de Israel (reino do norte), que havia criado um culto próprio, fazendo sacerdotes dos mais baixos entre o povo, e levando o povo a adorar dois bezerros de ouro, um situado em Dã e outro em Betel (cf. I Rs.12:26-33), tendo, além disso, Acabe se casado com Jezabel, filha do rei de Sidom, que, ao se mudar para Israel, trouxe com ela o culto a Baal, o deus da fertilidade dos fenícios, criando, assim, um culto rival ao culto a Deus.

- Servir a Deus nestas circunstâncias não era nada fácil, pois, ou se adotava o culto oficial do reino, criado no tempo de Jeroboão, idolátrico e totalmente desvirtuado das prescrições da lei de Moisés ou, então, se aderia ao culto a Baal, trazido por Jezabel e que alcançou grande popularidade. Isto explica o distanciamento físico não só de Elias mas também dos filhos dos profetas, que não tinham espaço para, com liberdade, servir a Deus em meio a estruturas sociais altamente desfavoráveis a quem buscasse a presença do Senhor.

- Mas, ainda que possamos contemplar este distanciamento físico de Elias e dos demais que serviam a Deus naquele tempo, devemos ter como lição para os nossos dias deste comportamento do profeta não o distanciamento físico, mas, sim, o distanciamento espiritual. 

Embora muitos tenham se inspirado em Elias para tomar uma decisão de se apartar da sociedade a fim de servir a Deus, a lição que o profeta nos deixa é bem outra: é a da separação do mundo espiritual, da separação do pecado. Na nova aliança estabelecida por Jesus Cristo, não há espaço para “eremitas”, para pessoas que saem da sociedade para servir a Deus mas, sim, pessoas que, a exemplo de Jesus, estão completamente separadas do pecado, mas vive no meio dos pecadores, para “…salvar alguns, arrebatando-os do fogo” (Jd.23 “in initio”, isto é, a parte inicial do versículo). 

Jesus disse que não somos do mundo, não podemos nos comprometer com ele (Jo.17:16), mas não pediu que do mundo fôssemos tirados(Jo.17:15), porque é necessário que sejamos sal da terra e luz do mundo (Mt.5:13,14).

- A outra lição que aprendemos com Elias, já neste instante em que ele surge nas Escrituras, é de que devemos estar sempre comprometidos com o estudo da Palavra de Deus, com a busca da presença de Deus. Elias tinha um carinho especial com os “filhos dos profetas”, com aqueles que, em meio a um mundo tão distante de Deus, dedicavam suas vidas para servir ao Senhor e informar-se a respeito da Sua Palavra. 

Devemos ter este mesmo compromisso, devemos nos aliar àqueles que têm este mesmo propósito. Ao nos reunirmos em classe, a cada Escola Bíblica Dominical, pomos em prática este exemplo deixado por Elias e, certamente, agradamos a Deus tanto quanto o profeta Lhe agradou no seu tempo.

- Elias surge no texto sagrado já desempenhando uma tarefa toda especial da parte de Deus. As Escrituras sempre mostram Elias na execução de uma tarefa, no desempenho de um encargo que lhe fora confiado pelo Senhor. Neste ponto, há até um paralelo entre a forma como se narra a história de Elias e como Marcos, o evangelista, narrou o ministério de Jesus, que, naquele livro, é apresentado como o incansável servo do Senhor, como um homem de ações e de atitudes.

- Impulsionado pelo Espírito de Deus, Elias se apresenta diante do rei Acabe e declara que não haveria nem chuva nem orvalho enquanto o próprio profeta não o pedisse a Deus(I Rs.17:1). Numa frase tão curta e sucinta, como é este versículo das Escrituras, encontramos um exercício imenso de fé, a conclusão de um processo que não deve ter sido simples.

Elias, um profeta que vivia retirado da sociedade, é levado pelo Espírito a se apresentar nada mais nada menos que diante do próprio rei e a dizer que haveria uma grande seca até o instante em que ele pedisse a Deus que chovesse. Que coragem da parte do profeta! Que determinação, ou seja, que disposição firme de cumprir a Palavra de Deus!

- Aliás, aqui é oportuno mostrar que, quando se diz que Elias foi determinado, que nele era grande a determinação, estamos a utilizar a palavra “determinação” no seu significado correto e prescrito nos dicionários de língua portuguesa, ou seja, “forte inclinação a ser persistente no que se quer alcançar”. Assim, esta “determinação” nada tem que ver com o que têm ensinado os defensores da chamada “doutrina da confissão positiva”, entendida como uma “fé real”, uma “tomada de posse de bênção”, uma “exigência ao inimigo para nos obedecer”. 

Elias jamais foi alguém que tenha “determinado” neste sentido distorcido que nos é apresentado pelos arautos da “confissão positiva”, mas uma pessoa “determinada”, ou seja, disposta a persistir no cumprimento das ordens que lhe deu o Senhor.

- Elias simplesmente disse ao rei Acabe que não choveria nem haveria orvalho enquanto ele não orasse a Deus neste sentido. Nesta primeira palavra de Elias já se nota a missão que incumbiria ao profeta: mostrar que o Senhor era o verdadeiro Deus e não Baal. Baal era uma divindade que se entendia ser a controladora da natureza. 

A Baal se atribuía a fertilidade, ou seja, não só a reprodução dos animais, mas também a produção agrícola. Por isso, Baal era tido como o responsável pelas chuvas que permitiam as fartas colheitas e era costume entre os povos cananeus, inclusive os fenícios, procurar agradar a Baal e ter pequenas estatuetas deste deus e de Asera, a deusa da fertilidade, como forma de obter o favor deste deus e, assim, prosperidade na colheita. Ao dizer que não choveria até que houvesse um pedido do profeta a Deus, o Senhor está mostrando que é maior que Baal,  que Ele, e não esta falsa divindade, tinha o controle sobre a natureza.

OBS: Como era e é comum nos cultos idolátricos, a divindade é sempre associada a alguma imagem ou a alguns locais. Assim, Baal e Asera eram cultuados sob vários nomes, conforme o local onde se dava o culto, com uma ou outra variação nas crendices e nas lendas a respeito da divindade. Nos dias de Elias, o culto a Baal certamente estava vinculado a Baal-Mecarte, o deus de Tiro e de Sidom (Tiro foi uma cidade fundada pelos sidônios – Is.23:12).

- Assim que proferiu esta palavra ao rei, Elias foi orientado pelo Senhor para que saísse dos termos de Israel e fosse para o ribeiro de Querite, que estava diante do Jordão (I Rs.17:3). Como afirma R.N. Champlin, esta ordem divina tinha a ver com a proclamação dada por Elias e que “…sem dúvida alguma, isso provocou uma tremenda agitação e a vida de Elias começou a correr perigo…” (CHAMPLIN, Elias. In: Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.328).

- Elias, que até então, havia demonstrado dedicação a Deus, vivendo distanciado fisicamente de uma sociedade ímpia e buscando a presença do Senhor, juntamente com os “filhos dos profetas”, passa a ter a experiência da dependência completa de Deus. Denunciar o pecado e anunciar o juízo divino não é uma tarefa fácil e o serviço a Deus traz inevitável aborrecimento do mundo e dos pecadores. 

Não pensemos nós que servir ao Senhor é alcançar popularidade, respeito e medo dos ímpios, mas, bem ao contrário, é acirrar os ânimos das hostes espirituais da maldade contra nós. Deus mandou que Elias fugisse e fosse até um ribeiro, provavelmente situado na região de Gileade, para que ali ficasse protegido e não sofresse os danos da seca que havia anunciado.

- Temos uma outra importante lição, qual seja, a de que Deus é o garantidor do cumprimento da Sua Palavra. Certamente não foi fácil para Elias acatar a ordem divina de desafiar o próprio rei, mas, ao fazê-lo, Deus, que bem sabia os riscos que o profeta passava a correr, encarregou-Se de providenciar ao profeta proteção e sustento, já que o juízo divino afetaria a própria subsistência do povo. 

- Deus passou a sustentar o profeta que, junto a um ribeiro, onde havia água necessária à sua sobrevivência, passou a ser alimentado por corvos, que lhe traziam pão e carne pela manhã e pela noite (I Rs.17:6). 

Como diz o apóstolo Paulo, “…Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias, e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes, e Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são: para que nenhuma carne se glorie perante Ele” (I Co.1:27-29). 

Como poderia Elias ser alimentado por corvos, animais que são conhecidos por serem decompositores, ou seja, que se alimentam daquilo que está apodrecendo, daquilo que está se desfazendo, e num momento em que passou a haver escassez de alimentos? Como ser alimentado por um animal tão asqueroso, tão repugnante? Entretanto, como disse o Senhor, havia sido dada uma ordem aos corvos para alimentar o profeta e, ante a ordem divina, não há como haver recusa.

- Elias, toda manhã e toda noite, era servido pelos corvos, que, pontualmente, cumpriam a ordem do Senhor. Deus, assim, mostrava, duas vezes ao dia, ao profeta que estava no controle de todas as coisas, que toda a natureza estava sob as Suas ordens. Era uma experiência singular para Elias, que tinha de enfrentar o culto a Baal, apresentado como “deus da natureza”. Elias não só deveria saber intelectualmente que Deus era o único Senhor, mas também precisaria vivenciar, experimentar esta realidade. 

Muitas coisas por que passamos, ao longo da vida, tem este objetivo da parte de Deus: fazer-nos vivenciar, experimentar quem é Deus e qual é o Seu poder. Nunca nos esqueçamos de que, quando a Bíblia fala em “conhecer a Deus”, não está se referindo ao significado grego, adotado por nós na atualidade, de “domínio intelectual”, mas, sim, o de “ter intimidade”, “ter experiência”. E, como diz Paulo, a experiência com Deus é o resultado da paciência, que, por sua vez, é conseqüência da tribulação (Rm.5:3,4).

- Dia após dia, Elias era alimentado pelos corvos, mas a seca que anunciara já era uma realidade. Por isso, dia após dia, as águas do ribeiro de Querite iam minguando, até o momento em que o ribeiro secou. Deus continuava a agir na vida de Elias, demonstrando que tinha o controle da situação, mas que estava a guardar o profeta e só a ele. 

Os corvos vinham lhe trazer comida, mas o ribeiro se secava, em cumprimento à palavra do profeta, que tudo dissera em nome do Senhor. Deus tem compromisso com a Sua Palavra (Jr.1:12) e não a invalidará, ainda que isto representasse a proteção e o sustento dos Seus servos fiéis. Deus não precisa invalidar a Sua Palavra para guardar os Seus!

- Quando o ribeiro secou, Deus, então, mandou que o profeta fosse para Zarefate, cidade pertencente a Sidom, pois o Senhor havia ordenado a uma viúva que sustentasse o profeta (I Rs.17:9). Vemos, aqui, que Deus, depois de mostrar que tinha controle sobre a natureza, estava agora a mostrar ao profeta que também era o controlador da humanidade e das estruturas sociais.

- Em primeiro lugar, Deus manda que Elias deixe a região de sua morada, a região de Gileade, região que lhe era conhecida, para que fosse a uma terra estrangeira, um lugar desconhecido, de outros costumes, onde o profeta não poderia se valer de seus conhecimentos de vida. Tratava-se de mais um passo de fé que se exigia do profeta, prova de que Elias havia galgado mais um patamar da vida espiritual. Como diz o apóstolo Tiago, quanto mais nos chegamos a Deus, mais Ele Se chega até nós (Tg.4:8). 

Entretanto, esta aproximação com Deus, que é sempre boa (Sl.73:28), exige de cada um de nós um desprendimento cada vez maior. Quando nos propomos a prosseguir no conhecimento de Deus (e conhecimento, lembremos, na Bíblia é ter intimidade, ter experiência), mais nos envolveremos com o Senhor e isto fará com que necessitemos confiar mais nEle. 

O profeta Oséias ressalta esta realidade ao dizer que, quando iniciamos nosso conhecimento com Deus, Ele nos aparece “como a alva”, ou seja, como a luz da aurora, que traz seu brilho mas é, de certa forma, distante, mas, na continuidade deste conhecimento, o Senhor “…virá a nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Os.6:3 “in fine”), ou seja, já não estará mais distante, estará em nós, envolver-nos-á, como a chuva da época da colheita, a chuva abundante, que tudo molhava, que embebia e encharcava a terra.

- Deus, ao mandar que Elias deixasse sua região e fosse para uma terra estrangeira, estava a mostrar que domina todas as sociedades, todos os povos, que não é apenas um “deus nacional”, como se apresentava Baal-Mecarte, mas o Senhor de toda a Terra (Ex.19:5; Sl.24:1).

- Em segundo lugar, ao mandar que Elias fosse para Zarefate, uma cidade sob o domínio de Sidom, o Senhor dava mais uma demonstração de sua superioridade em relação a Baal. 

Ora, Sidom era, precisamente, o reino que cultuava a Baal-Mecarte. Jezabel era filha do rei de Sidom e, portanto, Deus iria providenciar, nas próprias terras dedicadas a Baal, a sobrevivência do Seu profeta. Deus mostrava que tinha domínio sobre todas as estruturas políticas do mundo, passando a sustentar o Seu profeta na “terra do inimigo”. Por isso, não devemos temer “as investidas do vil Tentador”, porque, mesmo neste mundo que repousa no colo do diabo, quem tem o controle da situação é o nosso Deus. Aleluia!

- Em terceiro lugar, ao mandar que Elias fosse até o encontro de uma viúva, o Senhor também estava a mostrar que tinha pleno controle sobre a situação sócio-econômica das sociedades. Zarefate era uma cidade dominada por Sidom e, já por isso, uma cidade modesta, certamente de parcos recursos, visto que as cidades dominadas por outras eram tributárias, ou seja, deviam pagar pesadas somas periodicamente a seus dominadores. 

Além do mais, tratava-se de uma viúva e as viúvas, via de regra, eram pessoas necessitadas, que se encontram entre os mais desprovidos de recursos econômico-financeiros, que viviam da caridade pública. Entretanto, este Deus que escolhe as coisas loucas para confundir as sábias, fez com que o profeta passasse a ser sustentado, na terra de Sidom, por uma viúva miserável. A cada instante, Elias aprendia o significado do seu próprio nome: “Javé é Deus”.

- Como já havia experimentado a Providência divina, o profeta pôde, com autoridade, mandar à viúva, que encontrou apanhando lenha, que lhe trouxesse um vaso com pouco d’água para que bebesse e, depois, lhe pediu um bocado de pão. Ante a afirmativa da mulher de que não tinha senão o suficiente para uma última refeição, o profeta mandou-lhe que fizesse, primeiro, um bolo pequeno para ele e, depois, então, preparasse alimento a ela e a seu filho, pois, enquanto não chovesse, haveria alimento para eles (I Rs.17:14,15). Elias já sabia que Deus garantiria a sua sobrevivência e se havia ordenado que aquela viúva lhe sustentasse, esta garantia se estendia também a casa dela.

- Mas, as experiências com Deus ainda não haviam cessado. Baal, também, era tido como o deus da saúde. Aliás, em Sidom, Baal era conhecido como Eshmun, o deus da saúde. Deus deveria, pois, demonstrar não só a Elias, mas à própria viúva de Zarefate, que Deus era o Senhor da saúde. Assim, o filho da viúva adoeceu, doença que se agravou e que levou o filho da viúva à morte(I Rs.17:17). Apesar de sustentada pelo poder do Deus dos hebreus, a viúva, ela própria uma gentia, não hesitou em culpar o profeta pela morte de seu filho, como se fosse uma vingança de Baal contra o fato de a viúva estar a acolher um israelita em sua casa.

- Desafiado pela viúva, o profeta demonstrou, uma vez mais, a sua fé. Pediu o corpo do filho e o levou para o seu quarto, onde, em particular, clamou ao Senhor, pedindo que se restituísse a vida ao morto. É interessante notar que, até este instante, não havia qualquer relato de ressurreição de mortos em Israel. Elias será o primeiro a fazer um milagre desta natureza, a revelar como estava alto o seu nível espiritual, como estava a saber quem era Deus e do que Ele era capaz de fazer. 

E a Bíblia nos diz que “o Senhor ouviu a voz de Elias e a alma do menino tornou a entrar nele e reviveu” (I Rs.17:22). O resultado deste milagre foi o reconhecimento, pela viúva, de que “Javé é Deus” e de que Elias era o Seu legítimo profeta (I Rs.17:24).

- O milagre da ressurreição do filho da viúva de Zarefate é o primeiro caso de “ressurreição de mortos” registro nas Escrituras Sagradas e teve como objetivo a glorificação do nome do Senhor e a demonstração de que Ele é o verdadeiro Deus e não Baal, que, como deus da saúde, não tinha podido impedir o filho da viúva de adoecer, nem tampouco pôde restituir a vida ao moço, algo que também era atribuído a Baal, que dizia ser o responsável pelo “renascimento” da natureza após o inverno, após uma luta em que sempre conseguia vencer o “deus da morte”. 

Vemos, assim, que a experiência inédita de Elias tinha como propósito a exaltação do nome do Senhor e a consolidação da necessária experiência pessoal que Elias tinha de ter com Deus, para ter plena certeza de que “Javé é Deus”.

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