Jeremias, o Profeta - aspectos notáveis
O nome Jeremias,
do hebraico “Yirmeyahu”, aparentemente significa “O Senhor Estabelece”.
Segundo Archer, o nome do profeta se relaciona ao verbo “ramah”
(lançar) e pode ser entendido no sentido de lançar alicerces [1]. A
profecia de Jeremias projeta-se sobre o nome do seu autor, como afirma
Ellisen, pois embora suas profecias fossem contestadas, eram Palavras
divinas, sendo que o próprio título anuncia tal certeza [2].
Jeremias nasceu
aproximadamente em 647 a.C., na cidade benjamita de Anatote, terra da
família sacerdotal de Abiatar (1 Rs 2.26), localizada a 5 Km a nordeste
de Jerusalém. Era filho de Hilquias, sacerdote no período da reforma do
rei Josias e bisavô de Esdras (Ed 1.1).
Aproximadamente
em 626 a.C., no décimo-terceiro ano de Josias, Jeremias iniciou o seu
ministério profético quando ainda possuía cerca de vinte anos (1.6),
muito embora fosse vocacionado à profeta desde o ventre materno (1.5).
Resistiu inicialmente
o chamado profético, sua desculpa, segundo Willmington, era em razão de
sua pouca idade [3], entretanto, Harrison acredita que, muito embora o
termo usado possa significar “menino”, “criança” ou “adolescente” (Êx 2.6; 1 Sm 4.21), o termo hebraico quer dizer “jovem” ou “rapaz” [4].
Jeremias profetizou
cerca de quase um século depois de Isaías [5], e ambos levaram
mensagens de condenação ao reino de Judá em decorrência de seu pecado.
Para entendermos um pouco da pessoa e da mensagem de Jeremias, podemos
compará-lo com Isaías, como vários autores modernos têm feito.
Não contraiu matrimônio, pois fora proibido pelo Senhor como sinal à nação (16.2).
Durante cerca de 40
anos (627-586 a.C.) desenvolveu seu ministério profético na capital de
Judá, Jerusalém, e por cerca de cinco anos ministrou no Egito (Jr
43-44). Durante o governo do piedoso rei Josias, cerca de trinta e um
anos, Jeremias não sofreu qualquer tipo de perseguição, uma vez que
mantinha estreitas e amistosas relações com o rei. Na morte do rei
Josias, em Megido, Jeremias compôs uma elegia fúnebre (2 Cr 35.25).
Quanto ao caráter,
Jeremias era meigo, humilde e introspectivo, mas recebeu da parte de
Deus a incumbência de profetizar aos seus contemporâneos. Segundo
Baxter, a figura do profeta impressiona pela perseverante paciência
[id.ibid.].
Quanto ao público,
o profeta Jeremias era impopular. Foi desprezado e perseguido pelos
reis devido à mensagem grave de suas profecias contra a monarquia, os
falsos profetas, os sacerdotes e contra os injustos. Foi acusado de
traição, por ordenar, a mando do Senhor, que Judá se rendesse aos
babilônicos. Contudo, nutria grande afeição pelo seu povo e todas essas
lutas o aproximava cada vez mais de Deus. O livro de Jeremias revela
algo de seus tocantes diálogos com o Senhor (11.18-23; 12.1-6; 15.1-21;
18.18-23; 20.1-18).
Ao que parece, o profeta Jeremias possuía certa condição financeira que possibilitava a compra da fazenda empenhorada de um parente falido.
Durante os quarenta
anos em que profetizou teve pouquíssimos convertidos, e, mui
provavelmente, além de seu amanuense Baruque, não tenha tido
conhecimento de qualquer outra pessoa que tenha acreditado em suas
profecias, a ponto de segui-lo.
As obras da pena de Jeremias,
o livro que leva o seu nome, e Lamentações, não dizem qualquer coisa
concernente a morte do profeta. Aqueles que se propõem a discursar sobre
o tema, apenas apresentam a tradição que atesta a morte do profeta no
Egito, outros na Babilônia por morte violenta, ou na tranquilidade de
sua velhice, entretanto, não sabemos quais dessas tradições são as mais
confiáveis. Porém, podemos citar Francisco que afirma: “o profeta morreu
como viveu: de coração quebrantado, pregando a um povo irresponsável”
[6].
Data e local em que o livro de Jeremias foi escrito
O livro
foi escrito entre 627 a 580 a. C. O ministério de Jeremias teve início
no reinado de Josias e prosseguiu em Jerusalém durante os 18 anos de
reforma e os 22 anos de colapso nacional. Forçado a ir para o Egito com
os rebeldes, profetizou ali 5 anos (44.8).
O que não pode passar desapercebido
quando estudamos o livro do profeta, é que os fatos que constam neste
escrito não estão em ordem cronológica. Os capítulos 35 e 36, por
exemplo, são anteriores ao tempo do capítulo 31. Lembremos que o formato
primitivo dos escritos do profeta Jeremias era o rolo. É provável que
Jeremias e Baruque depois de escreverem uma mensagem, se lembrassem de
outra que havia sido entregue antes daquela já registrada. Assim, era
acrescentada uma nova mensagem à anterior. Essa mistura de mensagens
novas e antigas torna difícil ao leitor saber qual a sequência certa em
que foram entregues.
Contexto histórico e monárquico do livro de Jeremias
Jeremias profetizou cerca de um século após Isaías; seus contemporâneos foram: Sofonias e Habacuque (no começo) e Daniel (mais tarde).
Jeremias
iniciou seu ministério profético no reinado de Josias, mas seu ofício
perpassou o reinado dos últimos cinco reis de Judá (11-3): Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias.
O fato de Jeremias relacionar-se com cinco dos reis de Judá, fornece a
porção essencialmente histórica do seu livro. Vejamos um pouco do
relacionamento de Jeremias com os cinco reis de Judá:
Josias
640 - 609 a.C.
Caps. 1-20
Jeremias
mantinha relações cordiais com Josias e, ao que parece, o ajudou na sua
política reformadora (2 Rs 23.1). O trecho de Jeremias 11.1-8,
refere-se provavelmente ao seu entusiasmo em favor das reformas
implementadas por Josias. Josias foi morto ao oferecer resistência ao
Faraó Neco (610 - 594 a.C.). Jeremias lamentou profundamente a morte do
rei-reformador de Judá (Jr 22.10).
Jeoacaz
609 a.C.
3 meses
Jeoacaz
governou por apenas três meses e nada sabemos a respeito do
relacionamento de Jeremias com esse rei. (Nada foi escrito em seu
tempo).
Jeoaquim
609-597 a.C.
11 anos
Caps. 12.7; 13.27; 21; 25; 27; 28; 33; 35; 36; 45
Jeoaquim
reinou de 608 a 597 a.C. e foi apenas um vassalo do poder egípcio. Esse
rei destruiu as profecias escritas de Jeremias e também permitiu sua
prisão pelos nobres. Chegou a propor a pena de morte a Jeremias (Jr
26.11). Mais tarde foi raptado e levado para o Egito por alguns judeus.
Joaquim
597 a.C.
3 meses
Caps. 13.18 ss; 20.24-30; 52.31-34
Joaquim
sucedeu ao seu pai Jeoaquim no reino de Judá, mas colheu os péssimos
frutos plantados pelos governantes anteriores. Tinha apenas dezoito anos
de idade quando subiu ao trono,
onde permaneceu apenas três meses. Joaquim foi levado para a Babilônia
em decorrência do cativeiro (Jr 13.15-19), e libertado 36 anos mais
tarde pelo filho e sucessor de Nabucodonosor (2 Rs 25.27-30).
Zedequias
597-587 a.C.
11 anos.
Caps. 24; 29; 37; 38; 51.59,60
Zedequias
era o filho mais novo de Josias e foi o último rei de Judá. Governou
por dez anos pagando tributos aos babilônicos e, quando deixou de
pagá-los, firmou um acordo com o Egito. Nabucodonosor ficou furioso e
enviou um exército para destruir a cidade de Jerusalém. Jeremias opôs-se
à rebelião de Zedequias, e por causa do cumprimento de suas predições,
foi acusado de favorecer ao inimigo e lançado na masmorra (Jr 27.1-22)
[7].
Nenhum comentário:
Postar um comentário